Por Maria Fernanda Rodrigues
Taiye Selasi nasceu em Londres, filha de mãe nigeriana e pai ganense, em 1979. Yaa Gyasi nasceu em Gana uma década depois As duas cresceram nos Estados Unidos.
Por uma coincidência editorial, elas tiveram livros publicados na mesma época no Brasil, por editoras diferentes. Adeus, Gana (Tusquets) é o romance de estreia de Taiye, lançado originalmente em 2013. Reino Transcendente (Rocco), publicado em inglês em 2020, é o segundo de Yaa, revelada com O Caminho de Casa, sucesso de crítica e público. Os dois romances têm traços parecidos: contam histórias de famílias ganenses vivendo nos Estados Unidos, com dramas que se aproximam e feridas diferentes
Em Reino Transcendente, o pai deixa a mulher e os dois filhos para trás nos EUA. Viver lá era o sonho dela, que queria um bom futuro para o primogênito – mas ele não dá conta e volta provisoriamente para Gana e lá fica, para sempre. Adulta, a menina, que mal conviveu com o pai, se torna uma neurocientista e dedica sua pesquisa a entender o vício em opioides, que matou seu irmão adolescente (um atleta promissor que se viciou após um acidente banal num jogo irrelevante), e a depressão, que levou sua mãe a afundar numa cama após a morte do garoto. Enquanto passa as horas no laboratório com seus ratos, memórias e a imagem da mãe em sua casa, ela busca uma forma de conciliar fé e profissão.
TRAUMAS
Em Adeus, Gana, o pai, um imigrante ganense que se tornou um importante médico nos Estados Unidos, também deixa a família – ele sai de casa sem qualquer explicação, abandonando a mulher e os quatro filhos, e morre 16 anos depois, em seu país de origem. Seu abandono marcou cada membro daquela família de uma maneira, e isso é retratado na obra a partir do ponto de vista deles, e os afastou. Agora, estão todos juntos, com seus fantasmas e traumas, enterrando o pai.
Lançado em 16 países, o livro de Taiye Selasi conta uma história de não ditos. De busca por pertencimento, aceitação, identificação, identidade e amor – dentro de uma família. Adeus, Gana é ainda um livro que reafirma o cuidado que devemos ter com as crianças, já que é sobretudo o que vivemos na infância que vai nos definir como pessoas. Uma história triste e bonita, que mostra que há espaço para reencontros e conexão, que dá para juntar nossos cacos mesmo quando não é possível consertar tudo, mesmo quando chegamos tarde demais.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.