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Os Desafios de Estudar a Percepção de Tempo (8): Ansiedade

Globalmente definida, ansiedade pode ser entendida como um tipo de preocupação, e apreensão, traduzido num estado geral de alerta para enfrentar as demandas normais da vida diária. Mas quando a ansiedade persiste, ela acaba afetando a qualidade de vida, levando a um sentimento de insegurança crônica, sendo percebida como um estado desconfortável pela pessoa que a experiencia. Pode-se distinguir dois tipos de ansiedade: o estado de ansiedade e o traço de ansiedade. No primeiro caso, trata-se de um estado de excitação fisiológico provocado por uma dada situação através de um estímulo externo. No segundo caso, trata-se de uma característica estável relacionada à personalidade de uma dada pessoa. Importante, no caso da percepção de tempo, é que em ambas as de­finições, ansiedade está associada com déficits atentivos que podem ser observados em certas tarefas cognitivas, especialmente se elas são muito demandantes.

Segundo Simon Grondin, no livro “The perception of time: your questions answered” (2020), a conexão entre atenção e ansiedade sugere que o processamento temporal de infor­mação de pessoas ansiosas pode ser deficitário. Um exemplo? Pessoas com alto nível de ansie­dade e pessoas com baixo nível de ansiedade foram comparadas em estudos envolvendo a produção de intervalos de 15, 30 e 90 segundos. Os resultados revelaram que, na média, os participantes de cada grupo produziram intervalos menores que os intervalos-padrão, mas a diferença entre a duração-padrão e o intervalo produzi­do sendo maior entre os participantes do grupo ansioso. Tal padrão de resultado podendo ser explicado por um efeito de atenção, que ocorre em pessoas mais ansiosas, bem como, por uma alteração no ritmo do relógio interno humano, o qual é acelerado no grupo mais ansioso.

Interessante, também, é o estudo também escrito por Grondin, que envolveu tanto pessoas ansiosas quanto pessoas deprimidas. Nele, pessoas deprimidas têm dificuldade especialmente na tarefa de produção de intervalos temporais e pessoas ansiosas superreproduzem intervalos-padrão durante 500, 1000 e 1500 milisegundos. Os dados revelaram que pessoas ansiosas não só reproduzem intervalos que tendem a ser menores que aqueles do grupo controle, como, também, tais reproduções são muitos menores que as usuais em pacientes deprimidos. Assim, esse efeito observa­do em pessoas ansiosas é atribuído ao funcionamento da atenção na tarefa de reprodução temporal.

Outros tipos de trabalho têm focali­zado as estimativas de duração temporal em condições de medo na vida real. Virtualmente, participantes colocados na borda de uma plataforma, à beira de um precipício, ao contrário de outros, distantes desse mesmo precipício, verbalmente superestimam um intervalo de 5 segundos. De modo similar, participantes com fobia à aranha, colocados pró­ximos a esta por 45 segundos, superestimam significativamente este intervalo, dado que não ocorre para participantes sem fobia alguma.
Outros trabalhos mais, agora envolvendo julgamentos retrospectivos de in­tervalos de 4 minutos, distinguiram três diferentes grupos de pessoas ansiosas, a saber: muito; moderado; e levemente ansiosos.

Nele, estudiosos observaram que a espera por 4 minutos antes de se fazer o teste de inteligência, a quanto a duração de 4 minutos fazendo o teste, foram mais superestimadas pelos muito ansiosos do que por aquelas de nível leve e moderado de ansiedade. Também, que as pessoas coloca­das em condições provocando ansiedade também superestimaram a duração, muito mais do que pessoas colocadas em situações provocadoras de menos ansiedade. Este mesmo padrão de resultados também foi observado numa tarefa de estimação retrospectiva durando 18 minutos.

Tomados juntos, parece que, devido às desordens atentivas, a ansiedade pa­receu conduzir a reproduções temporais mais curtas, especialmente de intervalos de tempo muito curtos. Ademais, a pré­-disposição das pessoas ansiosas observarem estímulos como algo ameaçador, pode fazer a duração de intervalos curtos ser superestimada por causa da exci­tação fisiológica gerada por tal observação. Em outras palavras, estados ansiosos podem alterar nossa percepção de tempo.

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