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Consciência Negra – A estatística da desigualdade

Neste Dia da Consciência Negra reforçamos que 20 de no­vembro, não é uma festa e sim um ato político de afirmação da história do povo negro. Zumbi e o Quilombo de Palmares mate­rializaram uma sociedade alternativa com capacidade de luta, or­ganização e exercício da democracia racial. É uma oportunidade ímpar para o debate, reflexão, resgate histórico e rompimento de padrões estéticos, morais e culturais infelizmente impregnados em nossa sociedade.

Embora tendo um dia destacado, a agenda é permanente e urgente, especialmente em tempos onde a internet catalisa e am­plia o preconceito e os sentimentos racistas até então encober­tos. Negar a existência do racismo, talvez seja uma das maiores maneiras de perpetuá-lo.

A chamada Consciência Negra é o reconhecimento e a valorização da luta dos negros, da cultura negra brasileira e suas contribuições para a constituição de nossa sociedade. Não é um pedido de misericórdia, é a cobrança de uma fatura história e a busca da superação de uma desigualdade que começou no pro­cesso de escravização, seguiu no pós-abolição e continua latente. Alcançá-la é uma tarefa para todos.

Falando em desigualdade, talvez a dureza dos dados estatísti­cos ajude na compreensão daqueles que insistem em não ouvir, enxergar ou reconhecer sua cruel presença. Para tal, utilizaremos o “Raio X do racismo no Brasil” realizado pelo Senado em 2020 com informações do ano anterior, apontando a população brasi­leira formada por de 55% de negros (pretos e pardos). Os negros representaram 71% das pessoas assassinadas; 76% das pessoas mortas em ações policiais; na população carcerária 64%.

Quanto à representatividade e o mercado de trabalho tínhamos: ocupantes de cargos de gerência 30%; deputados federais eleitos (2018) 24% e juízes de tribunal superior apenas 9%. Enquanto a média salarial de brancos era de R$ 2.796,00, os negros recebiam R$ 1.608,00. Até entre os trabalhadores subu­tilizados a diferença era de 19% a 29%. Entre os analfabetos, os brancos eram 4% contra 9% negros. Enquanto 6% dos brancos não tinham rede de esgoto, entre os negros chegamos a 13%. A diferença está presente até nas mortes maternas (gravidez/parto) com 30% entre mulheres brancas e 65% negras.

Uma das ferramentas para superar esse quadro seria a edu­cação, porém recente estudo do Banco Mundial aponta que o percentual de crianças afrodescendentes sem acesso a atividades escolares durante a pandemia foi praticamente o dobro das bran­cas, indígenas e asiáticas, ou seja, já estamos comprometendo o futuro de mais uma geração.

Os números estatísticos já são preocupantes, mas quando recebem nome, endereço, rosto e forma se tornam piores. Que ninguém precise ter um pai assassinado, um irmão perseguido ou um filho chegando aos prantos por ter sido humilhado para perceber como é cruel criar apelidos, formular piadas ou brinca­deiras que parecem inocentes, mas possuem o poder dilacerante de abalar estruturas psicológicas.

Então o que faremos para mudar? Enquanto empregador você pode rever seus critérios de contratação, se for agente pú­blico comece a lutar contra o racismo estrutural, se for educador prepare seus alunos para a cidadania e inclusão, não apenas por obrigação curricular. Se for religioso, compreenda que o direito de professar a fé é o mesmo para quem acredite em algo diferen­te ou, crendo no mesmo divino, exteriorize de outra forma. É o começo da engenharia social e econômica capaz de construir as pontes invisíveis essenciais para aproximar as díspares realidades de brancos e negros brasileiros.

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