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O Dia da Favela

ALFREDO RISK

A palavra ‘favela’ apareceu pela primeira vez no mundo em um documento oficial de 4 de novembro de 1900. Em função disso, a data passou a ser reconhecida internacio­nalmente como o Dia da Fa­vela, como forma de lembrar à sociedade a existência destes núcleos habitacionais urbanos sem infraestrutura de todos os tipos para seus moradores. A data é adotada em 17 países e em 200 cidades brasileiras.

Em 2006, a participação da Central Única das Favelas (CUFA) foi fundamental para que a data passasse a ser co­memorada no estado do Rio de Janeiro e entrasse no Calen­dário Oficial da cidade. Desde então, o dia também passou a ser lembrado em outros muni­cípios brasileiros. Atualmente a Central atua em cerca de 5 mil favelas no Brasil e em mais 17 países.

Para lembrar, a CUFA de Ribeirão Preto realizará na Favela do Adelino Simione, na zona Norte da cidade, um dia especial para os cerca de cinco mil moradores daque­la comunidade. O objetivo é destacar a luta e resistência dos moradores.

Palavra ‘favela’ apareceu pela primeira vez no mundo em um documento oficial de 4 de novembro de 1900

O evento começará às 14 horas com atendimento em serviços básicos de saúde, ca­beleireiro, roda de conversa, prevenção à saúde da mulher e realização de desenhos gra­fite. Já a partir das 18 horas serão realizados shows com atrações, como B-boys, en­contro de DJs e artistas locais. No total, mas de 140 pessoas – entre profissionais e volun­tários – estarão envolvidas na organização do evento.

Para o presidente da CUFA em Ribeirão Preto, Raphael de Paula, é preciso evidenciar a luta e persistência dessas pes­soas, que diariamente, enfren­tam problemas básicos para a sobrevivência. “Mas, que mes­mo diante das adversidades continuam sonhando e lutan­do para mudar para melhor a realidade em que vivem”.

Raphael lembra que duran­te a pandemia a CUFA partiu para o trabalho de assistencia­lismo, dar comida a quem tem fome. Partindo desse princípio a CUFA Nacional desenvolveu parcerias com empresas priva­das que viabilizou ações como o “Panela Cheia” e “Mães da Fave­la Futebol Clube”, entre outros. São projetos nacionais que ali­mentaram mais de 5 milhões de famílias no país inteiro, in­clusive em Ribeirão Preto.

A CUFA além de pensar no alimento, também pensou em como essas pessoas esta­vam esquentando a comida, levando em conta o valor do botijão de gás que aumenta a cada dia. Uma parceria com a Ultragaz levou mais de 100 mil botijões de gás para as fa­velas do estado de São Paulo.

Outro aspecto que Ra­phael gosta de destacar é a substituição, pela sociedade, do termo ‘favela’ por ‘comu­nidade’. “Foi uma forma de a sociedade suavizar a ex­pressão”. Para a entidade, é importante usar o termo fa­vela em vez de comunidade, sem suavizar a palavra, pois ela causa um impacto maior. “Faz com que a sociedade enxergue de forma realista a população moradora dessas regiões, vítimas de grande preconceito, marginalização e de falta de oportunidades”.

Ribeirão tem mais de cem favelas
Levantamento da Central Única das Favelas (CUFA) revela que a cidade possui mais de 100 favelas regis­tradas. Porém, a entidade acredita que esse número pode ser bem maior levando em conta a crise econômica que o município – a exemplo do país e do mundo -, vive há quase dois anos por causa da pandemia do coronavírus. A estimativa é que cerca de 45 mil pessoas vivam nas favelas em Ribeirão Preto.

Raphael de Paula, presidente da CUFA Ribeirão: maior problema hoje é a fome

“A crise fez com que muita gente perdesse seus empre­gos e não tivesse mais con­dições de pagar aluguel, água e luz. Isso automaticamente faz essas pessoas irem para as favelas, onde essas contas na maioria das vezes são bai­xas ou nem existem”, afirma Raphael de Paula, presidente da CUFA Ribeirão Preto.

Em média, a última pesquisa feita pelo “Instituto Data Fa­vela”, apontou que existem 16 milhões de pessoas vivendo em favelas em todo o país.

Segundo Raphael é difícil apontar qual favela é mais precária em Ribeirão Preto, já que todas têm problemas específicos. Entretanto, as pesquisas realizadas pela en­tidade revelam que 78% das pessoas moradoras de favela dizem que o maior problema que eles estão enfrentando nesse momento é a fome. E 92% desses moradores precisam ou já precisaram de doações de alimentos para matar sua fome.

Raphael faz questão de destacar que o trabalho reali­zado não depende de verbas públicas, mas que o diálogo com quem está no governo é sempre importante, até por­que o trabalho da CUFA vai ao encontro do trabalho do Fundo Social de Solidarieda­de e também da Secretaria de Assistência Social do municí­pio. “Com esses dois órgãos em questão, sempre tivemos um bom relacionamento, em que procuramos alinhar os cadastros da melhor forma com o intuito de que todos nós possamos acertar o máximo na hora de ajudar a quem precisa”, afirma.

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