Tribuna Ribeirão
Geral

CAPIVARAS NA CIDADE – Reprodução em larga escala

ALFREDO RISK

João Camargo

Em Ribeirão Preto capi­varas são vistas em parques onde há lagos ou ribeirão ou mesmo em avenidas e áreas que são cortadas por córregos. Esses são os am­bientes considerados favorá­veis à espécie. É perceptível o crescimento populacional. Considerado o maior roedor do mundo, o animal chega a pesar 91 kg e medir até 1,2 m de comprimento e 60 cm de altura. Mas não são apenas capivaras que são encontra­das na cidade, outros animais silvestres também. Mas de quem é a responsabilidade por esse controle?

O detalhe é que nos úl­timos tempos têm sido re­gistrados casos envolvendo animais silvestres em meio à população de cidades da re­gião. Os exemplos são mui­tos. No início do ano, uma onça sussuarana foi flagrada por moradores de um condo­mínio residencial localizado em Bonfim Paulista. Em ju­lho, o Parque Olhos D’Água, em Ribeirão Preto, precisou ser interditado devido a uma infestação de carrapatos pro­vocada pelo grande número de capivaras. Mais recente­mente, um lobo-guará foi capturado após invadir uma casa em Barretos.

O biólogo Marcelo Nunes Mestriner aponta causas e consequências da presença de capivaras e outros animais silvestres no ambiente urbano

Para o biólogo Marcelo Nunes Mestriner, um dos motivos dessa presença dos animais nos meios urbanos se dá pelo fato de que, atual­mente, constroem-se casas e condomínios cada vez mais perto de áreas silvestres. A partir disso, se torna cada vez mais frequente o recebi­mento dessas visitas. “Todo mundo acha bacana viver próximo dos animais. A gen­te está sujeito a ter um surto desse tipo, principalmente hoje com essa moda de estar encostado com a vida silves­tre”, comentou.

Com relação às capivaras, o que se percebe é um cresci­mento populacional desenfre­ado na área urbana. Elas vivem em bando que variam de entre 10 e 30 animais e se reprodu­zem durante o ano todo. Ge­ralmente é uma ninhada por ano, mas pode chegar a duas – tendo em média quatro fi­lhotes por vez. O detalhe é que a capivara alcança a ma­turidade sexual com cerca de 1,5 ano de idade. Em Ribei­rão Preto elas são vistas em diversos pontos da cidade.

De quem é a responsabilidade pelo controle?
Questionada sobre esse cenário, a Secretaria Munici­pal do Meio Ambiente pon­tuou, por meio de nota, que os animais silvestres de vida livre são de competência da União, por meio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Reno­váveis (Ibama), e para que seja realizado qualquer estudo e manejo é necessária a anuên­cia e participação do órgão.

Contudo, no caso de capi­varas confinadas, como a si­tuação que ocorre no Parque Olhos D’Água, a Secretaria destacou que “visto que fica­ram presas lá, em ambientes urbanos, a competência é da Secretaria de Saúde do Estado, via Suce- e Secretaria de Infra­estrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo, pelo De­partamento de Fauna”.

Inicialmente, o jornal Tri­buna entrou em contato com o Ibama, questionando mais informações sobre esse con­trole na região, porém, até a publicação desta matéria, não foi obtido retorno.

Já a Secretaria de Estado da Saúde (SES) comunicou que “o trabalho de campo para con­trole da doença [febre macu­losa brasileira, provocada por um carrapato], bem como a investigação de casos, con­forme diretriz do SUS, com­pete aos municípios”.

A Secretaria do Meio Am­biente de Ribeirão Preto in­formou que já se iniciaram os estudos para conter a infes­tação que ocorre no Parque, “visto que dependerá de aná­lises autorizadas e executadas pela Sucen”. A nota completa com a informação que “o mu­nicípio está seguindo o pro­tocolo sanitário do Governo do Estado de São Paulo”.

Impactos
Existem pontos negativos. Nesse caso em específico que ocorre em Ribeirão Preto, das capivaras, o primeiro deles seria pela questão deste ser um animal de porte grande e que pode incomodar e assus­tar as pessoas, segundo o bi­ólogo. O segundo ponto seria o trânsito desses animais que, com certa recorrência, po­dem gerar acidentes em vias municipais e em rodovias.

