Acho o maior barato essa relação entre música e futebol, sempre acompanhei histórias de cantores e atores que sonharam com gramados e com “la pelota”, como também jogadores que desviaram do desejo. Cito alguns cantores. Júlio Iglesias, cantor espanhol, era goleiro do Real Madrid, virou um dos bambas da música mundo afora.
O saudoso João Nogueira, quando menino, dormia com a camisa do Flamengo e sonhava jogar com o Maracanã lotado. Mas sofreu uma lesão grave e teve que abandonar os gramados. Nessa o samba ganhou de goleada. Tão grande era seu desejo que quando nasceu seu filho Diogo Nogueira, fez de tudo para que seu pimpolho fosse o que ele não conseguiu ser.
Levava o pequeno Diogo em todas as categorias do Rubro-Negro, mas o garoto também teve séria contusão no joelho, daí foi pro time do samba e virou o que virou. Fagner, desde criança, passeava pelos gramados, até se via numa camisa do Fortaleza F.C. Sócrates me contou que Fagner jogava muito e até treinava com a nossa seleção na Espanha.
O grande cantor me confessou que nessa época estava batendo um bolão e que se o Telê Santana o colocasse como atacante, o resultado poderia ser outro. Mas o adolescente Fagner, já tinha sua guitarra e violão, conciliava os dois desejos, depois já famoso nacionalmente foi dono de um time de futebol em Fortaleza, era o “Beleza F.C.”. Dava muito trabalho para seus adversários.
Num tempo em que a política não era o que é hoje, o cantor e compositor Chico Buarque só vinha dar show em Ribeirão Preto se Sócrates organizasse uma pelada um dia antes. Ele tem um campo de futebol e um time, o “Politheama”, no Rio de Janeiro, no Recreio dos Bandeirantes. Batizou o espaço como “Centro Recreativo Vinicius de Morais”. Mas não conseguia ser campeão.
Sócrates diz que Chico só levantou a taça quando o Doutor entrou para o time. Chico, minucioso, organizava campeonatos com regulamento e tudo mais, tinha jogos toda segunda-feira, dia de folga dos músicos. Chico também tinha lá seus ídolos no gramado, e o maior deles foi Pagão, atacante do Santos F.C. Disse ele que imitava Pagão em tudo, posição dos braços, como tocar na bola, jeito de correr e tudo mais, tornaram-se amigos.
Samba na concentração – Na seleção de 1982, Sócrates tocava violão, Junior, que hoje é comentarista, tocava seu pandeiro como ninguém, Serginho Chulapa no gogó e percussão e o samba rolava solto.
Pelada no Estádio Centenário – Fagner me contou no apê do Sócrates, aqui em Ribeirão Preto, que no final do ano de 1982, Reinaldo, ex-centroavante do Atlético Mineiro e da Seleção Brasileira, juntou-se a ele e armaram uma festa beneficente em Belo Horizonte. Seria uma pelada entre os veteranos do Atlético Mineiro e cantores da nossa MPB.
Rei convocou seu time e Fagner escalou o seu. Entraram em campo João Nogueira, Vinicius Cantuária, Wagner Tiso (Magrinho), Chico Buarque, Carlinhos Vergueiro, Jorge Ben, mais alguns que não me lembro e, pra surpresa da galera, Fagner levou um reforço de peso: Sócrates no auge.
O evento ganhou corpo e a torcida feminina lotou o Estádio Centenário. Entraram em campo, Fagner estava preocupado, disse, Magrão. “O Rei me enganou, esses são os titulares!!!” Sócrates riu e disse que eles só queriam participar. “Fique lá na frente que vou te enfiar umas bolas de três dedos”
Bola rolando, os caras fizeram um gol, Fagner ficou uma fera. Segue o jogo, Sócrates lança Fagner que empata. Explodiu de alegria, até subiu no alambrado. Depois Fagner fez mais um, virando o jogo. Entraram os veteranos, já quase no final, Chico Buarque fez o terceiro, foi uma loucura. A torcida invadiu o gramado, colocaram os atletas nos ombros e tudo virou a maior festa, que terminou em muitos barris de chope, muito churrasco e uma resenha sem fim.
Sexta conto mais.