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Proteja sua mente

Acabo de fazer aniversário. Já são 39 carnavais, ou 14.250 dias, como me lembrou um anúncio de marketing de uma dessas empresas que roubam nossos dados e nos enviam mensagens. Fiquei pensando em Sêneca, filósofo estoico, que em sua obra “Sobre a Brevidade da Vida” traz algumas reflexões acerca da natureza do tempo e seu desperdício perseguindo objetivos sem valor ou sentido.

Às vezes acho que a vida é curta, mas, logo me lembro dos conselhos do aludido filósofo e reassimilo que temos tempo de sobra – o que faz pródigos e infelizes aqueles que esbanjam seu próprio tempo com coisas absolutamente inúteis ou que persistem no erro. Para Sêneca o Santo Graal da vida era aprender, se desenvolver enquanto pessoa. Faz sentido!

Há um ano e meio que vivo imerso em matérias jornalísticas e de opinião sobre política –tanto no que concerne ao Executivo, em maior medida, mas, também ao Legislativo e Judiciário. Ehá um cipoal de narrativas, discursos infla­mados, teorias da conspiração etc. Bem como um repetido discurso nos veículos midiáticos, como uma espécie de mantra. Porém, convém a nós separar o que é jornalismo daquilo que é apenas e simplesmente opinião. As coisas estão muito confusas nesse campo hoje em dia.

Matérias isentas, que visam abordar fatos e diferentes versões trazidas pelos envolvidos praticamente sumiram. O que importa mesmo é levar ao ar uma bancada de âncoras (todos de acordo entre si, às vezes numa semelhança de jogral), coroada com uma bancada de “especialistas”. Quando discordamos da­quilo que está sendo dito surge até uma ponta de apreensão: estaríamos loucos? Como seria possível que nós, meros “mortais”, pudéssemos discordar da opinião uníssona de jornalistas de “renome”, que são acompanhadas por uma bancada de “especialistas” convidados?

Existe um ditado popular que diz: “de médico e louco todo mundo tem um pouco”. Nada mais atual que isso em tempos de pandemia, concorda? Me lembrei ainda de um ditado de meu pai, que é médico: “a diferença entre o louco e o psi­quiatra é apenas o lado no qual cada um se senta na mesa do consultório”. Quero dizer, com isso, que não é necessário nos fazermos de rogados!
É preciso pesquisar sempre antes de tomar algo que nos dizem como uma verdade inexorável.

Ou seja, unir os pontos do saber, indagar o passado, antes de concluir pela veracidade daquilo que querem nos vender. Como no livro “O Alienista” de Machado de Assis, é inviável a tentativa de se definir a esfera da loucura, sob pena de incorrermos numa generalização. E, como já ensinava o filósofo francês Michel Foucault, se você não se ajusta aos padrões impostos pelas instituições (família, igreja, justiça etc.), logo, você é louco, desajustado. Meu conselho: mantenha a sanidade mental!!

Nessa esteira, convido você a pensar bastante sobre nossa República, que anda tão disfuncional. A Câmara dos Deputados votando para si um fundão elei­toral de quase 7 bilhões em meio à maior pandemia em 100 anos, com uma massa colossal de brasileiros passando fome. O Senado fazendo sabatina de araque para importantes indicações aos cargos de PGR e Ministro do STF, além de promover um verdadeiro circo numa CPI que deveria zelar pela maior mortandade de brasileiros desde a gripe espanhola (e cujo Relator é ninguém menos que Renan Calheiros).

O STF instaurando, chancelando e conduzindo inquérito policial de ofício, que tem por objeto aquilo que o Ministro Relator achar que é conveniente, bem como matando no ninho a Operação Lava-Jato, dizendo que a 13ª Vara Federal de Curitiba é “incompetente”, mesmo tendo dito o contrário durante 07 anos – o que levará à prescrição da maioria dos delitos cometidos (nós, os brasileiros, vamos ter que devolver o dinheiro aos réus confessos e ainda pedir desculpas!). E, claro, o Presidente da República Jair Bolsonaro, que já abdicou de governar e vive de claque, comícios e inaugurações Brasil afora, pouco se importando com o povo, mas sim com o Poder (e sua reeleição).

Enfim, há uma miríade de problemas a resolver, que estão espraiados em todos os Poderes da República e que são tão antigos quando a chegada das caravelas de Pedro Álvares Cabral. É difícil desatar tantos nós? Sim, é claro! Mas, como diria outro ditado: “a primeira lei para quem caiu no buraco é parar de cavar”. E, nesse sentido, fico estupefato vendo a quantidade de pessoas que idola­tram Bolsonaro. E também estarrecido com uma quantidade igual ou maior que idolatram Lula. Seguramente, teremos alternativas em 2022. Prefiro ser taxado de isentão ou de maluco, pode apostar!

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