Por Felipe Rosa Mendes e Ricardo Magatti
Cada vez mais alinhado à nova gestão da Fórmula 1, o GP de São Paulo recuperou popularidade um ano após ficar fora do calendário do campeonato por causa da pandemia de covid-19. A edição deste ano contou com recorde histórico de público e maior capacidade para receber os torcedores nas arquibancadas. Os motores deste crescimento foram a demanda reprimida, devido ao cancelamento da etapa de 2020, e a maior atenção dada aos torcedores mais jovens, na avaliação dos organizadores.
“A Fórmula 1 está diferente. Aquilo que a gente só via no futebol ou na NBA agora tem também na F-1”, disse ao Estadão o CEO do GP brasileiro, Alan Adler. O empresário assumiu o comando da etapa nacional no início do ano. E vem colocando sua expertise em marketing esportivo a serviço dos novos rumos do campeonato. “Tive a oportunidade de conhecer melhor o Stefano Domenicali (novo CEO da F-1) e pude ver que nossas visões estão 100% alinhadas. Ele está gostando muito do que está vendo no Brasil.”
“A Fórmula 1 está cada vez mais jovem. Temos jovens pilotos conectados ao mundo através da rede social e também da mídia tradicional. A conectividade não é apenas a coisa mais importante do mundo atualmente, mas também dá a chance destes pilotos jovens de se conectarem com a nova geração. O GP brasileiro está com público mais jovem. Temos esses números. E isso está acontecendo nas outras etapas também. Isso é um sinal muito encorajador de seremos cada vez mais fortes”, disse Adler, sem revelar o levantamento.
O aumento da popularidade do GP brasileiro pôde ser constatado nas arquibancadas. Mesmo ampliadas, se mostraram cheias ao longo dos três dias do evento. Não à toa registrou nova marca histórica. Ao todo, 181.711 torcedores compareceram ao evento entre sexta-feira e domingo. A marca superou até as projeções mais otimistas da organização, que aumentou a capacidade das arquibancadas em 20% e esperava 170 mil pessoas.A tendência de crescimento já vinha de 2019. Naquele ano, a etapa brasileira recebeu 158.213 torcedores, maior público desde 2001, temporada em que o autódromo de Interlagos tinha maior capacidade e superou os 174 mil fãs de automobilismo. Havia também pilotos brasileiros no grid.
F-1 NO GOOGLE TRENDS – A ausência da prova em 2020 mobilizou a torcida ao longo das últimas semanas. Pesquisa feita pelo próprio Google mostra que o interesse nas buscas pela F-1 bateu recorde neste mês. “É o maior nível de interesse de busca no País pelo torneio desde janeiro de 2004, início da série histórica do Google Trends”, informou a empresa.
A procura por “qual o valor do ingresso da Fórmula 1 no brasil” cresceu 250% nos últimos sete dias no Brasil. Já a busca por “gp brasil 2021 horários” teve alta de 180%. A pesquisa do Google mostrou ainda quais foram as perguntas mais recorrentes desde segunda-feira no país. “O que é pit stop?” foi a primeira, seguida de “Onde os pilotos de F-1 se hospedam no Brasil?”, “Como funciona a Fórmula 1?” e “O que é sprint race F-1?”.
Estas buscas por informações sobre o formato e características do campeonato evidenciam o interesse de iniciantes pelo evento. E confirmam pesquisas da própria F-1 sobre a conquista de novos fãs nos últimos anos, mais jovens, em sua maioria. No Brasil, a tendência é a mesma. De acordo com organização do GP, o público deste ano é, em média, cinco anos mais jovem do que o de 2019.
Os mais novos vêm sendo atraídos pelas corridas virtuais promovidas pela própria F-1, que vem investindo no chamado e-sports, pelo maior investimento da categoria nas redes sociais e também pela série “Drive to Survive” (Dirigir para sobreviver), da Netflix.
De olho na fidelização deste público, a F-1 foi além no GP brasileiro. Pela primeira vez em sua história, contratou um streamer para narrar os treinos e a corrida numa transmissão online. A honra coube ao brasileiro Gaules, lenda do streaming entre os mais jovens. O narrador tem 3 milhões de seguidores e picos de 343 mil dispositivos simultâneos em seu canal da Twitch, o mais assistido no mundo em outubro. Gaules foi testado, e aprovado, em transmissões de jogos da NBA, a partir de junho.
GAULES COM A MOLECADA – “A partir do momento que o automobilismo começou a se comunicar de uma forma mais moderna, o pessoal mais novo veio. É o que já acontece com outros esportes. Os que se modernizaram atingem a molecada. A nova geração está chegando e se você se comunica da forma certa esse público vem”, explicou Gaules ao Estadão. “Acho que a molecada começou a ver no automobilismo uma paixão que está no sangue brasileiro. Às vezes eles não tinham encontrado essa conexão que os mais velhos já tinham, com pilotos, como o (Ayrton) Senna e o Rubinho (Barrichello).”
Para o piloto Pietro Fittipaldi, a aposta em Gaules tem tudo para dar certo. “O pessoal mais jovem gosta deste tipo de transmissão. É diferente, não compete com a transmissão tradicional, pela TV. É um público diferente, de game. Isso é muito bom porque traz pessoas novas para a F-1”, diz o neto de Emerson. “Ele está trazendo muita gente de game, que não conhecia a F-1 antes.”
O próprio Pietro e seu irmão Enzo seguem o mesmo caminho. Eles transmitem as próprias corridas na Twitch e no YouTube. “Tem muito mais jovem nos seguindo do que antes. Desde que começamos a produzir conteúdo, isso tem ajudado muito. As corridas virtuais trouxeram um público novo.”
Não por acaso, pesquisa recente feita por encomenda da F-1 mostrou que o segundo piloto preferido do público é o britânico Lando Norris, atrás apenas de Max Verstappen, líder do campeonato. Norris, da McLaren, tem 22 anos e nunca venceu uma corrida. Mas brilha com suas transmissões na internet. Tornou-se o piloto com mais seguidores na Twitch.
“A Fórmula 1 está cada vez mais jovem. Temos jovens pilotos conectados ao mundo através da rede social e também da mídia tradicional. A conectividade dá a chance destes pilotos jovens se conectarem com a nova geração”, diz Stefano Domenicali, CEO da F-1. “Temos dados que mostram que todas as etapas do campeonato estão atraindo fãs mais jovens. Isso é um sinal muito encorajador de seremos cada vez mais fortes.”
Atento a este movimento, o GP de São Paulo apostou em shows, DJs e maior entretenimento neste fim de semana. “Esse público mais jovem está tendo um primeiro contato com a F-1 pessoalmente. Uma coisa é você ser impactado pela Netflix ou pelas redes sociais. Outra coisa é você estar no evento. Isso (o impacto) não tem volta”, diz Alan Adler. O rejuvenescimento do público brasileiro pôde ser constatado na recepção aos pilotos no aeroporto e nos hotéis. “A tietagem foi surpreendente. E olha que não estamos falando de um Senna. Não é piloto nacional ou um ídolo”, afirma o CEO do GP brasileiro.