Tribuna Ribeirão
Saúde

USP RIBEIRÃO – Teorias da conspiração e desinformação explicam hesitação vacinal

© Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O aumento de contamina­ções e mortes na Europa e Es­tados Unidos acende o alerta para uma quarta onda de co­vid-19, principalmente pelo alto índice de não vacinados. Aqui, no Brasil, mesmo com o avanço da vacinação, au­toridades pedem cautela e manutenção das medidas de segurança. Com quase 75% da população imunizada com a primeira dose e 60% total­mente vacinada, o País ainda tem muitos indecisos. Pelo menos é o que diz estudo re­alizado em países de língua portuguesa que entrevistou 6.843 pessoas, entre maio e agosto do ano passado, e ve­rificou que 21,1% não tinham intenção de se vacinar, cuja matéria foi publicada no Jor­nal da USP.

Álvaro Francisco Lopes de Sousa, da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da Universidade de São Paulo (USP) é um dos responsáveis pelo estudo

Segundo Álvaro Francis­co Lopes de Sousa, da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da Universida­de de São Paulo (USP) e um dos responsáveis pelo estudo, os pesquisadores (brasileiros e portugueses) buscavam a opinião da população sobre a vacinação e também en­tender o porquê da hesitação vacinal. Como resultado, de acordo com os dados coleta­dos, observaram como mo­tivo principal as teorias da conspiração, seguidas pela desinformação.

O artigo Determinants of COVID-19 vaccine hesitancy in Portuguese-speaking cou­ntries: a structural equations modeling approach [Determi­nantes da hesitação da vacina COVID-19 em países de lín­gua portuguesa: uma aborda­gem de modelagem de equa­ções estruturais], publicado no último mês de outubro no site Multidisciplinary Digital Publishing Institute (MDPI), traz análise de opiniões sobre as vacinas contra a covid-19 que estavam sendo desenvol­vidas na época (maio e agosto de 2020) e sobre as medidas de proteção recomendadas pelas instituições governa­mentais e pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Segundo o estudo, a maior parte dos que se negam à va­cinação são os maiores de 30 anos e os consumidores de informações incompletas ou falsas sobre as vacinas. Do total dos hesitantes em se va­cinar, 1.443 pessoas (21,9%) apresentavam sintomas de estresse, sendo a maioria do sexo masculino. Souza afirma que estresse e hesitação vacinal masculina são explicados cul­turalmente pela educação de homens como exemplo de for­ça, virilidade e saúde perfeita.

Outro dado da pesquisa mostra que 22,4% dos hesitantes têm nível superior, mas o pes­quisador faz ressalva quanto ao fato de que em algumas regiões da África apenas a população mais rica consegue pagar para ter acesso à internet e também que a amostra pode ter outro viés, a de participantes relacio­nados ao mundo acadêmico. Além de Brasil e Portugal, o es­tudo envolveu Angola, Guiné­-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe.

Se o número dos que não desejam se vacinar foi alto entre os maiores de 30 anos, o inverso foi observado en­tre os jovens de 18 e 29 anos. Sousa informa que 84,5% de­les se mostraram favoráveis à vacinação e também foram os mais adeptos às medidas de proteção. Esta foi também a faixa etária que se mostrou mais cansada e estressada. O pesquisador relata que as res­postas deste público deixaram claro o desejo de vacinação mais rápida para a volta às suas atividades normais, sem gran­des riscos de contaminação.

Maior esclarecimento das dúvidas sobre as vacinas
Com as informações obti­das e tendo em vista um ce­nário ainda pandêmico, Sou­sa defende mais investimento nas campanhas de vacinação, tanto no Brasil quanto em outros países. Campanhas pensadas em melhorar o di­álogo com o grande público para esclarecer as dúvidas em relação às vacinas em uso. Para o pesquisador, “algumas bolhas de desinformação parecem ser mais confortá­veis para algumas pessoas. O maior desafio dos órgãos de saúde é romper essas bolhas”.

Sousa também insiste que o ritmo da vacinação em pa­íses de língua portuguesa deveria ser mais acelerado. Mesmo com o alcance das imunizações, “muitas das hos­pitalizações e mortes poderiam ter sido evitadas”. E, “quanto mais tempo uma parcela da população passa sem ser vaci­nada, novas variantes podem surgir”, diz o pesquisador.

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