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A lição sabemos de cor, só nos resta aprender

A música quando é boa, além de tocar nas rádios, recebe várias versões e se torna trilha sonora no cinema ou televisão, as­sim aconteceu com “Sol de Primavera” de Beto Guedes e Ronal­do Bastos que foi tema de três novelas: Marina (Globo-1980), A Padroeira(Globo- 2001) e Cúmplices de um Resgate (SBT-2015).

A primavera é uma linda estação onde encontramos a na­tureza superando os rigores do inverno e se preparando para a alegria do verão. Nela a flora terrestre se renova expolindo em flores, cores e encantos. Na citada música os autores acreditam que quando ao entrar setembro, uma boa nova andaria pelos campos brotando o perdão onde foi plantado.

Também relembram os sonhos sonhados juntos ao semear canções no vento. Recordam o choro pelos que se perderam no caminho e que não custa inventar uma nova canção que traga o sol de primavera e abra as janelas do peito. Concluem que sabe­mos de cor a lição e só nos resta aprender.

Refletindo sobre a realidade deste setembro de 2021 encon­tramos os rios secando, as matas em chama e os céus vermelhos de poeira e fumaça, muitas vezes encobrindo o sol e deixando os dias mais quentes, abafados, secos, tristes, com péssima qualida­de do ar, causando diversos transtornos para a saúde.

Pior é ter um país tentando se recuperar da maior tragédia sanitária contemporânea, que levou 600 mil vidas, envolvo em uma interminável e improdutiva polarização política associada a aumen­to do dólar, queda da bolsa, desemprego crescente, inflação descon­trolada e outras mazelas que diariamente povoam os noticiários.

O desvario endêmico que atinge milhões de irmãos brasileiros é preocupante e induz atitudes hipócritas como bradar a defesa da democracia e defender agendas antidemocráticas como a ruptura entre os poderes. Da mesma forma que o amor à constituição segui­do de atos e manifestações inconstitucionais como fechamento do Congresso, do Supremo e instalação de Tribunais Militares.

A dominação através de palavras fáceis, frases descontextua­lizadas e até do carisma de determinados indivíduos, constroem um misto de encantamento e medo capaz de seduzir e induzir pessoas a empunharem faixas, cartazes e bandeiras com ex­pressões que sequer conhecem o real significado. Até lideranças religiosas entronizaram o ódio ampliando a distorção e o uso indevido dos ensinamentos divinos como forma de manipulação e dominação, alterando o propósito da religião que é voltar a nos ligar com Deus e não para satisfazer interesses econômicos, políticos ou de poder.

Durante as manifestações de rua e na avalanche de postagens nas redes sociais, não se falou dos mais de 600 mil amigos e fa­miliares mortos por covid, tão pouco de medidas objetivas para a retomada da economia, geração de emprego e renda ou redução dos valores de alimentos, combustíveis, energia elétrica e água, entre outros. O que ocorreu foi um deliberado movimento de criar inimigos imaginários ou alvos catalizadores de fúria para esconder os próprios erros e a flagrante incompetência administrativa.

Não é possível continuar vivendo de factoides diante de um país com tantos problemas reais a serem solucionados. A Constituição, as instituições e o sistema político podem e devem ser aprimorados e não podemos aceitar calados qualquer forma de manipulação capaz de tentar impor a volta ao Estado de exceção. A democracia, ainda, é a melhor opção e o único caminho para o Brasil que tantos sonharam e até ofertaram o sacrifício da própria vida. Lutar pela manutenção do Estado democrático de direito é missão prioritária. A lição sabemos de cor só nos resta aprender.

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