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A Bolívia e sua Literatura (5): Víctor Hugo Arévalo Jordán

Víctor Hugo Arévalo Jordán é um escritor boliviano nascido em 1946 em Cochabamba. Aos 4 anos de idade foi levado pelos pais para morar em La Paz, onde permaneceu até os 36 anos. Em 1964, iniciou-se no teatro, em uma oficina religiosa, com representações dominicais reflexivas sobre a vida de Cristo, posteriormente apresentadas em La Paz. Em 1965, trabalhando em um estúdio de Arte Dramática, Jordán ampliou seus conhecimentos sobre o gênero, levando ao palco “Collacocha”, do peruano Enrique Solary, “Tres historias para ser contadas”, de Oswaldo Dragún; “El canto del cisne” e “El aniversário ”de Anton Chéjov; “El loco”, de Nikolái Gogol; “El soca­vón”, de Hiber Conteris; “El Diablo sefue al diablo”, de Guido Calabi Avaroa; “El cuento del zoo”, de Edala Albee; e “La azotea”, de Sergio Suares Figueroa. Nesta época, protagonizando um dos personagens da obra “El hombre de sombrero de Paja”, o autor ganhou o prêmio de melhor apresentação no evento Primeiras Jornadas Julianas, em La Paz. Após escrever várias obras teatrais, dentre elas, “La puerta” e “El Apocalipsis”, Jordán deixou o teatro, assumindo uma vida mais reservada.

“La puerta” (A porta), originalmente concebida como romance, foi posteriormente adaptada como comédia para o teatro, alcançando reconhe­cimento em todo o continente. Premiada, em 1968, no “Concurso Literário Franz Tamayo”, de La Paz, busca apresentar, em estilo existencialista, os problemas e as paixões de uma família por meio de formalidades educa­cionais por ela praticadas. “Los Augures”, em sua versão de 1968, foi escrita concomitantemente à mudança do autor para Umala, cidade localizada a 4.500 metros acima do nível do mar, quando o mesmo decidiu trabalhar como professor rural. Sua primeira parte, apresentada com o nome de “O Apocalipse”, constitui-se como poesia religiosa, encenada em três partes, nas quais várias artes como coro, orquestra, balé e declamação teatral tive­ram que ser reunidas. Considerada modernista, exerceu influência cultural no Peru, Chile, México, Argentina e Haiti. Nela, Jordán critica a força, a inteligência e o sentimentalismo que tumultuam as fontes do subconsciente.

Em “La última sinfonía del mago: El mar de las gaviotas”(poesia, 1976), o autor se inspira nas asas das gaivotas, ao vento do deserto, identificando o voo destas como uma viagem eterna, que renasce na magia do movimento, despertando esperança em quem as observa. Essas gaivotas, indo e vindo do vazio, parecendo mostrar-lhe que a sombra e a solidão são elementos que compõem uma morte que nunca é totalmente um fim, uma vez que recomeça. Em 1977, o autor publica a coletânea de poemas “Soledad, hoy”, buscando, através da denúncia social e da melancolia, mostrar o homem como vítima do meio ambiente e da solidão. Nesses poemas, retomando a solidão, a melancolia e a “morte” de Deus, da falta de comunicação do homem, da sua dor, do pecado e do sentido do destino, Jordán reflete como se dá a transformação de um mundo de conflitos em um mundo humano.

Em 1978, “La noche de los elegidos” surge similar às moralidades, da Alta Idade Média, porém adaptada aos costumes e à linguagem do século XX. Nela, as personagens Runa Sua e Luntata representam os dois aspectos da alma do ho­mem. Runa Sua é o lado negativo, ódio, ressentimento, egoísmo; enquanto Lun­tata representa o amor, a sensibilidade espiritual. O tema central, a disputa pelo fogo, é a luta perene que o homem sustenta em cada minuto crítico de sua vida. Como um fio condutor, fala-se da “noite dos eleitos” e o ladrão de almas não pode ser outro senão Cristo. Com isso, Jordán conseguiu uma belíssima obra de viés alegórico. Em 1982, “Geometrías del dolor”, estruturada em três partes, che­ga ao público. Jordán, partindo das geometrias do passado, das memórias e das idas e vindas de seus ancestrais maternos, mostra como transitoriedade e eternidade permitem interpretar sombras e medos engendrados.

Em 1992, “Recuerdos y silêncios” traz poemas que emocionam ao tratar da “sensação de universo”, aqui retomando um termo de Paul Valéry, que habita o homem. Nas palavras da crítica: “O poeta [Jordán] é aquele que não esqueceu o que é sentir, e sua poesia é aquela que produz uma emoção clara. Aprofundar o discurso lírico é, então, sentir seu significado, pois a palavra poética direciona seus receptores para as sensações, as emoções, o choque estético, uma espécie de raio que desliza sinuosamente, ao longo do habeas poético”. Em 1993, “Testimonio” chega para renovar a abordagem do Homem bom que, sem perder a fé, a esperança e a generosidade no trato com os outros, combate nas fronteiras de seu próprio espaço-tempo. Nas palavras do crítico René Pomarino, da Universidad de Salta (Argentina), “Como a produção humana é poesia, é criação e é íntima confissão de cará­ter universal, ela, e a poesia de Jordán é um exemplo disso, nos faz ver que o cosmos, em relação direta ao modo como o homem age, dá sinais de dor ao se encontrar impotente em sua solidão e sujeito a transformações naturais”.

Em 1982 passou a residir em Santa Fé (Argentina). Entre 1971 a 1973, Jordán radicou-se na costa do Pacífico, especificamente em Mollendo (Peru). Atualmente, o autor continua a dedicar-se à literatura e também atua como professor universitário.

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