A pandemia retirou das famílias brasileiras R$ 10,6 bilhões em 2020, a despeito do reforço proveniente de medidas emergenciais de socorro financeiro à população, mostram os dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) 2020 – Rendimento de todas as fontes, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O pagamento do auxílio emergencial elevou a massa de renda em circulação nas regiões Norte e Nordeste, mas não foi suficiente para repor todos os rendimentos perdidos do trabalho e de aposentadorias no restante do país. A massa de rendimento médio mensal real domiciliar per capita totalizou R$ 284,6 bilhões em 2020, ante um montante de R$ 295,2 bilhões em 2019.
Mais da metade (50,7%) desse bolo ficou concentrado no Sudeste, R$ 144,416 bilhões, embora tenha recuado 5,2% em relação ao ano anterior. Os aumentos na massa de renda no Norte foram de 3,6% (para R$ 16,437 bilhões) e no Nordeste foram de 1,4% (para R$ 50,989 bilhões), enquanto o Sul apresentou maior redução (-5,7%, para R$ 48,144 bilhões). No Centro-Oeste, a massa de rendimentos per capita foi de R$ 24,612 bilhões, queda de 3,98%.
Os 10% do brasileiros mais ricos concentravam 41,6% de toda a massa de renda do país, o equivalente a cerca de R$ 118,4 bilhões nas mãos de pouco mais de 21 milhões de pessoas. Já os 21 milhões de moradores mais pobres detinham apenas 0,9% de toda a soma de rendimentos, ou seja, dividiam apenas R$ 2,56 bilhões.
O IBGE ressalta ainda que os 41,6% da massa de rendimentos nas mãos dos 10% mais ricos são praticamente equivalentes à soma de rendimentos dos 80% da população brasileira com os menores rendimentos (que detinham 43,0% da massa total).
Apenas R$ 453 mensais
A pandemia varreu os trabalhadores de baixa renda do mercado de trabalho, mas o auxílio emergencial evitou uma piora da desigualdade no país em 2020, ao elevar o rendimento médio dos brasileiros mais vulneráveis. Ainda assim, a metade mais pobre da população brasileira sobrevivia com apenas R$ 453 mensais no ano de 2020.
São cerca de 105,5 milhões subsistindo com apenas R$ 15,10 por dia por pessoa. A escassez de renda permanecia mais grave no Norte e Nordeste do país, mesmo com o alcance do auxílio emergencial pago pelo governo. Os 50% mais pobres do Nordeste sobreviviam com R$ 10,03 diários por pessoa da família no ano passado.
No Norte, R$ 10,83. O auxílio emergencial permitiu, pelo menos temporariamente, que a renda média per capita recebida pela metade mais pobre da população brasileira crescesse 3,9% em relação a 2019, quando era de R$ 436.
Na passagem de 2019 para 2020, houve aumento no rendimento domiciliar per capita médio principalmente nas faixas de renda mais baixas. Entre os que se situam entre os 5% até 10% mais pobres, a alta foi de 17,6%. A maior perda ocorreu entre o 1% mais rico: 9,4%.
Como consequência, o índice de Gini – indicador que mede a desigualdade de renda, numa escala de 0 a 1, em que, quanto mais perto de 1 o resultado, maior é a concentração de renda – do rendimento médio domiciliar per capita passou de 0,544 em 2019 para 0,524 em 2020.
Na passagem de 2019 para 2020, o índice de Gini caiu em todas as regiões brasileiras, sobretudo no Norte e Nordeste, onde o auxílio emergencial atingiu maior proporção de domicílios. Ainda assim, o Nordeste manteve o maior Gini em 2020 (0,526), enquanto o menor ainda foi o do Sul (0,457).
O rendimento médio mensal real domiciliar per capita foi de R$ 1.349 em 2020, uma queda de 4,3% em relação aos R$ 1.410 estimados em 2019. As Regiões Norte (R$ 896) e Nordeste (R$ 891) apresentaram os menores valores, embora tenham registrado aumento em relação ao ano anterior, de 2,3% e 0,9%, respectivamente.
A Região Sudeste se manteve com o maior rendimento domiciliar per capita médio, R$ 1.623, 6,0% inferior ao de 2019. Houve redução também no rendimento médio na Sul (R$ 1.597, queda de 6,3%) e Centro-Oeste (R$ 1.504, recuo de 5,2%).