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Casacor: profissionais falam sobre histórias e aprendizados durante 50 edições

Por Ana Lourenço

É comum para quem não é da área de arquitetura ou decoração ver ambientes simplesmente pela beleza daquela determinada junção de móveis e objetos. No entanto, quem sabe a importância e a dificuldade de construir tais espaços foca em descobrir seu inventor. A pluralidade de visões fortes e criativas diante de um mesmo tema é justamente o que faz da Casacor a mais importante mostra de decoração de São Paulo.

“O desafio é sempre compor um elenco de profissionais que tenha uma boa história para contar aos nossos visitantes e que os encante. E alguns profissionais são mestres nessa arte. A cada ano nos surpreendem com seus trabalhos e arrastam um mundo de fãs”, diz Lívia Pedreira, superintendente do evento. “A história de sucesso desses profissionais se mescla com a própria história da Casacor e também inspira os jovens talentos, que a cada ano temos o compromisso de revelar”, completa.

São 34 anos de Casacor São Paulo. Quase 2 mil ambientes ao todo. Isso sem falar nas outras 15 franquias espalhadas pelo Brasil e pelo mundo. Foi numa dessas, em Goiânia, que começou a história do arquiteto Leo Romano com a marca. “A minha primeira participação na Casacor, que foi há 25 anos, aconteceu antes de eu me formar, na primeira edição de Goiânia. Então, de certo modo, a minha história profissional ocorre muito paralelamente às edições de Casacor Goiás. E nisso a gente foi criando uma relação de amizade, uma relação afetiva que foi crescendo e fez com que isso virasse uma rotina”, conta.

Em novembro, Leo completa 50 edições de Casacor, sendo seis dessas feitas em São Paulo, incluindo um ambiente Deca, um dos mais prestigiados da mostra neste ano. Teve um gostinho especial também a edição feita em Brasília. “Era minha primeira participação no Estado e eu fiz um ambiente todo cor-de-rosa, com uma escultura de boi em tamanho real – também pintada de rosa. E na época isso foi muito polêmico porque os outros profissionais ficaram revoltados com a minha participação e achavam que a minha manifestação estética era uma afronta àquela que deveria ser predominante”, relata.

Desde então, Leo percebeu que coragem e determinação eram qualidades necessárias para continuar fazendo sucesso ano após ano no evento. “Eu acho que é muito bacana, depois de 25 anos de profissão, você virar uma referência e uma inspiração para outras pessoas. E eu acho que isso vem justamente de ter essa liberdade e coragem de fazer o que eu acredito e correr o risco; dar a cara a tapa e pagar para ver”, revela.

A ousadia também está presente nos trabalhos de Débora Aguiar, que já tem 18 edições na conta. Apesar disso, diferentemente de Leo, a arquiteta nunca foi de fazer projetos conceituais. “Gosto de ver as pessoas entrando e se conectando com o espaço. A minha vontade era ficar camuflada no ambiente, observando cada um que entra. E esse é um dos motivos que sempre me fazem voltar à mostra”, diz ela, citando a energia necessária para produzir.

“É realmente um tempo muito grande que a gente despende. Um tempo meu, da equipe. E tudo tem de ser feito num prazo muito curto e é uma revolução para viabilizar isso”, confessa. “Mas acredito muito no evento. É onde você consegue mostrar todos os produtos, as tendências, criações, interpretações de cada um e, ao mesmo tempo, existe uma dificuldade incrível porque o céu é o limite em termos de para quem é o projeto. Você não tem um cliente te dando uma diretriz.”

Um dos seus projetos icônicos foi o Míni Haras, de 2003, edição que ocorreu dentro do Hospital Matarazzo. “Tinha uma área comprida, de 1.000 m² e ali fiz uma área com cocheiras e cavalos reais, que se revezavam para que nenhum animal cansasse”, relembra.

Adaptabilidade. Apesar dos grandes retornos que o evento dá – reconhecimento, visibilidade, networking e negócios -, não é fácil fazer um ambiente de Casacor. É preciso organização e “capacidade para lidar bem com o estresse”, como brinca a paisagista Catê Poli.

“Durante o processo, conversamos muito com os vizinhos de ambientes e todo mundo reclama do cansaço, mas o mais louco é que ano que vem todos estamos juntos de novo. Então, no final, é recompensador quando você vê alguém entrar e gostar do que você criou”, completa João Jadão, que participa do evento ao lado de Catê desde 2018.

A parceria começou na tentativa de otimizar e potencializar o trabalho dos profissionais. “O escritório dela só faz projeto e eu faço muita execução. Então a gente viu que a parceria dava certo e quando você faz a quatro mãos, tudo evolui”, explica.

