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Dorival Caymmi, o sossego

Fui ao Rio de Janeiro três vezes, sempre em excursões promovidas pelo Sesc, que nos acolheu em seu hotel, localizado numa rua paralela à avenida Atlântica, onde está o famoso Calçadão de Copacabana. Nem acreditava que estava hospedado naquele lugar histórico e a 100 metros da praia mais famosa do mundo.

A Estátua de Caymmi – Tinha assistido, já havia algum tempo, a uma entrevista com Danilo Caymmi, filho mais novo do autor de “Marina”. Per­guntaram a ele sobre o pai. Fiquei ligado, pois sou chegado em causos e em conhecer detalhes da vida de quem sou fã. O apresentador perguntou-lhe sobre várias composições de Dorival, por exemplo se ele sabia pra quem o pai compôs “A vizinha do lado”…

Quem era a vizinha que desfilava de vestido grená e que deixava os ho­mens babando? Danilo riu um bocado e disse que eles tinham uma vizinha que quando ia varrer a calçada, fazia aquele movimento com os braços, daí suas ancas balançavam pra lá e pra cá e seu vestido acompanhava o balan­ceio (heheheeh). O pai, de olho no lance, botou no papel.

As estátuas de Drummond e Caymmi – Voltando a Copacabana, estava louco pra sentar naquele banco onde fica a estátua de Carlos Drum­mond de Andrade. Junto com amigos de viagem e violão na mão, encarei o maravilhoso calçadão com destino ao famoso banco. Ao sentar-me com o poeta, fiquei todo arrepiado, deu-me a impressão de ele pedir: “Buenão, cante uma canção pra mim”.

Eu, emocionado peguei meu pinho e atendi seu pedido. Cantei “Sorri”, de Charlie Chaplin, versão de João de Barro, “O Braguinha”, fiz foto e algumas pessoas pararam, entre elas um senhor que puxou prosa comigo. Disse ele que a estátua do poeta foi colocada ali porque do outro lado da avenida nascia a rua que ele morava. Olhei e realmente sua rua nascia ali e adentrava Copacabana.

Este senhor gentil, como todo bom carioca, esticou o papo dizendo: “Olha, amigo, continue caminhando pelo calçadão que 100 metros adiante tem uma estátua do Dorival Caymmi, e no mesmo rumo, do outro lado da avenida, ficava a casa em que ele morava, hoje um belo prédio”. Na hora imaginei que devia ser a casa onde ele homenageou a vizinha de vestido grená.

Já na magnífica estátua de Caymmi, ele com seu violão na mão, sem pes­tanejar, fiz um dó maior e cantei olhando pra ele “A vizinha do lado”, vi em seu rosto um sorriso maroto. Poucos metros à frente está a saída pra Pedra do Ar­poador, onde está a estátua de Tom Jobim e seu violão, já divisa com Ipanema.

Marina e o barraco – Conta Caymmi que ele foi fazer um show, numa cidade no interior da Bahia, seu público era basicamente de fazendeiros produtores de cacau. Muito birinaite nas mesas e sua apresentação se aproximava do final, quando uma animada mesa pediu-lhe que cantasse “Marina”, seu maior sucesso e que todos imaginam ter sido composta em homenagem a uma mulher, e não a uma criança.

Caymmi, com seu vozeirão grave, disse: “Vou encerrar cantando ‘Marina’, e se tiver alguma Marina presente, aproveito pra lhe oferecer”. E ele cantou: “Marina, morena Marina você se pintou, Marina você faça tudo mas faça um favor, não pinte este rosto que eu gosto, que eu gosto e que é só meu, Marina você já é bonita com o que Deus lhe deu”.

Quando ele acabou de cantar, sobe no palco um fazendeiro ignorante, mamado com cara de ter bebido todas e sem ter entendido nada, com um três oitão na mão. Disse: “Eu sou marido da Marina e vou te matar, seu cabra da peste”. Um esperto garçom pulou no palco e desarmou o caboclo. Caymmi, assustado, vazou pelos fundos e sumiu. Ele contava essa história e morria de rir.

Sexta conto mais.

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