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Cultura

Marisa Orth comemora 40 anos de carreira com monólogo ‘Bárbara’

Por Ubiratan Brasil

Marisa Orth jura que não se importa com datas comemorativas, mesmo completando agora 40 anos de carreira. “O período não é importante, mas o trabalho: veja Amy Winehouse e James Dean, que viveram pouco, mas deixaram um importante legado, lembrado até hoje”, justifica ela que, ainda assim, decidiu enfrentar um desafio para marcar o momento: interpretar o monólogo Bárbara, que estreia no dia 22, no Teatro Faap.

Trata-se da livre adaptação do livro A Saideira (Editora Planeta), em que a jornalista Barbara Gancia narra sua luta de anos contra a dependência alcoólica. Um relato franco, sem rodeios, sobre a transformação física provocada pelo consumo constante da bebida. “O livro é forte, corajoso, e cuja força está na linguagem ao mesmo tempo ferina e bem-humorada da Barbara, ou seja, algo que não seria fácil de levar ao teatro”, comenta Marisa, que foi convencida do contrário pelo diretor Bruno Guida.

Ele também duvidou, no início, de que conseguiria transpor o texto literário para o palco. “Barbara escreve com muita personalidade, rindo do próprio problema, o que me fez pensar na figura do bufão, personagem que se comporta de modo cômico, até ridículo, mas que usa o humor e a ironia para expressar suas ideias”, observa o encenador, que encontrou em Marisa Orth a atriz ideal para viver esse papel. “Ela sabe balancear, como poucas, a tragicidade e a comicidade.”

Faltava ainda resolver a dificuldade da adaptação, solucionada com a participação da dramaturga Michelle Ferreira, que pinçou algumas situações do livro, criou outras e ainda incorporou histórias narradas durante o processo de ensaio. “Meu primeiro porre, por exemplo, está no texto”, conta Marisa.

Em seu primeiro monólogo, a atriz encena uma conversa com a plateia, ora divertida, ora trágica. “Já me dirijo ao público na primeira cena, avisando que não se trata de uma comédia, mas de uma história que também tem humor”, comenta Marisa que, ao ler o livro de Barbara Gancia, identificou uma estrutura semelhante à da via-crúcis, ao revelar o agravamento dos problemas da jornalista até sua regeneração. “Hoje, longe do álcool há muitos anos, ela vive muito bem.”

Guida decidiu apostar nos diversos recursos cênicos de Marisa, mantendo um cenário praticamente limpo, o que ressalta a força da sua presença.

Como no livro, a personagem Bárbara revela, na peça, como descobriu a bebida pela primeira vez, aos 3 anos, virando o resto que sobrou nos copos de uma festa em sua casa. Depois, aos 6, descobriu o licor que recheava os chocolates da mãe, e, aos 9, bebia ponche escondida. Formada em Psicologia, Marisa compreende esse problema, que resulta em psicopatia, ou seja, alterações no comportamento. “O consumo legal de álcool no Brasil é uma espécie de genocídio e envolve até crianças, atraídas por bebidas doces”, observa. “Começa com alegria, mas a festa logo se transforma em algo ruim.”

Para que a atriz encenasse esses momentos com delicadeza, foi importante a participação de Fabricio Licursi, responsável pelo suporte cênico na criação de movimentos críveis como, por exemplo, o próprio nascimento da menina Bárbara.

“O trabalho de Fabrício tornou-se tão importante que ele também está em cena, interpretando um contrarregra que auxilia Bárbara na contação de sua história”, explica o diretor, para quem o humor é decisivo na boa compreensão da peça. “Ao contar a história de Bárbara, estamos falando principalmente de compulsão e não apenas de alcoolismo, e isso inspira situações tragicômicas.”

Para o bom andamento do projeto foi decisiva a aprovação de Gancia, que assistiu a um ensaio – e gostou. “No início de cada cena, ela antecipava qual seria o fim da história. Também corrigiu algumas informações. Foi divertido e também emocionante”, recorda-se Guida.

“Barbara nos ensina a rir de nós mesmos, mesmo com todas as dificuldades”, acrescenta Marisa. “Tanto que não falamos em ‘vício’, que tem uma conotação de falta de caráter. Falamos de cura. O monólogo não é trágico como o filme Farrapo Humano, de Billy Wilder, cujo final é muito triste. Aqui, mostramos ao público que é um mal curável.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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