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Animação busca opções para se manter

Por Matheus Mans, especial para o Estadão

Não é fácil, simples ou rápido fazer um filme de animação. Enquanto produções com atores de carne e osso podem ser feitas “na guerrilha”, com pouco ou nenhum recurso, é impossível seguir o mesmo caminho nos traços dos desenhos animados que, nos últimos anos, ganharam força no Brasil com produções autorais e originais, como O Menino e o Mundo, Uma História de Amor e Fúria e Tito e os Pássaros. Assim, como continuar com essa movimentação sem leis de incentivo para esse setor do cinema?

Só Bob Cuspe: Nós Não Gostamos de Gente, animação em stop motion que reverencia os personagens do cartunista Angeli, exigiu cinco anos de produção. Por três anos, eram 50 pessoas trabalhando direto no projeto, produzindo um minuto de animação por mês. “É um processo muito lento. É algo feito quadro a quadro, foto a foto”, conta o diretor Cesar Cabral.

Como saída para manter o vigor do setor, produtores e realizadores começam a explorar ainda o mercado. Parcerias com o setor privado, que já aconteciam mesmo antes da falta de leis de incentivo, se tornaram essenciais na consolidação de novos projetos. No entanto, novos caminhos se abriram e surgem como opções.

“O que é mais complicado da animação é o custo de produção. Mas a animação tem um tempo muito largo de produção, com duração média de cinco anos”, continua o cineasta de Bob Cuspe. “O que construímos nos últimos 10 anos talvez indique um caminho de trabalhos em streaming, com séries, ou com parcerias internacionais. Eu, particularmente, estou perto desta última opção para o próximo filme.”

FUTURO

O paranaense Gustavo Ribeiro estava papeando com um amigo quando veio a ideia: um curta-metragem de animação, em 3D, que falasse sobre doença de Alzheimer. Despretensiosamente, inscreveu o projeto em um edital no Paraná e venceu. E agora? Não sabia como colocar a ideia de pé, há seis anos, quando o mercado de animação no Brasil estava florescendo. Aí veio o estalo: e se ele formasse novos profissionais?

Afinal, em vez de se virar sozinho para desenvolver Napo, ele transformou o processo em uma troca. Fundou a Revolution, escola de animação no Paraná. Jovens aprenderam técnicas enquanto ele viabilizou o curta. Só que a coisa saiu de um jeito diferente do que ele imaginava. Gustavo viu a escola crescer. “Achamos que seria uma salinha”, conta.

Seis anos depois, com cinco mil alunos formados, ele olha para trás com nostalgia. Primeiramente, por conta do desenvolvimento do curta, que conta a história de um garotinho aprendendo a lidar com o avô com Alzheimer. Singela e delicada, a produção circulou em mais de 60 festivais pelo mundo. Além disso, Napo chegou ao público no final de outubro, com lançamento gratuito no YouTube. Há nostalgia, também, ao falar sobre o mercado da época. No começo dos anos 2010, havia editais de incentivo para que curtas e longas de animação ganhassem vida. Hoje, quase não há editais. Ainda assim, quando questionado sobre o setor no Brasil, o rosto de Gustavo reluz: “A gente vive na melhor época para fazer animação na História”.

POSSIBILIDADES

O motivo da empolgação são as saídas que produtores e realizadores encontraram nos últimos anos, quando não viam mais apoio de entidades públicas: buscar parceiros internacionais ou fazer parcerias com serviços de streaming. Ou ambos.

Ernesto Soto é produtor e trabalha ao lado de Alê Abreu, cineasta conhecido no Brasil por O Menino e o Mundo. Hoje, os dois estão finalizando o novo longa do cineasta, Perlimps. No caminho para a realização do projeto, além da produção assinada por Globo Filmes, Gloob e Sony Pictures, houve uma captação de dinheiro em Luxemburgo. “Se o projeto é mais comercial ou se tem um grande nome debaixo do braço, o dinheiro surge”, conta Ernesto. “Se for algo autoral, as possibilidades ficam mais restritas e depende muito do dinheiro de fora. Hoje, estamos percebendo que, para um próximo projeto do Alê, (o cenário) está um pouco incerto. O caminho internacional é o mais interessante. Vamos depender cada vez mais dessas parcerias.”

Já a equipe da Tortuga Studios seguiu por um caminho diferente. Abraçou o streaming como uma forma de levar O Pergaminho Vermelho para mais pessoas, lançando a produção no Disney+. “Com o streaming, a gente ganha muitas janelas. O Pergaminho Vermelho estreou em mais de 20 países ao mesmo tempo. Coisa que, antigamente, não existia”, diz Nelson Botter Jr., diretor da produtora, em entrevista ao Estadão. “Com o streaming, a visibilidade fica muito maior e faz com que a gente tenha um poder para a animação brasileira. Ela consegue viajar mais e, com isso, fica mais notória.”.

Marcelo Pereira, um dos sócios do Combo Studio, estúdio que assinou recentemente o projeto America the Motion Picture, da Netflix, é taxativo. “Estamos praticamente só fazendo projetos que possuam alguma ligação com serviços de streaming, o que tem acontecido, acredito, com todos os estúdios. Isso está fortalecendo demais o mercado brasileiro de animação”, conta.

Com isso, as perspectivas de mercado são positivas. A Tortuga está preparando Pergaminho Vermelho 2 e, segundo eles, já há negociações com streamings. Já o filme de Alê Abreu ganhou o primeiro teaser e começa a tomar o caminho de distribuição. Há, ainda, uma grande produção vindo da Gullane. Arca de Noé está ganhando forma após parceria com o estúdio indiano Symbiosys Technologies.

Mas realizadores e produtores, é claro, se perguntam o quanto isso será sustentável a médio e longo prazo. Sem leis de incentivo, Gustavo talvez nunca tivesse entrado nessa área. “É difícil abrir um caminho até mesmo de diretor consolidado. Os projetos levam cinco, dez anos. Quantos projetos podem fazer na vida?”, questiona Soto. “São poucos os estúdios com fôlego para produzir constantemente.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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