Por Ana Lourenço
Entre batidas de reggae e MPB, o quinteto Lagum, de Brumadinho (MG), faz sucesso desde 2016 abordando amores efêmeros, futuros incertos, decepções românticas e besteiras já feitas ao longo da vida em canções. De acordo com eles, é essa espontaneidade e liberdade de falar da vida de maneira ritmada que os conecta com o público. E para o novo álbum, Memórias (de onde eu nunca fui), que estreia nesta sexta, 10, nas plataformas digitais, o grupo mostra que a receita continua.
“Esse, assim como o primeiro (Seja o Que Eu Quiser), foi algo feito muito na intuição. Antes, por ser um álbum que a gente não sabia o que esperar do público ou do produto final, até porque era pouco conhecimento e pouca bagagem musical que a gente tinha E nesse deixamos as coisas fluírem. Então se dava vontade de falar coisas engraçadas, trágicas, a gente falava”, conta Pedro Calais (vocal), durante chamada de vídeo com o Estadão ao lado de Francisco Jardim (baixo) e Glauco Borges, conhecido como Jorge (guitarra). Otavio Furtado, o Zani (guitarra), não participou.
Já o quinto integrante da banda, apesar de não estar presente, foi um assunto coerente na entrevista, assim como no álbum. Breno Braga, o Tio Wilson, morreu, no dia 12 de setembro de 2020, após sofrer uma parada cardiorrespiratória nos bastidores do show da banda em Belo Horizonte. Com a sua morte, o álbum que antes tinha uma proposta humorada e solta, virou algo bem mais profundo e complexo.
“A gente viu que o álbum criado em 2019 não fazia mais sentido e então se tornou outra coisa, conceitualmente falando”, explica Pedro. “A gente começou com a parte visual. As capas foram trabalhadas com imagens dentro de molduras, porque entendemos que pintura, assim como as fotos, quando estão dentro de molduras representam uma memória. Se espera ter uma memória dentro de uma moldura, né, e a gente começou com a moldura do Tio que é uma memória dele eternizada ali.”
A ideia, segundo a banda, é que os fãs possam, de fato, visualizar em imagens o que cada uma das dez canções quer transmitir, com uma ideia geral de que precisamos aproveitar a vida o máximo que pudermos. Pensamento sintetizado na música de abertura, Ninguém Me Ensinou, onde eles cantam: “Não tenho medo de errar/Só medo de desistir/Mas tenho 20 e poucos anos/E não vou parar aqui”. O clipe, lançado há um ano, mostra os integrantes da banda e os familiares de Breno homenageando-o, além de vídeos caseiros com bons momentos. “Quando a gente escutou de novo a música, foi unânime o sentimento de que ela tem tudo a ver com o que passamos, e acho que deu uma força muito grande, pessoalmente falando, pra me tirar desse estado de não querer fazer nada para realmente ser um momento de acreditar muito. Eu acho que veio daí a nossa energia pra conseguir fazer um clipe naquele momento que todo mundo estava fragilizado”, conta Jorge.
O momento da pandemia foi a inspiração para criar, em forma de rotoscopia (espécie de animação feita com base em imagens humanas reais) e letras o sentimento de aproveitar o momento. “O lançamento desse terceiro álbum representa isso. De que agora nós vamos construir essa memória que estava pra ser vivida. E também diz muito sobre o Tio, que construiu o álbum com a gente”
O SOM DO TIO
As dez músicas novas foram gravadas com a bateria de Breno, capturada em um ensaio. “O Tio participou ativamente desde o início e teve essa possibilidade de manter a bateria dele da forma que tocou, então ele pôde estar presente. Eu gosto de contar essa curiosidade que eu acho uma coisa muito espontânea e de um privilégio grande”, lembra Chico.
MOMENTO
Durante o período de quarentena, a banda lançou dois singles: Hoje Eu Quero Me Perder, no dia 20 de março, e Será, em 19 de junho, com participação da cantora Iza. Depois das mudanças do terceiro álbum, elas ficaram de fora da proposta conceitual, mas mostraram um tipo de estratégia interessante para o grupo. “Gostamos também de fazer singles que não necessariamente fazem parte de um projeto, porque é o momento que a gente tem de sair um pouco da nossa caixinha e testar. Ver como o público reage”, reflete Pedro.
Uma das grandes apostas do novo álbum é Veja Baby, single que ganhará clipe na próxima segunda-feira, 13, com o que eles afirmaram ser “uma proposta muito diferente de tudo que a gente já fez”. “Ela tem potencial comercial, inclusive vai ser o single que vai puxar esse álbum, mas ao mesmo tempo destoa dele todo”, conta o vocalista. Isso porque seu tema fala de um relacionamento que já não faz mais sentido e que chegou ao fim. Uma das únicas que fala sobre encerramento de ciclos ao invés de novas propostas e aventuras. Muito diferente de Festa Jovem, que narra o fato de aproveitar e viver a vida como se fosse o último dia. Ou Descobridor, single lançado com o rapper Emicida, sobre memórias.
“Por mais que tenha uma evolução sonora, tem sempre aquela coisa que leva a gente pro caminho do início e o nosso seria a espontaneidade e a verdade. Nosso objetivo final é esse: criar uma conexão longa e verdadeira com as pessoas que se identificam com o som”, diz Pedro.
Os músicos indicam que este é o momento de aproveitar a vida, depois de tanto tempo dentro de casa. “A gente ficou muitas horas em estúdio, trabalhando os shows que estão por vir, para chegar com energia total e conseguir todos os objetivos e conquistas nesse pós-pandemia”, afirma Chico, citando os shows em São Paulo, no Rio de Janeiro e até na Inglaterra.