O ambiente de estreia da dupla foi o que mais marcou até hoje. “Em 2018, o paisagismo estava quase como protagonista em todo o evento. E nosso ambiente tinha móveis verdes, muitos grafites de insetos e uma frase ‘green is the new black’ (verde é o novo preto, em tradução livre), que deu bastante retorno”, conta Catê

A semente lançada ali, germinou. “Em 20 anos de carreira, é a primeira vez que eu faço fila de espera para começar um projeto. Antes era uma janela, hoje são folhas de vidro que integram a casa com o jardim. O paisagismo foi tão valorizado”, revela.

Criatividade. Pode até ser que alguns pensem que tais opções ousadas são escolhas que não deveriam ser feitas em uma casa. Mas é aí que está outro segredo do sucesso, segundo os profissionais: pensar na mostra como um laboratório de ideias e não como um lar. Pelo menos é assim que trabalha a arquiteta Brunete Fraccaroli, com 42 espaços ao longo de sua carreira, sendo 35 nas edições paulistanas.

“Quando a gente não tinha cliente para fazer aquelas coisas absurdas, e como eram poucos profissionais, os fornecedores se matavam para dar para a gente, oferecer os produtos. Mas na minha época era muito diferente, era difícil entrar em Casacor. Tinha um comitê julgador”, lembra.

Segundo ela, com o Plano Collor tudo mudou. “A gente, do segundo time, se uniu e foi uma coisa muito bonita, porque precisávamos mostrar que éramos bons. Foi aí que começamos a estourar”, conta ela, que ainda fala sobre a importância dessas primeiras edições para o networking.

“Nas primeiras, a gente ficava lá direto, queria ficar o máximo. Era bastante folclórico, sabe? Um emprestava as coisas para o outro, e era muito bacana. Foi muito linda essa época. A gente se reunia lá no fim de semana para curtir, sem cliente. E tudo isso nos ajudou a crescer, ajudou a nossa formação e nos fortaleceu.”

Ao pedir para escolher sua edição favorita, ela não soube responder. “Tenho orgulho de muitas. Tenho tantas histórias que vou escrever um livro chamado Do Meu Limão, Uma Caipirinha, e um dos tópicos será só sobre Casacor, porque são tantas histórias.. “, brinca ela. Uma, sem dúvida especial, foi em 2016, quando sua cachorrinha Sissy morreu com 17 anos às vésperas de fazer a edição do ano. O jeito foi transformar o espaço em uma homenagem

Renovação

Presente desde a primeira Casacor São Paulo, em 1987, além de ter participado de outras edições como a de Miami e a do Rio, o arquiteto Léo Shehtman acredita que é preciso se reinventar. “A pior coisa que existe é criar expectativa. Como são 33 anos, já passei por todas as fases, e essa responsabilidade me faz pôr a cabeça para pensar e estar sempre recriando. Acho que hoje, nos tempos que estamos vivendo, se você não souber se reinventar, você não se sustenta. Principalmente num país como o nosso, em que se dá muito valor à idade. Se você perguntar quantos anos eu tenho, digo tranquilamente 64, mas me sinto com 30 porque estou sempre na onda do que está acontecendo, do que está vindo e para isso preciso me reinventar e isso é a seiva da minha alimentação”, diz.

Neste ano, Shehtman assina a Social House Casacor, um loft de 125 m² construído para as novas necessidades e maneiras de habitar em parceria com o Google, o que o faz totalmente conectado. A principal ideia do espaço é a integração e a flexibilização da casa também como um ambiente de negócios, onde é possível conciliar diferentes usos. “O nome dela é Social House porque eu vou ter o apoio do YouTube e do Uber e nós vamos criar conteúdos lá de dentro. Com base nisso, queria um ambiente em que tudo partisse da casa, porque a gente aprendeu que a casa é para ser vivida. Então, para isso ela tem de ter quatro itens básicos: praticidade, sustentabilidade, tecnologia e design”, conclui.

Do lado de fora da casa, um jardim com diversas espécies de suculentas. “Eu tinha preconceito com os cactos. Sempre achei que receber cactos era receber espinhos, mas virei fã de Juliette (campeã do BBB21 e influenciadora digital), então não vou mentir, meu jardim foi inspirado nela”, confessa, aos risos, Shehtman.

As relações de amizade entre os profissionais tornam a Casacor única. Muito mais do que mostrar tendências e estilos, os profissionais colocam as próprias histórias nos ambientes. A mostra sem os profissionais que desejam estar ali e se esforçam para isso não seria nada. Assim como eles talvez não fossem referência no segmento sem, justamente, essa conexão e parceria.

Como disse Leo Romano ao explicar seu trabalho deste ano, é preciso valer o risco. “Toda vez que a gente sai de casa está correndo risco. E eu quis fazer um ambiente em que a pessoa pensasse: ‘Que bom que eu vi algo que tocou meu coração, tocou minha alma’”, conta. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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