A pandemia está deixando um legado de divisões profundas em todo o mundo. Um estudo feito pelo instituto americano Pew Research Center constatou que seis a cada dez pessoas ouvidas em pesquisa realizada em 17 países relataram que as divisões nacionais pioraram desde o início do coronavírus.
No Brasil, os noticiários mostram que, tanto no Legislativo como no Executivo, vários políticos têm usado a posição que ocupam para incentivar a população a se opor às medidas de distanciamento social e mesmo às simples medidas como o uso de máscaras.
A mais recente declaração polêmica foi a do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que afirmou, há alguns dias, que o uso de máscara não deveria ser uma obrigatoriedade como defendem as autoridades de saúde pública para a prevenção da covid-19.
A polarização também ganhou espaço formal em Ribeirão Preto que, na sexta-feira (15) e no sábado (16), sediou o Congresso Nacional Conservador 2021. O evento reuniu presencialmente trezentas pessoas que se nominam conservadores.
Segundo o organizador, Camilo Calandreli, o foco do Congresso foi ocupar os espaços de forma estratégica e com inteligência, instrumentalização e principalmente com a mobilização de toda a sociedade.
“Elegemos o presidente Bolsonaro e diversos parlamentares em 2018, agora é o momento de ampliar esse trabalho e adquirir as ferramentas adequadas para continuarmos com os avanços em prol do desenvolvimento do Brasil”, afirma.
A realização do Congresso foi idealizada pelo Grupo “Somos Brasil”. Fundado em 2021 o grupo é composto por profissionais nas mais diversas áreas de atuação na política conservadora.
Sentimento de divisão aumentou
Em 12 dos 13 países pesquisados, o sentimento de divisão aumentou significativamente entre 2020 e 2021 − em alguns casos em mais de 30 pontos percentuais. Ao todo, 61% das pessoas pesquisadas acreditam que estão mais divididas por diferenças de pensamento. Apenas 34% sentem-se mais unidas. O trabalho foi baseado em mais de 18 mil entrevistas feitas no primeiro semestre deste ano.
A maior polarização foi encontrada nos Estados Unidos onde 88% dos americanos dizem que estão mais divididos do que antes da pandemia, a maior proporção que sustenta essa opinião em todos os lugares pesquisados. A maioria dos canadenses também afirmou que seu país está mais polarizado. Na Europa, a maioria em sete das nove nações pesquisadas disse que a sociedade está mais polarizada do que antes da doença.
O estudo revelou que ideologicamente, na maioria das nações, aqueles que se identificam à direita do espectro político são mais propensos a condenar restrições para conter o coronavírus, do que aqueles à esquerda. Em média, 46% dos entrevistados afirmaram que sua economia está se recuperando dos efeitos do surto da covid-19, demonstrando força de seu sistema econômico.
Mas uma proporção quase igual acredita que as dificuldades de recuperação da economia expõem os pontos fracos de sua economia como um todo. Essa visão negativa é mais prevalente entre as pessoas que queriam menos restrições durante a pandemia.
Desigualdade cresceu mais no Brasil
O desempenho econômico brasileiro foi pior do que o de outros 40 países. Esse é o resultado de uma pesquisa feita pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV Social), com dados internacionais do Gallup World Poll, que mostra a percepção da população em relação às políticas públicas de saúde, educação e meio ambiente. O desempenho brasileiro nas três esferas do poder público foi pior do que o de outros 40 países.
Os dados, colhidos antes e depois do início da pandemia, destacam ainda que a deterioração social brasileira foi mais forte entre a população de renda mais baixa. Na Educação, a satisfação dos 40% mais pobres caiu 22% no Brasil e 2,38% no mundo. Esse porcentual reflete a piora de dados educacionais na prática.
O tempo médio de estudo diário na população de 6 a 15 anos caiu para 2 horas e 18 minutos, enquanto o mínimo legal é de 4 horas. Entre os mais pobres, esse tempo ficou abaixo de 2 horas, e nas classes A e B ficou acima de 3 horas, o que aumenta o abismo social. Isso sem contar que muitas crianças deixaram de estudar porque não tinham celular ou computador disponível e porque as apostilas não chegavam até elas.
Na Saúde, houve queda de 10,5% entre os brasileiros mais pobres, e alta de 2,28% na média dos demais países. A situação se inverte entre os 40% mais ricos. No Brasil, a satisfação dessa faixa da população subiu 0,5%; nos demais países caiu 0,08%. Em relação às políticas ambientais, houve piora em todas as faixas de renda, enquanto a percepção melhorou no resto do mundo.
Um recente levantamento da Central Brasileira de Favelas (Cufa) – que incluiu Ribeirão Preto – mostrou que a fome e a miséria aumentaram, nos últimos meses. Segundo o levantamento, as doações de alimentos e cestas básicas feitas por voluntários para as comunidades carentes diminuíram 80%. Isso porque as pessoas que tinham condições de doar, agora não tem mais como colaborar em função do agravamento da crise econômica. Ribeirão Preto tem, segundo a Cufa, 105 núcleos de favelas com cerca de 50 mil moradores.