Tribuna Ribeirão
Economia

Preço da cesta tem variação de 109,3%

Fernando Frazão/Agência Brasil

A disparada da inflação, que bateu 10% em doze meses até setembro, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consu­midor Amplo – 15 (IPCA-15), trouxe um problema adicional para os brasileiros na hora de ir às compras: uma grande variação de preço de um mesmo produto en­tre estabelecimentos diferentes.

Levantamento das cotações de 15 itens de consumo básico, entre alimentos e produtos de higiene e limpeza, revela dife­rença de até 578% no preço do mesmo creme dental. A embala­gem do produto com 90 gramas, da mesma marca, foi encontra­da pelo menor preço de R$ 1,18 e o maior, de R$ 8.

Discrepâncias na casa de três dígitos entre a maior e a menor cotação de um mesmo produ­to – algo que não era incomum encontrar antes do Plano Real – também foram constatadas no leite de caixinha (408,3%), sabonete (328,3%), macarrão (184,3%), sal (155,2%), feijão (126,8%), café (106,7%) e deter­gente líquido (104,7%).

O óleo de soja e o arroz apa­receram na pesquisa com varia­ções de 69,5% e 70,7%, respecti­vamente. O levantamento feito pelo economista-chefe da Con­federação Nacional do Comér­cio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fábio Bentes, mostra que todos os 15 itens registra­ram variações significativas.

A diferença mais modes­ta, de 20,8%, apareceu no pão de forma industrializado, cujo maior preço foi R$ 7,20 e o me­nor, de R$ 5,96. A cesta com os produtos mais caros custaria R$ 428,98, mais do que o dobro do valor da mesma cesta com os produtos mais baratos, de R$ 204,92. São R$ 224,06 a mais e variação de 109,3%.

Bentes lembra que a alimen­tação no domicílio representa 25% do orçamento do brasileiro comum, segundo Pesquisa de Orçamento Familiar do Institu­to Brasileiro de Geografia e Esta­tística (IBGE). Hoje, a internet é uma ferramenta importante para pesquisar preços. “Ficou mais fácil para quem tem acesso à in­formação”, afirma o economista.

Os preços foram pesquisa­dos na sexta-feira passada, 24 de setembro, por meio da fer­ramenta do Google Shopping Brasil. Entre os critérios usados para fazer o levantamento, de âmbito nacional e que incluiu grandes varejistas, estão o fato de o produto ser representativo do consumo básico do brasileiro e estar disponível em pelo menos dez lojas físicas ou virtuais.

“As variações entre o maior e o menor preço de um mesmo produto tendem a aumentar ge­ralmente quando as expectati­vas de inflação são divergentes”, afirma Bentes. No momento atual, em que a inflação em doze meses passa de 10%, e as expec­tativas de inflação, segundo o Boletim Focus do Banco Cen­tral, são crescentes por 25 sema­nas seguidas (cerca de seis me­ses), estabelecer um preço é uma tarefa bastante complexa, diz.

“A dispersão entre o maior e o menor preço é alimenta­da pelas expectativas de infla­ção maior, porque, quando os agentes econômicos vão formar preço, eles têm de levar em con­sideração o custo da energia, a negociação com o fabricante e também a expectativa de infla­ção futura para poder resguar­dar a sua margem”, argumenta.

Essa grande variação de pre­ços é resultado das estratégias escolhidas pelos varejistas. “Não são todos os varejistas que vão colocar gordura nos preços, há aqueles que vão manter pre­ço baixo para tentar ganhar no volume de venda.” O resultado dessas estratégias é uma grande dispersão de preços.

A partir do levantamento da CNC, seis itens foram escolhi­dos – arroz, feijão, açúcar, café, leite e óleo de soja – para cálculo do custo desta cesta pelo maior e pelo menor preço. As contas do valor da cesta foram feitas con­siderando a quantidade consu­mida por uma família de quatro pessoas, critério seguido pela Fundação Procon de São Paulo.

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