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Mil dias: voltamos ao mapa da fome e da morte

A pobreza está aumentando em nosso país e, junto com ela, também a fome. É o que mostram os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, divulgada recentemente. Em queda constante, a renda média dos trabalhadores brasileiros alcançou seu menor nível nos últimos cinco anos. E ela foi acompanhada por uma onda de desempregados que, hoje, ultrapassa o patamar dos 14 milhões de pessoas. Paralelamente a essa tragédia, não esqueçamos que a inflação já beira os 10%. Os pobres são os que pagam a maior parte dessa conta.

Depois de tanto tempo, agora voltamos a debater a “insegurança alimentar”. Milhões correm o risco de não terem comida por falta de dinheiro. No final de 2020, 58 milhões de brasileiros já estavam nessa situação. Este número tende a aumentar. Isso equivale a mais de 25% de toda a nossa população. Este contingente se espalha das periferias das grandes metrópoles até as pequenas cidades do interior. Depois de dar­mos exemplo para o mundo com programas sociais de grande sucesso, como o Bolsa Família, hoje voltamos ao mapa da fome!

Não temos dúvida: a pandemia e a resposta do governo federal à crise sanitária foram condições sinequa non para o agravamen­to dessas estatísticas. A subida brutal dos preços dos produtos de primeira necessidade é um desdobramento da gestão econômica de­sastrada da dupla Bolsonaro/Guedes. A dieta das famílias brasileiras está sendo duramente atingida pela inflação galopante. Há muito, não víamos essa dura realidade. A miséria talvez seja o rosto mais perverso da incompetência administrativa deste desgoverno.

A tragédia só não foi maior graças ao auxílio emergencial. E não podemos esquecer que o seu valor inicial era irrisório, quando foi apresentado pela equipe econômica. Queriam míseros R$ 200,00, insuficiente para o sustento digno de uma pessoa. Em um segundo momento é que este valor foi ampliado pelo próprio Congresso. Essa gente do liberalismo econômico tem pavor de pobre. Não sa­bem e nem tentam imaginar o que é ver a prateleira vazia, dia após dia, e não saber se vai ter o que comer amanhã. Mas é essa gente que está no comando da economia nacional.

Bolsonaro e seus ministros parecem comandar um país em que o desemprego, a paralisia econômica e um saldo de 600 mortos pela pandemia não fazem parte do cotidiano da população. Mas é muito mais que falta de sensibilidade. Trata-se de um projeto. Prova disso foi o seu discurso desconexo na abertura da Assembleia Geral da ONU. Não falava para o mundo, nem para todos os brasileiros. Fala­va para o seu gado aqui no Brasil. Uma total irresponsabilidade.

No discursinho ideológico preparado pelos seu filhos, Bolsonaro, mais uma vez, deu mostras de quem não tem a mínima capacidade de liderar o país. A fragilidade do texto – ilustrada pela inacreditável defesa do tratamento precoce contra a Covid-19 e a suposta “vitória sobre um socialismo iminente no Brasil” – é prova inequívoca do mundo paralelo em que ele vive. O agravamento do isolamento internacional e a fuga dos investidores são resultados já esperados.

Enquanto nosso desgoverno dá vexame em Nova Iorque, a fome avança em um país em que a agricultura familiar perde espaço para a monocultura e o agronegócio bate recordes de produtividade. A primeira garante o nosso feijão com o arroz, a cesta básica que vai para a mesa das nossas famílias. A segunda é voltada para a exporta­ção e só enche o bolso de uma minoria. Não é à toa que um dos se­tores recalcitrantes em largar o barco do Genocida é o agronegócio.

O esvaziamento e até a extinção dos Conselhos e de outras instân­cias coletivas e públicas de debate sobre a fome são muito mais que in­competência. A extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário é prova disso. Mais uma vez, afirmo: trata-se de um projeto. Tudo isso é, antes de mais nada, expressão da necropolítica à qual Bolsonaro e seus apaniguados querem nos submeter. Mil dias de tormento. Voltamos ao mapa da fome da morte. Mas são mil dias a menos!

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