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Cultura

Razões para o sucesso da série ‘Ted Lasso’

Por Mariane Morisawa, especial para o Estadão

O sucesso de Ted Lasso não foi imediato. Algumas das primeiras críticas, na época do lançamento da primeira temporada, em agosto de 2020, acharam a série “meh” (desinteressante). O público também não correu para ver o show sobre um treinador de futebol americano otimista, contratado por um time inglês do nosso futebol. Mas, aos poucos, o programa do Apple TV+ conquistou fãs famosos e não famosos, a crítica e, duas semanas atrás, 7 dos 20 Emmys a que concorreu, incluindo melhor série, ator (Jason Sudeikis), ator coadjuvante (Brett Goldstein) e atriz coadjuvante (Hannah Waddingham). Ted Lasso chega ao fim da 2ª temporada, nesta sexta, 8, como fenômeno pop, com fãs apaixonados que a descrevem como a série certa para o momento certo.

Ted Lasso, que começou como uma comédia de 30 minutos, aparentemente leve e despretensiosa, foi mostrando sua verdadeira face na segunda temporada, com episódios que chegam aos 50 minutos, como o 12º e último. Mas havia sementes de problemas plantados na primeira temporada, sobre saúde mental, sentimento de inferioridade e relações difíceis com os pais, que foram desenvolvidos na segunda, sem medo de trazer as lágrimas junto com as risadas.

E esse pode ser o segredo de seu apelo, segundo Daniel Martins de Barros, professor colaborador do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP e colunista do Estadão. “A série é agridoce, refletindo a realidade, que pode ser dura, e mesmo assim ter risadas e conexão com os outros”, disse em entrevista. “Ouvimos na pandemia que não era possível rir, que era um momento só de dor. Mas a vida é essa complexidade de sentimentos conflitantes que a série retrata. Isso gera identificação. É mais ou menos como se a pessoa visse e pensasse que bom que posso ficar alegre mesmo na tristeza. Não é preciso escolher.”

Nesses 19 meses de lutos pessoais e coletivos, de perdas de diversas naturezas, a ficção de Ted Lasso burlou nossas defesas. “De repente, você se vê chorando copiosamente, lamentando a perda de um personagem, ou se condoendo da dor dele, quando na verdade aquilo reflete a sua própria dor”, disse Martins de Barros.

Claro que os criadores não tinham como imaginar que a série estrearia no meio de uma pandemia e se tornaria a única companhia de milhares de pessoas. Mas, antes mesmo da covid-19, o mundo estava dividido, com muito espaço para o ódio e pouco para a compreensão. Como a abertura da série já indica, a atitude positiva de Ted Lasso mesmo em momentos de conflito e tristeza espalha-se. “Se alguém na sala está de mau humor, você fica também. A gentileza e a generosidade também são contagiantes”, afirmou o psiquiatra. “A série não diz para negarmos a tristeza e sermos felizes. Ela diz: Seja feliz apesar dos pesares.”

Ninguém é uma coisa só

PING: Jason Sudeikis, ator e criador

Ted Lasso originou-se de comerciais para promover a Premier League. Como virou série?

Pensando no personagem, não tinha como não indagar por que ele era tão positivo, por que tinha aceitado esse emprego sem entender nada do esporte. Foi surgindo um monte de histórias e personagens.

Quem espalha positividade recebe positividade?

Pessoas negativas e de comportamento arrogante sempre vão existir. Não podemos controlar isso. Mas podemos escolher como vamos responder a elas. Falo para minha filha que nem sempre ela precisa revidar ou gritar quando o irmão faz alguma coisa.

É difícil ser bom hoje em dia?

Pessoalmente não acho, mas isso está de acordo com a exposição a seres humanos que tive. Ninguém é uma coisa só. Cada um de nós tem muita coisa dentro de si. Isso é que é bonito, só que também traz muitas complicações.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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