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Os Desafios de Estudar a Percepção de Tempo (4): A influência da atenção

Por que quanto mais prestamos atenção à passagem do tempo, mais rapidamente ele parece passar? Por que prestar atenção ao tempo determina fortemente nossa experiência de duração temporal? De fato, todos nós experienciamos, de alguma forma, a lentidão ou a velocidade da passagem do tempo. Alhures, nós distinguimos duas categorias de julgamento de duração temporal, a prospectiva e a retrospectiva. No caso da duração retrospectiva, tem sido registrado que os processos mnemônicos podem ser considerados o coração da duração percebida. Ademais, é claro que a atenção também exerce certa in­fluência sobre a duração relembrada. De fato, há um fenômeno reconhecido no campo da percepção de tempo que consiste de um efeito de espera que pode ser refletido no velho adágio: “uma panela observada nunca ferve”.

Para testar experimentalmente esse velho adágio, Simon Grondin, no livro “The perception of time: your questions answered” (2020), relata que alguns estudiosos da percepção de tempo quiseram conhecer se o tempo parece maior quando esperamos até a água vir a ferver. Para isso, solicitaram aos participantes que se sentassem diante de uma chaleira cheia de água fervendo em um fogareiro. Em seguida, foi-lhes dito que eles po­deriam retornar quando o experimento tivesse pronto; enquanto que, para alguns partici­pantes, foi-lhes dito para alertar o experimentador que estava em uma sala adjacente para verificar se a água estava fervendo. Em ambos os casos, em nenhum momento foram dadas instruções sobre mensuração do tempo. Após 4 minutos, o experimentador retor­nava e requeria aos participantes para fazer avaliação verbal do tempo transcorrido desde o começo de sua ausência até seu retorno. Os dados foram interessantes, uma vez que, aos participantes que tinham recebido instruções adicionais para monitorar a possível fervura da água, foi revelada uma percepção de tempo maior. Ou seja, eles superestima­ram a duração comparada aos participantes do grupo-controle. Em resumo, julgamentos retrospectivos são influenciados pelas expectativas sobre os eventos à medida que os eventos se desdobram.

Em relação aos julgamentos prospectivos, a atenção também desempenha um papel-chave em determinar a duração percebida e em cometer mais ou menos erros na estimação de tempo durante julgamentos de tempo feitos prospectivamente. Em outras palavras, a atenção dada ao tempo durante o intervalo a ser julga­do é crucial, mas deve ser notado que a preparação da atenção, tanto antes do intervalo ser julgado quanto a duração do intervalo entre as tentativas, pode influenciar o resultado, bem como, a ritmicidade dos eventos também influencia a duração percebida. Grondin também chama a atenção para o fato de as propriedades atentivas dos estímulos que podem ocorrer entre os intervalos de tempo e que podem ter influência na duração de tempo percebida.

A evidência mais convincente sobre o papel da atenção, em psicologia experimen­tal, são as oriundas de uma estratégia conhecida como tarefa-dupla ou tarefa-concor­rente. Em geral, isto ocorre quando se analisa em que extensão avaliar duas tarefas ao mesmo tempo afeta a qualidade e o desempenho em cada uma delas. Obviamente a demonstração é baseada na comparação com o desempenho quando cada tarefa é realizada separadamente. Num estudo típico envolvendo julgamento duplo, os partici­pantes devem produzir uma série de contínuos toques de dedos para produzir intervalos de dois e cinco segundos. Durante a execução da tarefa temporal, os participantes têm de completar, simultaneamente, uma de três tarefas: rastrear perseguindo um rotor; uma fonte virtual envolvendo destratores; ou uma operação mental aritmética com cálcu­los mais ou menos complexos. Os resultados desse interessante estudo, mostraram que, independente da natureza da tarefa secundária a ser completada, a variabilidade dos intervalos produzidos é muito maior na situação envolvendo tarefa dupla, e se os intervalos produzidos duram por dois ou cinco segundos.

Outros estudos têm explorado a estratégia da tarefa dupla para mostrar o papel da atenção no tempo psicológico. Estes, não apenas usaram a tarefa dupla, mas, antes de cada tentativa, os participantes tinham que designar uma porcentagem de seus recursos atentivos para cada uma delas. Essa estratégia mostrou, especialmente para as tarefas de discriminação de intervalo, sejam estas delimitadas por sons ou por flashes de luz, que uma maior porcentagem de atenção dada ao tempo leva a um nível mais elevado de dis­criminação e a uma duração percebida como sendo muito maior. Tomados em conjunto, esses estudos revelam que, em condições de julgamento de tempo prospectivo, a maneira como nós distribuímos nossos recursos atencionais tem um grande impacto sobre nossa experiência de tempo. Se divergimos nossa atenção do tempo por causa de uma distração ou porque nós o compartilhamos entre diferentes tarefas e atividades, isto resultará em maior variabilidade de julgamentos de tempo e a duração será percebida como mais cur­ta. Por outro lado, prestar atenção ao tempo, tendo expectativa sobre ele pode ter o efeito de percebê-lo como sendo muito maior. Tal padrão de resultados permanece mesmo para julgamentos retrospectivos.

Com os julgamentos prospectivos podemos interpretar os resultados destacando o papel da atenção dentro de uma abordagem cognitiva “supondo a existência de um reló­gio cognitivo”, mas também podemos supor a hipótese de um relógio interno. Neste caso, a atenção terá um papel similar a um interruptor ou a uma comporta. Um interruptor determinará os momentos durante os quais ocorrem atividades de cronometragem. A comporta, por sua vez, determinará a magnitude do fluxo de chegada dos pulsos durante a cronometragem, com mais atenção sendo dada ao tempo aumentando-se esse fluxo e, como resultado, à duração percebida.

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