Tribuna Ribeirão
Cultura

Caetano Veloso lança ‘Meu Coco’

REPRODUÇÃO

Caetano Veloso lançou na sexta-feira (22), um álbum com 12 músicas inéditas. Seu material de estúdio mais re­cente havia saído há nove anos, Abraçaço. Meu Coco, título do novo disco, foi gra­vado durante a pandemia, em um estúdio caseiro que a produtora e mulher do artista, Paula Lavigne, pediu para ser construído na casa da família.

Mesmo abrindo mão de algumas ideias que não pu­deram ser realizadas com a chegada da pandemia, Cae­tano seguiu com a gravação do álbum e convidou o jovem músico Lucas Nunes para par­ticipar da produção a seu lado e pilotar a mesa de som, garan­tindo uma presença mínima de pessoas no local de grava­ção. Lucas, um amigo de colé­gio de Tom, filho de Caetano, toca vários instrumentos. “Ele cresceu praticamente em casa”, diz Caetano. Além de Lucas, poucos músicos foram ao estú­dio gravar seus instrumentos in loco. Assim, o álbum é um feito marcado, ao menos em sua produção, pela histórica pandemia da covid-19.

Caetano fala sobre essas condições. “Eu fui fazendo como dava para fazer. A pande­mia não determinou o clima do disco, mas interferiu bastante em sua produção. As pessoas que vinham aqui eram testadas e usavam máscara. Marcio Vi­tor (percussionista) tocou em uma faixa, Vinicius Cantuária (compositor e violonista) em outra e Marcelo Costa (bateris­ta) em outra. Um por um.”

Os arranjadores traba­lharam à distância. Thiago Amud mandou colaborações de Belo Horizonte; Jaques Mo­relenbaum, do Rio; e Letieres Leite, de Salvador. As grava­ções do que eles colocavam nas partituras eram feitas por nai­pes de músicos que também não iam ao estúdio do artista. E assim nasceu Meu Coco, um álbum com instantes de uma beleza profunda e muitas vezes triste, como a bela “Ciclâmen do Líbano”, um pedido de Ca­etano a Jaques Morelenbaum para que ele achasse uma sonoridade “que misturasse música árabe a Weber”; e um incômodo geracional forte em especial, Anjos Tronchos. Diz a letra: “Uns anjos tronchos do Vale do Silício / Desses que vi­vem no escuro em plena luz / Disseram: vai ser virtuoso no vício / Das telas dos azuis mais do que azuis”. E segue, descons­truindo demandas criadas por metadados: “Agora a minha história é um denso algoritmo / Que vende venda a vende­dores reais / Neurônios meus ganharam novo outro ritmo / E mais e mais e mais e mais e mais”.

É talvez Anjos Tronchos um dos discursos de reação mais fortes de Caetano. Não é o tom do álbum, que tem ain­da o axé minimal “Não Vou Deixar”, a doçura de “Autoaca­lanto”, feita ao neto Benjamin; a homenagem afro-terreira a Gil e Gal de “Gilgal”, e a presença da portuguesa Carminho no fado “Você”. Mas “Anjos Tron­chos” tem conflito e dialética. “Eu achei que não seria capaz de lidar com esse tema, mas acabei conseguindo. Concluir essa música foi uma vitória sobre mim mesmo.” Se o pró­prio Caetano se cuida para não apequenar o pensamento se expondo ao ritmo das plata­formas digitais, ele responde: “Eu sou muito velho para estar tomado pelo mundo das redes sociais. Não vejo muito Spoti­fy, quando pego no computa­dor dá tudo errado. Vivendo fora disso, a pessoa fica meio cética a respeito da possibili­dade totalizante e dominante desse mundo se desenvolven­do assim. A experiência huma­na pode enfrentar muita coisa que parece inelutável e na hora H continua a ser apenas a ex­periência humana. Temos de ir vendo e vivendo. Eu não me entrego não.

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