A coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer, assim começa a música Envelhecer de Arnaldo Antunes, tema muito apropriado para a semana, pois em 1º de outubro, comemorou-se o Dia do Idoso. Na mesma data em 2003 foi sancionado o Estatuto do Idoso – Lei Federal 10.741 que regula os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 anos que determina a obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público em assegurar-lhes, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.
A diversidade na maturidade é cada vez maior, pois enquanto existem idosos cheios de vitalidade viajando, dançando, praticando atividades físicas e vivendo intensamente, existem muitos sobrevivendo em situação precária. Com a instabilidade econômica e as constantes mudanças na legislação previdenciária, inúmeras pessoas idosas estão tendo que trabalhar cada vez mais tempo para garantir o mínimo sustento próprio ou familiar.
No terceiro trimestre do ano passado, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) realizou um estudo apontando que quase um quinto da população brasileira é composta por idosos. Outros dados são interessantes, 18,5% trabalham; 75% contribuem com pelo menos metade da renda familiar; 58% apresentam comorbidades e 32% têm plano de saúde. Falando em medicina privada, o país acompanhou estarrecido às denúncias apresentadas na CPI do Senado sobre a forma com que uma empresa teria tratado seus pacientes durante a pandemia de Covid-19.
A violência contra pessoas idosas não é novidade, sendo que a principal é a negligência, daqueles que deixam de oferecer cuidados básicos como saúde, medicamentos e roupas. Também são vítimas de abandono, constrangimentos e agressões chegando a serem feridos, incapacitados e até mortos. Por mais bizarro que possa parecer vários são envolvidos em práticas eróticas e jogos sexuais por meio de aliciamento, ameaças ou violência física. A crueldade financeira e material é comum e muitos são induzidos a realizar financiamentos para parentes ou coagidos a cederem dinheiro e patrimônio. Outra face cruel dessa relação é a violência emocional ou psicológica manifesta de forma sutil, depreciando a autoestima e bem-estar do idoso, através de xingamentos, constrangimentos ou impedimento de conviverem com amigos e familiares, especialmente netos.
Envelhecer deveria ser algo agradável e prazeroso, não apenas pelo desconto em ingressos ou viagens, tão pouco pela redução de impostos e prioridade na tramitação de processos judiciais, mas sim pela possibilidade de desacelerar, conhecer os atalhos, dificuldades e desafios da caminhada, compartilhar os saberes adquiridos e receber a merecida recompensa pelo tempo trabalhado.
Não apenas pela imposição legal, mas pela consciência, famílias e o poder público precisam ser preparados para a nova realidade mundial. O ser humano vive as fases da infância, juventude, adulta e velhice, sendo que a ultima certamente é a que durará mais tempo, assim estruturas de saúde, mobilidade, transporte e previdência social, entre outras, devem contemplar uma população que será cada vez maior. Por essas razões somos convidados a respeitar a velhice alheia nos preparando para a própria. Como ensinou Dom Hélder Câmara “Agora que a velhice começa, preciso aprender com o vinho a melhorar envelhecendo e, sobretudo, a escapar do terrível perigo de, envelhecendo virar vinagre”.