O artista visual André Costa vasculhou, nos últimos 20 anos, as sobras da indústria gráfica em busca da matéria prima de seu trabalho, o vinil adesivo, para então transformá-lo em obra de arte, com símbolos, signos e novos significados que rompem os limites de seu ateliê, na região central de Ribeirão Preto, para ganhar as galerias e os mercados norte-americano e europeu, dentro do projeto intitulado “Poética do Resíduo”.
Agora, boa parte de sua produção pode ser vista na mostra “Poética do Resíduo – Experiências Visuais entre a Ética e a Estética”, que ocupa, até o dia 15 de outubro, o salão principal da Sociedade Recreativa 22 de Agosto, em Brodowski. Entre as obras em exposição, peças produzidas ao longo de três décadas de trajetória artística, além daquelas concebidas a partir de março de 2020, quando a pandemia de corolnavírus chegou ao Brasil e obrigou Costa a experimentar novas formas de produção.
“Não trabalhava em casa havia mais de onze anos. Tudo para o ato criativo, para o manuseio dos materiais, não estava em casa, mas sim no ateliê”, relembra o artista, que reconhece ter passado por um processo transformador, “libertador”, como ele define, ao longo dos últimos meses, envolvido, como milhões de pessoas em todo o mundo, neste processo de redescobertas e ressignificações trazido pela pandemia.
“Passei por um momento de redescoberta dos materiais. Isso me permitiu perceber que enquadrava toda a poética do resíduo em uma limitação, no uso de um único tipo de descarte. Quando entendo que posso incluir outros descartes, de naturezas tão diferentes, a poética começa a ser redesenhada e a ter a necessidade de um novo discurso”, avalia.
Liberdade criativa
Ao se ver obrigado ao distanciamento de seu material usual de trabalho e diante da descoberta de novas possibilidades, André Costa pôde compreender que o processo criativo é algo presente no próprio artista. “O processo criativo está em nós, ele não está condicionado a um espaço, a um computador, a uma máquina, a um processo industrial ou artesanal do fazer artístico. Ele está vinculado à nossa própria existência, que se manifestará em qualquer condição”, conclui.
“O processo de criação de André Costa transpassa por elementos virtuais e tecnologia de ponta, o que contrapõe aos modos de feitura manual da obra, desvendando-se como um processo híbrido de criação, com um caráter reflexivo, aquele que estabelece vínculos e interfaces com outras áreas do conhecimento humano, transita entre a ética e a estética, dialoga sobre os descartes da sociedade de consumo e a estética validada pela arte”, comenta o crítico de arte Evandro Carlos Nicolau.
O resultado deste processo artístico ganha agora esta exposição física, a primeira de Costa desde o início da pandemia, seguindo todos os protocolos sanitários de segurança contra o novo Coronavírus. “Poética do Resíduo – Experiências Visuais entre a Ética e a Estética” foi contemplada pela Lei Aldir Blanc (nº 51/2020), que concedeu prêmio a André Costa pelo histórico de suas realizações em artes visuais.
A mostra é apresentada pelo Ministério do Turismo, Secretaria Especial da Cultura, governo de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, com apoio institucional da Acam Portinari e do Museu Casa de Portinari, que incluiu a atividade na programação nacional da 15ª Primavera dos Museus. Além da exposição, o projeto conta, ainda, com ações educativas gratuitas, como oficina de artes, bate-papo com o público, exibição de documentário e intervenção artística.