“Eu já cheguei a presenciar uma família de capivaras atra­vessando uma avenida da cida­de. Também já presenciei uma capivara morta por atropela­mento. Então, a questão do trânsito delas em via pública e possível atropelamento tam­bém se tornam um problema”, pontuou Mestriner.

Além disso, o biólogo des­taca as doenças que isso pode acarretar, sendo uma delas a febre maculosa brasileira. Isso porque, animais como a capivara podem carregar o carrapato estrela (Am­blyomma sculptum), que é o transmissor das bactérias Ri­ckettsia rickettsii e Rickettsia parkeri, causadoras da febre.

“O que podemos dizer so­bre isso é que é uma situação possível. A capivara tem um problema sério em relação a isso, porque é um animal que tem certa tolerância à convivência, tanto com ani­mais domésticos quanto com humanos. É um animal que você não cerca, porque gosta de leito aquático. Além disso, ele é protegido por lei e não tem predadores, por conta disso sua população cresce. Então, o contato com esses animais aumenta”, disse.

Em Ribeirão Preto, con­forme divulgado pela Secre­taria Municipal da Saúde, não foi confirmado caso de febre maculosa em 2021. Já o Centro de Vigilância Epi­demiológica (CVE), da Se­cretaria de Estado da Saúde, informou que, em todo o ano de 2020, foram registrados 82 casos e 44 óbitos por febre maculosa no Estado de SP. Em 2021, até 1º de dezembro, dados preliminares apontam 67 casos e 38 óbitos.

Questionada pelo jornal Tribuna, a Secretaria da Infra­estrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo informou que o manejo reprodutivo das capivaras pode ser autorizado seguindo a Resolução Conjun­ta SMA/SES 01/2016, depen­dendo da classificação de de­terminada área para o risco de febre maculosa.

Essa categorização é rea­lizada pela Superintendência de Controle de Endemias do Estado (Sucen) após sorolo­gia das capivaras e o levanta­mento das espécies de carra­patos que ocorrem na área.

“Já para controlar os car­rapatos é necessário o manejo ambiental por meio do corte de grama, uma vez que as lar­vas dos parasitas são sensíveis ao sol. Além disso, também é indicado o uso regular de me­dicamentos para o controle dos ectoparasitas nos animais domésticos”, completou em nota. O Departamento de Fau­na (DeFau) informou também que diversas espécies de ma­míferos podem carregar o car­rapato-estrela, como equinos, cães, bovinos e capivaras.

Animais como a capivara podem carregar o carrapato estrela (Amblyomma sculptum), que é o trans­missor das bactérias causadoras da febre maculosa brasileira

Cuidados
A Secretaria Municipal da Saúde de Ribeirão Preto sugeriu algumas medidas a serem adotadas para evitar a infestação de carrapatos e os possíveis riscos de infecção de febre maculosa. São elas:
– Manter vigilância constan­te sobre os animais domés­ticos (cães e gatos) que possam estar transportando os carrapatos;
– Aplicar rotineiramente carrapaticidas nos animais domésticos;
– Manter a grama sempre aparada, permitindo a inso­lação da área e consequente dessecação dos carrapatos;
– Sinalizar as áreas de infes­tação por meio de placas de advertência;
– Quando for necessário ca­minhar por áreas infestadas vistoriar o corpo em busca de carrapatos em intervalos de três horas, pois quanto mais rápido for retirado o carrapato menor será o risco de contrair a doença;
– Utilizar barreiras físicas: Uso de roupas claras para facilitar a visualização dos carrapatos, com mangas compridas, calças compri­das, inserindo a parte inferior por dentro das botas, prefe­rencialmente de cano longo e vedadas com fita adesiva de dupla face;
– Caso sejam encontrados no corpo, retirar os carra­patos com auxílio de uma pinça;
– Não esmagar os carra­patos com as unhas, pois pode ocorrer a liberação de bactérias que têm capaci­dade de penetrar através de microlesões na pele. Retirá-los com calma, tor­cendo-os levemente.

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