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Serenata à meia noite no cemitério
Nos Campos Elíseos havia um grupo de rapazes que se reunia na pracinha Santo Antônio, diante da Igreja e ao lado de onde era uma biblioteca municipal, posteriormente Delegacia de Polícia. Depois das brincadeiras dançantes em que os jovens compare­ciam de paletó e gravata em respeito às donzelas, todos para lá se dirigiam para trocar ideias da noite de sábado, principalmente. Cada um contava sua aventura, que não passava de um roçar de lábios na face da menina cobiçada para namoro sério.
Algumas mentiras se embaralhavam com as verdades, sempre com respeito e anonimato quanto às pretendidas. Vez por outra surgia uma ideia de aventura. Muitas vezes pegavam carona no posto do Abrão Assed, no final da Avenida Saudade para irem até Jardinópolis tentar namoros com as vizinhas, muitas vezes sain­do corridos da praça, pois a garotada defendia seu território.
São Simão também era local em que as meninas recebiam bem a todos para um bate papo. Era na pracinha que eles trocavam “figurinhas” sobre os feitos e escondiam os não feitos.

Serenata no cemitério
Dentre os rapazes havia um que cantava muito bem e tocava violão. Ele sempre estava com seu instrumento musical na praça tocando baixinho para não incomodar os vizinhos.
Certo dia o pessoal, depois das brincadeiras de sábado, alta madru­gada, resolveu pular o muro do cemitério e fazer uma serenata com as musicas de Nelson Gonçalves e outras badaladas à época.
Primeiro o tira teima. Quem tem coragem ou não. Todos batiam no peito e garantiam ser corajosos para a empreitada. E para o final da Avenida Saudade caminharam.
O muro da Rua Flávio Uchoa era mais baixinho e havia sempre uma pilha de tijolos para auxiliar no salto. Olham para um lado, verificam o outro e todos pulam para dentro do ‘campo santo’. Silêncio absoluto.

Voz forte e tonitruante
A voz do cantor era forte e tonitruante que preenchia os túmulos e capelas. Uma seleção musical dos tops musicais. Eis que senão quando quebram algumas cordas do violão. Como que saída das catacumbas alguém se aventura em reconhecer as qualidades vocais do cantor de vasta cabeleira: Aplausos e um “muito bem” surgidos do além.
Ninguém ficou para ver.
Todos correram para o portão principal diante do majestoso por­tal do Educandário na Saudade. Vários pularam, mas um com paletó mais agarrado ficou com os fundilhos preso em uma das lanças do grande portão. Ao longe os gritos eram ouvidos na ma­drugada: -“Socorro, me pegaram”, Gritava o jovem aventureiro, tremendo de medo de ser alguma alma do outro mundo.
Os colegas o retiraram da incômoda posição e todos voltaram para a pracinha para contar a proeza e “lamber as feridas”.

Tira teima
No dia seguinte, um deles foi de leve ao cemitério ‘assuntar’ e ouviu os funcionários comentando que alguns jovens haviam ido fazer uma serenata e um bêbado useiro e vezeiro em dormir em uma capela havia gostado da cantoria e resolveu aplaudir. Foi motivo do corre-corre. Passado o susto, todos empinaram o pei­to e se diziam plenos por terem realizado o desafio de entrar no cemitério na madrugada. Fatos da juventude dos Campos Elíseos quando não havia drogas e nem violência.

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