“Na maioria das vezes esse é o primeiro alimento do dia dessas pessoas. É dramático. É dolorido mesmo”. O comentário é da terapeuta Rosana Baldim ao distribuir marmitas com alimentos para pessoas carentes nas proximidades da Catedral Metropolitana de Ribeirão Preto, no Centro da cidade. A ação que começou no início da pandemia, em abril do ano passado, com pouco mais de 30 refeições, se estende até hoje e é realizada todas as sextas-feiras. Agora são cerca de mil refeições, além de kits de higiene, roupas, água e produtos de necessidades para crianças como fraldas, etc…
Rosana conta que no início o grupo, denominado Grupo de Voluntários Uma Boa Ação Estrela Luz, era formado apenas por 3 pessoas. “Resolvemos andar pela cidade para ver a situação das pessoas. Começamos com 36 marmitas. Na outra semana, percebemos que poderíamos fazer um pouco mais. Fizemos 60 em um fogão simples de quatro bocas e foi aumentado”, lembra.
As visitas têm um trajeto que passa por bairros, comunidades e locais de abrigos de pessoas carentes, como viadutos, e termina na Catedral. Rosana conta que com o desenvolvimento dos trabalhos, percebeu que famílias e até pessoas de outras cidades em situações dramáticas começaram a esperar pelo alimento. “Isso nos sensibilizou. Começamos a conversar com amigos sobre a situação. Uma pessoa começou a falar para a outra”. A ação ganhou corpo e as doações começaram a surgir. O grupo ganhou primeiro um fogão industrial, depois outro e depois outro.
Hoje 40 voluntários trabalham a sexta-feira em uma verdadeira linha de produção. No final da tarde as entregas são realizadas.
“Não ficamos felizes com isso. O correto seria que tantas pessoas não passassem fome. Não deveriam, mas não podemos esperar. Não adianta só apontar o dedo e cobrar”, diz Rosana.
Ela revela que representantes de comunidades procuraram o grupo pedindo ajuda, o que aumentou a necessidade de produção. “Hoje pedimos ajuda de amigos e das pessoas para fazermos as mil marmitas. Temos um grupo e a gente conversa constantemente”.
Histórias e amizades
Rosana conta ainda que as pessoas não buscam apenas a refeição. “Elas querem conversar. Querem contar suas histórias. No final das contas a gente fez amizades com essas pessoas da rua”.
Para elas as histórias de envolvimento com drogas e abandono dos familiares são as que mais sensibilizam. “São pessoas com depressão, síndrome do pânico, pessoas que são expulsas de casa.
Sabemos que existem ações sociais, mas elas não alcançam todos. As pessoas não se estabelecem”, ressalta, mostrando que faltam políticas públicas para que esses moradores em situações de vulnerabilidade possam ser inclusos novamente na sociedade, nas famílias e mercado de trabalho.
Não é só comida
Outro ponto apontado pela terapeuta é a necessidade das pessoas em vestuário e calçados. “Elas pedem. Elas necessitam e tentamos ajudar”. Além disso, bibliotecas em comunidades e distribuição de livros e revistas são feitas. “Não são analfabetas. São pessoas que gostam de ler e a leitura às vezes deve ser uma companheira na solidão que elas vivem”, diz.
Doações podem ser feitas no endereço rua Newton Stilac Leal, nº 80, no Jardim Irajá, local onde o grupo se reúne. “Nossa intenção é mobilizar as pessoas, não queremos que uma empresa doe tudo, é importante fazer a pessoa sentir que está ajudando”, finaliza.
Comida de qualidade é entregue aos mais carentes