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Os Desafios de Estudar a Percepção de Tempo (9): Depressão

A literatura indica que um estado depressivo pode manifestar-se de diferentes maneiras, incluindo falta de sono ou apetite, perda de energia, ou mesmo falta de interesse em fazer as coisas. Também tem sido atribuído à depressão os proble­mas de concentração, sentimentos de culpa, sentimentos exacerbados de fracasso e, algumas vezes, ideação suicida. Segundo Simon Grondin, no livro “The per­ception of time: your questions answered” (2020), se a depressão leva a problemas de concentração, ela, considerando o papel fundamental tido pela atenção nos julgamentos das estimativas temporais, também pode afetar o processamento de informação temporal. Ademais, o sintoma típico das pessoas com depressão está relacionado à experiência de tempo que parece fluir muito mais lentamente.

É muito comum conectar a percepção de tempo às perturbações psicoló­gicas causadas pela depressão. Considerando esta hipótese, vários estudiosos têm focalizado a relação entre os resultados das estimativas temporais feitas através dos métodos clássicos denominados estimação verbal, (re)produção temporal, discriminação temporal e as diferenças nos julgamentos de partici­pantes depressivos e não depressivos. Entre esses experimentos, um deles solicitou aos participantes que produzis­sem intervalos de 7, 35 e 90 segundos, bem como, estimassem os intervalos de 8, 43 e 109 segundos e avaliassem a duração de um filme de 12 minutos e 40 segundos.

Os resultados indicaram que a duração do filme foi estimada pelos pacientes deprimidos e pelos pacientes em fase maníaca em, aproximadamente, 20 minu­tos e 28 minutos, em média, respectivamente, e que as estimativas dos intervalos de 8 e 43 segundos, dos dois grupos, não diferiram significativamente. Para a outra condição, todavia, de 109 segundos, os pacientes na fase maníaca (Média = 133 segundos), diferentes daqueles em fase depressiva (Média = 105 segun­dos), superestimaram a duração temporal. Na tarefa de produção, os pacientes deprimidos (Média = 9, 1 e Média= 29,3 segundos), diferiram significativamente dos pacientes maníacos (Média = 5,7 e Média + 25, 3 segundos), com a diferença observada com um intervalo tem­poral maior não sendo significativa (Média = 64 e Média = 58 segundos para pacientes depressivos e manía­cos, respectivamente).

Outros estudos têm indicado que as pessoas deprimidas e maníacas superestimam as durações tempo­rais. Por exemplo, usando intervalos variando de 160 e 320 segundos, estudiosos registraram que pacientes depressivos estimaram esses intervalos em 265 e 406 segundos respectivamente. Importante notar que, mesmo se o humor das pessoas deprimidas algumas vezes varia ao longo de um dado dia, esse padrão de resultados permanece o mesmo em diferentes momentos da avaliação, sendo váli­do tanto para pacientes mostrando flutuações diurnas de humor quanto em pacientes que não mostram tais flutuações. Ainda, com intervalos muito curtos, como, por exemplo, durações de 100, 500 e 1500 milisegundos, pesquisas registram que pacien­tes em estados depressivos produzem intervalos mais longos que os participantes do grupo controle. De fato, comparado aos participantes sem depressão, aqueles depressivos tendem a fazer produções mais longas dos intervalos curtos e, tam­bém, produções de intervalos mais curtos dos intervalos fisicamente mais longos.

Também é conhecido que as pessoas deprimidas são mais inclinadas em dire­ção ao passado que ao futuro. Para investigar isso, podemos perguntar às pessoas se um dado momento do tempo parece mais ou menos distante usando, para quantificar a impressão, uma escala variando de 1 (muito próximo a momento atual) a 10 ( muito distante do momento atual). Os resultados mostraram que a tendência muito forte que as pessoas tem, normalmente, de achar que uma dada distância é muito mais próxima do futuro que do passado foi gran­demente diminuída em pessoas com traços de personalidade depressivos. Esse padrão de resultados é consistente com o fato de que pessoas com traços depressivos tendem, com muita frequên­cia, a olhar para o passado sem pensamentos negativos como fracasso e perdas pessoais, os quais causam tristeza.

Tomados juntos, diferentes resultados mostram que os pacientes depressivos julgam que o tempo passa significativamente mais lento do que aqueles não depressivos. Ainda que, numa fase maníaca, eles possam julgar a passagem do tempo sendo mais rápida do que aqueles pacientes ditos normais.

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