A Câmara de Ribeirão Preto aprovou, na sessão de quinta-feira, 7 de outubro, moção de congratulação para a médica Lucy Kerr, uma ferrenha defensora do uso de ivermectina no combate ao coronavírus. O medicamento é autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para tratamento contra infecções causadas por parasitas.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Anvisa não reconhecem o medicamento para o combate à covid-19. A autoridade sanitária dos Estados Unidos, FDA, também já emitiu um alerta em relação ao uso de ivermectina por pessoas com coronavírus.
A homenagem partiu do vereador André Rodini (Novo) e recebeu 13 votos favoráveis. Sete parlamentares se abstiveram de votar e dois, Maurício Gasparini e Bertinho Scandiuzzi, ambos do PSDB, não participaram da sessão porque estão afastados devido ao diagnóstico de covid-19.
Além do autor, votaram a favor da proposta Brando Veiga (Republicanos), Duda Hidalgo (PT), Judeti Zilli (PT, do Coletivo Popular), Elizeu Rocha (PP), Luis Antonio França (PSB), Franco Ferro (PRTB), Igor Oliveira (MDB), Marcos Papa (Cidadania), Mauricio Vila Abranches (PSDB), Ramon Faustino (Psol, Coletivo Todas as Vozes), Renato Zucoloto (PP) e Sergio Zerbinato (PSB).
Abstiveram-se Gláucia Berenice (PSDB), Isaac Antunes (PL), Jean Corauci (PSB), Lincoln Fernandes (PDT), Matheus Moreno (MDB) e Paulo modas (PSL). Alessandro Maraca (MDB), por ser presidente da Câmara, só vota em caso de empate.
Na justificativa da congratulação, André Rodini não cita que a médica é defensora do uso da ivermectina. Diz apenas que o motivo da homenagem é resultado do conjunto da obra da profissional que possui graduação em Genética e Biologia Celular pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho de São Paulo (Unesp).
Lucy Kerr tem forte atuação nas redes sociais em defesa do medicamento. Possui um site em que afirma que a covid-19 tem cura e que a ivermectina ajuda no combate da doença. Procurado pelo Tribuna para falar sobre o assunto, André Rodini afirmou que teve coronavírus e que seu meu médico o tratou com ivermectina, entre outras medicações.
“Não tive maiores complicações. Desta forma, concordo que a Ivermectina tenha um efeito inibidor da multiplicação viral no tratamento inicial da doença”, garante. André Rodini já tomou as duas doses da vacina contra coronavírus. O Tribuna procurou todos os vereadores que votaram a favor da homenagem.
Luis Antonio França, Sergio Zerbinato, Judeti Zilli, Marcos Papa e Ramon Faustino afirmaram que o fizeram equivocadamente, já que os requerimentos apresentados em cada sessão do Legislativo – cerca de 200, em média – são votados de forma englobada.
Por isso, a homenagem teria recebido seus votos “sem querer”. No meio da sessão, após “descobrirem” para quem era a homenagem, Duda Hidalgo, Sergio Zerbinato e Judetti Zilli tentaram mudar o voto e incluir na ata da sessão que eram contra, mas regimentalmente isso não é permitido.
Vale lembrar que a justificativa dada por eles, de que a votação englobada impediu que tomassem conhecimento prévio da proposta, não tem sentido regimentalmente. Isso porque a pauta de requerimentos e indicações é disponibilizada no portal da Câmara, duas horas antes de cada sessão.
Ou seja, se um parlamentar quiser, pode verificar se concorda ou não com algum requerimento apresentado. Neste caso, na hora da votação, poderá pedir a votação dele em destaque. Ou seja, que seja analisado separadamente para que ele possa se posicionar contrário à proposta.
Renato Zucoloto, apesar de ter votado favoravelmente à homenagem, afirmou não fazer esse tipo de propositura, mas que a Câmara é uma instituição plural e representativa e que a sociedade se faz representar por seus vereadores. “Embora não concorde com essas pautas, cada vereador representa o seu segmento e a ele presta contas”, afirma. Ele disse ser contrário ao uso da ivermectina no tratamento do coronavírus.
Já Luis França disse que, na próxima sessão, fará uma nota pública repudiando a aprovação do requerimento que teve o seu voto favorável. Os vereadores Brando Veiga, Duda Hidalgo, Elizeu Rocha, Franco Ferro, Igor Oliveira e Mauricio Vila Abranches não responderam ao Tribuna até o fechamento desta reportagem.