As entidades que integram o grupo SOS Lar Santana vão apresentar, na próxima segunda-feira, 8 de novembro, uma proposta de preservação e ocupação do prédio a autoridades municipais e população. O evento será realizado às 19 horas, na sede da Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp).
A proposta foi construída a partir de sugestões colhidas por integrantes do movimento junto a várias instituições da sociedade civil e foi executada pela arquiteta Gabriela Palmeira, que integra o grupo de voluntários. A ideia do projeto é apresentar à prefeitura de Ribeirão Preto – dona do imóvel – a proposta de criação de um espaço multidisciplinar, que envolva a oferta de cursos de formação profissional, música e oficinas de artesanato.
Também estão previstos projetos de história oral, que permitam o aproveitamento das memórias de cidadãos da terceira idade – em grande número na região da Vila Tibério – e o compartilhamento com crianças e jovens, como forma de se reforçar os laços entre pessoas e local, fortalecendo o sentimento de comunidade.
Uma das propostas-base é a criação de um Café Cultural, localizado no térreo do imóvel, com o objetivo de tornar possível a ocupação noturna do prédio, a geração de recursos – ainda que mínimos – destinados ao autofinanciamento do espaço.
A ideia do café está assente em dois grandes eixos: Experiências Gastronômicas e Encontros com a Cultura, com a apresentação de grupos musicais e de teatro, sessões de leitura de livros, contações de histórias do bairro e da cidade. O Lar Santana fica na rua Conselheiro Dantas nº 984, na Vila Tibério, Zona Oeste da cidade.
O grupo de entidades que formam o SOS Lar Santana também entende ser importante que toda a mão de obra utilizada no café seja preferencialmente local e alvo de projetos de qualificação profissional, vindos de parcerias com instituições interessadas em participar da ideia.
A cerimônia de apresentação da proposta de restauro/requalificação do Lar Santana será aberta, gratuita e não é necessária inscrição prévia para participar. O grupo SOS Lar Santana é formado por empresários, historiadores, advogados, profissionais liberais e representantes de instituições como a Acirp, Associação de Moradores da Vila Tibério (Amovita), Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), entre outras.
História
Fundado em 18 de janeiro de 1948, o Lar Santana nasceu com a missão de acolher crianças carentes. O orfanato sobreviveu durante décadas, até que em dezembro de 2014 a Ordem das Franciscanas anunciou sua desativação. Em 2015 a congregação optou pelo fechamento, já que o prédio de mais de 70 anos exigia um elevado investimento para a renovação do alvará do Corpo de Bombeiros.
No mesmo ano o prédio foi tombado pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural (Conppac). A Câmara aprovou a lei ordinária municipal nº 13.432, de 22 de janeiro de 2015, instituindo o imóvel como patrimônio cultural, histórico e arquitetônico do município. Em 2016, o Legislativo aprovou a permuta do imóvel com dois terrenos municipais de valor de mercado equivalente (cerca de R$ 6 milhões) – lei complementar nº 2.791, de 31 de agosto.
O Lar Santana tem grande valor histórico por sua importância para a Vila Tibério e também por ter ocorrido lá a única prisão de uma religiosa feita pelo regime militar – em 1969, a ditadura prendeu a madre Maurina Borges da Silveira, depois torturada e vítima de assédio sexual na delegacia seccional de Polícia. Seus torturadores foram inclusive excomungados pela Igreja Católica. Libertada, banida do país e asilada no México, madre Maurina retornou ao Brasil e faleceu em 2011.
O agora prédio público municipal localiza-se no quadrilátero das ruas Conselheiro Dantas, Aurora, Jorge Lobato e Conselheiro Saraiva, totalizando 7.863,38 metros quadrados, tendo sido avaliado em R$ 5.970.954,13. Madre Maurina Borges da Silveira, a freira presa, acusada de subversão, torturada e banida do país durante a ditadura militar, morreu em março de 2011, em Araraquara, onde vivia num convento de sua comunidade, a Congregação das Irmãs Franciscanas da Imaculada Conceição. A freira tinha 84 anos e sofria do mal de Alzheimer.