Tribuna Ribeirão
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Sem “fake news”

Em dezembro de 2006, portanto muitos anos antes da polarização política que infelicita o País, separando amigos, colegas e familiares, passei a utilizar o concurso da Internet para comunicação por meio de um “blog” que denominei “Saúde, Bioética e Cidadania”. A recepção foi morna e limitada a alguns amigos mais próximos, mas o valor dos artigos enviados superou minhas expectativas.

Nunca houve a intenção de manter uma periodicidade, mas ao longo dos anos foram muitos os temas aborda­dos, nunca resvalando pela política partidária. Amigos ou colegas como Sérgio Roxo da Fonseca, José Anézio Pala­veri, Feres Sabino e tantos outros enviaram suas opiniões, sempre em torno das questões bioéticas da saúde ou da cidadania. Alguns já se foram, como o querido e saudoso Ziliotto, mas deixaram seu testemunho de opiniões firmes, calcadas na verdade.

Tempos depois passei a me utilizar do espaço oferecido por grupos para me manifestar, sempre deixando de lado a política partidária. Notei, no entanto que muitos usavam tal espaço para divulgar “fake news”, sem a mínima noção do prejuízo causado. Sempre apontei tais desvios e conti­nuei com a mesma filosofia de discutir temas bioéticos e de saúde pública.

O meu limite de tolerância foi atingido quando mani­festações políticas em geral, mesmo não partidárias, foram consideradas manifestações de imaturidade por um colega que sempre respeitei. Que tristeza ler essa manifestação de desencanto partindo de colega médico… É interessante observar que essa manifestação apareceu quando comecei a protestar contra a divulgação de falsidades em um espa­ço dedicado à discussão salutar de temas de interesse dos brasileiros em geral.

Apenas o colega Palaveri escreveu protestando contra uma matéria que conclamava a todos não votar em 13 partidos considerados pelos autores da matéria (quem são?) como anticristãos. Era um modo sujo de buscar apoio dos cristãos. Isso lembra muito a filosofia das cruzadas. Não tenho partido, sou cristão, mas tenho noção de que um número grande de pessoas que votam naqueles partidos cristãos foram atingidos. Na verdade a agressão atingia as pessoas.

Os partidos são constituídos por pessoas. Milhares de pessoas foram atingidas pela agressão anônima, divulgada por colaboradores que devem achar que como “apenas” “compartilharam” não tem responsabilidade pela verifica­ção da verdade fatual. Chama atenção a falta de inteligên­cia dos autores daquela notícia ao não perceber que estão pregando para já convertidos, que já apóiam os absurdos ali escritos. Os que não estão de acordo com o que é pre­conizado naquele folhetim certamente ficarão revoltados contra esses aproveitadores da triste polarização observada em nosso País.

Para mim chega, não tenho mais paciência para con­viver com tanto absurdo. Se preocupar-se com a verdade e com nosso País é manifestação de imaturidade continu­arei imaturo aqui no meu canto. Quem quiser participar enviando temas de saúde, bioética e cidadania, será muito bem-vindo, na condição de autor da colaboração, nunca de repassador, sabe-se lá de quem.

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