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Os Desafios de Estudar a Percepção de Tempo (10): Diferenças entre Sexos

Em diferentes áreas de pesquisa, nos variados domínios da Psicologia, é comum encontrarmos diferenças entre os sexos nas repostas afetivas, emocionais, motivacio­nais, sociais e cognitivas. Embora muitos estudos tenham revelado que as diferenças são frequentemente pequenas, as mesmas existem e não podem ser negligenciáveis. Por exemplo, mulheres são melhores que os homens nas tarefas relacionadas a memória episódica, isto é, de relembrar e reconhecer palavras e fatos. Ao passo que, homens são mais proficientes em habilidades espaciais ou em memória operacional visual e espacial. Também, na área de percepção de dor, e nos estudos de habilidades cognitivas, tem sido usual encontrar diferenças entre homens e mulheres, ora homens tendo valores mais elevados, ora mulheres tendo valores menos elevados, e vice e versa, dependendo da área de interesse. Assim, espera-se que, em tarefas relacionadas a duração temporal, haja, também, diferenças relacionadas ao gênero, mas o entendimento das mesmas requer consi­derar alguns detalhes metodológicos.

Segundo Simon Grondin, no livro “The perception of time: your questions answered” (2020), em relação aos julgamentos prospec­tivos, já em 1904, uma pesquisa registrou que as mulheres tendiam, sob várias condições experimentais, a superestimar intervalos de tempo variando de 15 segundos a 1 minuto e meio, muito mais do que os homens. Já no ano 2000, uma meta-análise, que buscou analisar diferenças de sexo nos julgamentos temporais, mostrou que, comparadas aos homens, as mulheres realmente tendem a fazer estimativas verbais de duração maiores que estes. Os autores deste estudo explicaram que tais diferenças nas estimativas verbais devem-se às habilidades das mulheres para prestarem mais atenção no tempo durante um intervalo a ser estimado. Em termos de um relógio interno, mais atenção ao tempo significa acumular mais pulsos.

Tal análise também mostrou que as produções temporais de um dado intervalo feitas pelas mulheres são menores para as mulheres do que para os homens devido ao fato de as mulheres, por sua melhor atenção a tempo, acumularem mais rapidamente o número de pulsos necessários para alcançar a duração tomada como alvo. Todavia, esses resulta­dos são modulados por diferentes fatores. O efeito do sexo parecendo aumentar com o aumento da idade dos participantes e com o número de tentativas requeridas no experimento. Inúmeros outros estudos envolvendo julgamentos prospectivos de estimativa verbal e de reprodução de intervalos registraram que, para intervalos muito grandes, de 1 a 5 minutos, há uma maior subprodução pelas mulheres do que pelos homens.

No caso dos julgamentos retrospectivos, embora o número de estudos seja menos numeroso, um panorama geral das diferenças entre sexos não é muito claro. Novamente, a razão de produção a um alvo é maior para as mulheres do que para os homens, mas este efeito depende do número de eventos contidos no intervalo de tempo a ser estimado, bem como, da complexidade do estímulo ocorrendo durante o intervalo a ser estimado. Também, o atraso entre a apresentação da duração alvo e o momento de quando essa duração pode ser julgada afeta o grau de diferença.

Outro modo de esclarecer os efeitos do sexo sobre a percepção temporal é olhar a influência de certos fatores que podem afetar as mulheres e os homens do mesmo modo. Por exemplo, um estudo investigou intervalos entre 510 e 690 milisegundos que tinham de ser reproduzidos num contexto em que os odores eram prazerosos, desprazerosos ou neutros. Na condição desprazerosos, a reprodução temporal das mulheres foram menos acuradas e mais longas do que aquelas dos homens, este efeito sendo mesmo maior quando a intensidade dos odores foi aumentada. De modo similar, a emoção expressada por uma face, quando a apresentação desta delimita a duração a ser estimada, tem influ­ência sobre a duração a ser percebida. Por exemplo, numa tarefa de bissecção de tempo, a duração da apresentação de faces expressando raiva é julgada ser muito maior do que a duração da apresentação de faces expressando vergonha. Entretanto, esse tipo de efeito depende do sexo da face apresentada e do sexo do participante. Mulheres superestimam a duração da apresentação de faces raivosas quando comparadas à condição de apresentação de faces vergonhosas, mas apenas quando estas faces vergonhosas acompa­nham faces masculinas.

Tomados em conjunto, parece claro que as mulheres superestimam duração mais do que os homens, tanto em condi­ções de julgamentos prospectivos quanto de julgamentos retrospectivos, sendo que tais diferenças podem ser atribuídas à maior eficiência das mulheres em prestarem mais atenção ao tempo, usarem memória episódica e, também, haver diferenças entre os sexos no uso de unidades cronométricas.

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