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Os Desafios de Estudar a Percepção de Tempo (7): Autismo

O Autismo, ou, cientificamente, Transtorno do Espectro Autista (TEA), é uma desordem do neurodesenvolvimento que prejudica a ha­bilidade de uma pessoa para comunicar-se e interagir com outra. Inclui uma vasta amplitude de sintomas, com diferentes gravidades, como a Síndrome de Asperger. Nesta, além de dificuldades de entendimento nas interações sociais, há, também, limita­ção de interesses e atividades em quem a apresenta, além de rigidez de comporta­mento e grande necessidade para estabi­lidade. Adicione a isso dificuldades para reconhecer, e entender, as expectativas e intenções dos outros, resultando, então, na má interpretação, ou não interpreta­ção, do que os outros estão dizendo. Em relação à percepção de julgamento tempo­ral, pessoas com autismo têm dificuldade com as funções executivas, especialmente com organização, pobre manejo do tempo e em planejar suas atividades e distribuí-las no mesmo. Sua resistência em lidar com eventos inesperados faz com que necessitem de rotina. Pessoas com TEA tem grande déficit no pen­samento diacrônico, ou seja, na habilidade para entender quais transforma­ções ocorrem ao longo de um período, bem como, que estas não significam alteração de identidades, além de entenderem que eventos acontecendo sucessivamente podem ser partes de um mesmo todo.

Por outro lado, pessoas com TEA também parecem ter a capacidade mnemônica episódica reduzida, isto é, dificuldade de relembrar eventos do passado que se conectam intimamente às suas experiências pesso­ais, além de dificuldade para se projetarem no futuro, de forma a imaginarem experiências vin­douras devido à sua incapacidade de construir uma determina­da cena, que reúna múltiplos elementos sensoriais oriundos de algo imaginário. Por conta disso, são pessoas com menos sucesso que outras sem tal condição clí­nica, além de dificuldade em estimar ou reproduzir intervalos de tempo. Em geral, apresentam problemas em estimar grandes durações pelo fato de terem dificuldades em reproduzir memória episódica. Adultos com TEA, envolvidos em tarefas de reprodução de intervalos, movem-se para além da duração-alvo, mostrando maior variabilidade em suas respostas do que os participantes que não tinham tais sintomas. Esse efeito tenden­do a aumentar com longas durações.

Considerando a tarefa de bissecção temporal (dividir o tempo em duas partes), estudos revelam que pessoas com TEA tem menor sensi­bilidade para a realização de tal tarefa, uma vez que demonstraram ser mais variáveis que as pessoas sem a desordem, especialmente quando os intervalos variam de 2 a 8 segundos.
Considerando os estudos até então realizados sobre o assunto, Simon Grondin, no livro “The perception of time: your questions answered” (2020), entende que, pessoas com TEA têm dificuldades em lidar com as demandas temporais da vida cotidia­na, especificamente, um déficit no pensamento diacrônico, problemas de memória episódica e dificuldades em projetar a si próprias no futuro. Problemas, estes, particularmente dependentes da inabilidade dessas crianças para a construção de cenas/ episódios variados. Além de pro­blemas de memória retrospectiva, baseada no tempo. Ademais, seus resultados nas tarefas tanto de esti­mação temporal, quanto na tarefa de replicação de intervalos são pio­res que os obtidos com indivíduos sem o transtorno.

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