Se é aconselhável preparar-se para assistir um filme, eis que surge um seriado que conquistou, de repente, 11 milhões de perfis de assinantes, nas primeiras semanas de sua apresentação, agora como sucesso da Netflix. É o Round 6.
É uma história de miséria e violência inspirada numa área de Seul, capital da Coreia do Sul, em que 456 pessoas endividadas e sem emprego aceitam lutar entre si, no estilo de jogos infantis e mortais, seduzidos pela oferta de milhões de dólares. O equivalente a USS 38,5 milhões em dinheiro.
A Coreia do Sul ocupa a metade sul da península da Coreia, seu território tem 100 mil quilômetros quadrados e sua fronteira seca é com sua co-irmã, a Coreia do Norte, hoje separadas ideológica e politicamente, depois de forte e prolongado embate militar, no qual a retaguarda de um era abastecida pela China, e a de outro pelos Estados Unidos.
Sua história é milenar. Sua cultura é milenar.
Até o ano de 1960, a Coreia do Sul era considerada pobre e atrasada. Com o investimento maciço do Estado os índices de desenvolvimento foram surpreendentes. É o jornalista Tony Goes quem o diz: “Hoje a economia sul-coreana é a décima maior do mundo e ultrapassa a brasileira, que caiu para 12º lugar.
Não é exagerado lembrar que a Coréia do Sul tem 100 mil quilômetros quadrados, contra os mais de oito milhões do Brasil, e que seus recursos naturais são muito mais limitados” (Folha ilustrada,8/10/2021). A sua estrutura é capitalista, contrapondo-se à sua co-irmã, que celebra uma estrutura política, fechada, em nome do comunismo, que desenvolveu um arsenal de bombas atômicas. Essa realidade ameaçadora, ora por vez, faz os Estados Unidos aplicarem sanções, ou se reunirem para diminuir as tensões ativadas por testes nucleares, ou de armas, naquele pedaço da Ásia Oriental.
A Coreia, com identidade cultural de 2000 anos, desenvolveu-se tecnicamente, mas socialmente desigualou o metro da justiça social. Nisso estamos juntos, mas o que nos distingue é o passivo social dos efeitos perversos da escravidão.
A arte cinematográfica, como nenhuma arte, não é monopólio dos países considerados desenvolvidos. As vezes, até um curta metragem explode de prazer a sensibilidade e o senso estético de quem o assiste, independente da riqueza do seu país de origem. Mas, quando há investimento maciço na educação fica aberto o caminho da redenção pelo saber das letras, pelo olhar mais aguçado, pelo incentivo à criação e pela base material, física e psicológica, que serve de trampolim sucessivo para uma evolução espiritual e criativa livre e segura.
Em 2020, outro filme denominado Parasita foi vencedor do Oscar. Em 93 anos de concurso de premiação, ele foi o primeiro celebrado em língua não inglesa.
Deve-se assim, dizem-me, à força do progresso material e artístico da Coreia do Sul. Só que esse sucesso cinematográfico esbarrou na campanha negativa de sua co-irmã, já que o seriado também se esmera na figura de uma desertora, que se coloca na disputa violenta, querendo ganhar a vultosa quantia em dinheiro para tirar seu irmão mais novo de um orfanato, na Coreia do Norte, e a mãe detida na China, após sua fuga.
A Coreia do Norte, na sua campanha contrária e negacionista, ataca o capitalismo como fonte de miséria, desemprego e violência, pois, o que preside tal estrutura é só o dinheiro.
O certo é que lá no Paraná, em São José dos Pinhais, a direção da escola Pequeno Polegar enviou carta aos pais de seus alunos, desaconselhando a permissão para seus filhos assistirem o Round 6.
Um filme pode despertar a vontade de se conhecer um país, sua música, sua arte, sua culinária, sua cultura, a identidade cultural, o dia a dia de seu povo. No caso da Coréia do Sul a arte do cinema é que tem ocupado esse patamar de curiosidade, mas no campo da filosofia Byng Chul Han, mestre e professor em Universidades da Alemanha, é o filho coreano ilustre, cujos livros tem abastecido a inteligência do mundo.