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Ary Barroso e seus causos

Ary Barroso era uma figura. O talento saía por seus poros, sua cabeça vivia em processo de criação dia e noite, e dali surgiam coisas de todas as áreas. Veja essa: no esporte, era narrador de jogos de futebol, mas como lá da cabine de transmissão ele tinha dificuldade pra saber as notícias do que rolava nos gramados, criou o repórter de campo. Isso revolucionou as transmissões esportivas.

Era Flamengo doente, quando narrava gols de seu time fazia o maior fuzuê. Mas quando o gol era do adversário, ele mal humorado dizia: “ÍÍÍh, gol dos caras!!!” Ary era mineiro de Ubá, perdeu os pais aos sete anos, foi criado pela avó, que era professora de piano, e logo cedo se interessou pelas teclas, tornando-se um músico excepcional.

Você que talvez não tenha ouvido falar de Ary Barroso, vou contar sobre algumas músicas de sua autoria: “Camisa amarela”, que cantei muito; “No rancho fundo”, também cantei muito; “Aquarela do Brasil” e muitas outras. Essa última ele compôs numa noite em que chovia muito, e decidiu não sair pra boemia pra tocar nos bares. Ficou em casa na companhia de uma garrafa de uísque e seu velho piano. Justamente nessa noite ele compôs duas músicas: “Aquarela do Brasil” é uma das mais gravadas no mundo.

Saiu de sua Ubá, mudando-se para o Rio de Janeiro, onde queria estudar direito e prestar concurso para promotor. E foi promotor. Chegou ao Rio com 40 contos de réis doados pelo tio, gastou tudo em farra. Naquela época, a boemia era uma delícia e ele se encantou com a noite carioca. Deixou a promotoria depois de passar em difícil concurso e decidiu viver de música.

Foi uma pedreira, mas numa sacada genial, percebeu que colocando música nos cinemas, cujos filmes eram mudos, o ambiente ficava mais interessante. E lá foi ele. Quando a cena do filme era aquela coisa amo­rosa, ele tocava melodias melosas. Mas quando o mocinho com seu cavalo corria atrás do bandido, Ary descia a mão no piano. A moda pegou, e os músicos que viviam no maior perrengue acabaram empregados, viveram bem até que chegaram os filmes com som. Então todos se lascaram.

Os problemas financeiros de Ary foram resolvidos quando foi descoberto por Walt Disney, gênio dos desenhos americanos, que o convidou pra compor a trilha sonora de seu filme “Você já foi à Bahia?”. Nosso compositor mudou-se para os Estados Unidos e suas composi­ções ganharam fama mundial. Como lá os direitos autorais são direitos autorais, suas músicas lhe garantiram polpuda aposentadoria.

Ainda sobre direitos autorais, uma noite na casa do saudoso maestro Paulo Lakimé, estávamos numa resenha com Antonio Carlos e Jocafi (era lá que eles ficavam quando faziam shows pela região) e no bate­-papo Antonio Carlos disse que depois que Steve Wonder gravou deles “Você abusou”, financeiramente estavam numa boa porque a grana vinha do mundo inteiro na conta deles.

Sei muitas histórias de Ary Barroso, mas quero encerrar com essa que acho o máximo. Ele adorava bar, e perto de sua casa tinha um. Acontece que, num sábado, final de tarde, sua filha levou o namorado para conhecer a família e perguntou: “Mãe, cadê o pai?” A mãe disse: “Ele tá no bar”.

“Mãe”, disse a moça, “vá chamar ele”. A mãe, temerosa, disse: “Eu??!! Não vou mesmo, você sabe muito bem como é seu pai, ele não gosta que a gente vá lá”. “Então eu vou, disse a moça”. E ela foi. Entre amigos, lá es­tava o Ary. Cotovelo no balcão, tava que tava. Ela se aproximou e disse: “Pai, vamos lá em casa, trouxe meu namorado pro senhor conhecer”

Ary, meio injuriado, até que foi maneiro com a filha e disse: “Fala pra ele vir aqui”. A moça encarou o pai e respondeu: “Pai, ele não virá!!! Ele não gosta de bar, não bebe e não fuma”. Aí, meu parceiro, Ary ficou uma fera e disse: “Não quero conhecê-lo mesmo, se não bebe e não fuma, não serve pra ser meu genro”. Acho que na verdade, Ary queria um genro parceiro (heheheheh).

Abreijos amigos, sexta conto mais.

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