Nesta semana, fui rever meu amigo Flávio na Padaria San Brunos, ali na rua Eliseu Guilherme. Danamos a prosear e ele disse que eu não faço ideia da quantidade de clientes dele que leem minhas crônicas, comentam com ele e se divertem.
Flávio até pediu-me para continuar contando histórias bem-humoradas, até porque, além de descontrair o leitor, saem da mesmice. Sugeriu que contasse mais causos sobre Sócrates, das deliciosas resenhas que poucos tiveram o privilégio de participar. Hoje vou revisitar histórias que já botei no papel, mas com novo tempero.
Sócrates e Oscarzinho – Oscarzinho jogou com Sócrates no Botafogo de Ribeirão Preto, era daqueles pontas rápidos que cruzavam na medida. A vida seguiu e ele deixou o futebol, seguindo carreira nos Correios. Sócrates rodou o mundo e, quando de sua passagem pelo Flamengo, numa bela manhã, o time treinava na Gávea, Oscarzinho estava no Rio de Janeiro a trabalho. Resolveu visitá-lo.
Disse ao porteiro que era amigo do Doutor e gostaria de entrar pra revê-lo. O porteiro disse que não deixaria ele entrar e argumentou que todos que chegam lá dizem ser amigos do Zico, do Sócrates, tudo balela… Oscarzinho insistiu, dizendo ser de Ribeirão Preto e que jogou com Sócrates. O cidadão, usando de sua autoridade, não deu mole pro nosso ponta.
Acontece que um sócio do Mengo ouviu o papo, entrou e foi até o alambrado. Sócrates batia uma bola antes do treino, o cara o chamou e disse: “Sócrates, tem um cara de Ribeirão Preto lá fora, disse ser seu amigo e o porteiro o barrou”.
Sócrates saiu voando. O encontro e o abraço dos dois amigos foi pra matar saudades. Magrão colocou a mão no ombro do amigo e, ao passarem pelo porteiro, que estava com a maior cara de não sei o quê, disse: “Ô Bola Sete, quando chegar alguém dizendo ser de Ribeirão Preto, por favor, deixe entrar”.
Magrão até que pegou leve com o Bola Sete. Sócrates e Oscarzinho almoçaram juntos e relembraram as saudosas resenhas.
Sócrates e o beduíno – Fui a vários encontros nacionais de sanfoneiros na Fazenda Santa Estela, do Maurício e da Gilda Montans. Ali, entrevistei Dominguinhos e Oswaldinho. A última entrevista de Mario Zan foi para meu programa, uma honra. Mário Zan lamentou o fato de a sanfona não ser popular como deveria, disse que há anos não era entrevistado: “Olha que eu sou o autor de ‘Chalana’, ‘Uma nova flor’ e ‘A Marcha do Quarto Centenário’.” Aproveitei e mandei bala, foi uma bela entrevista.
Num desses encontros, estava na mesa com minha primeira-dama quando uma senhora se aproximou pra contar uma história sobre o Sócrates. Como ela não tinha acesso a ele, pediu-me para dar o recado. No ato, peguei uma cadeira para acomodá-la e fiquei ligado no causo… Disse ser da área da educação. Organizaram uma viagem com 30 professoras para a África e, num dos passeios, o guia local disse que iria levá-las para conhecer como vivem os beduínos no deserto.
Lá foram eles encarando aquele mar de areia até chegar num oásis, um lugar cheio de um coqueiro regional, um pequeno lago, bebedouro para os camelos e algumas barracas enormes de lona. Ao chegar à entrada de uma destas barracas, o guia chamou pelo beduíno que estava sentado bem no meio com aquela roupa manjada e seu inseparável turbante. Disse o guia: “Ô Hassan, esse pessoal é do Brasil”.
Hassan, espantado, deu um pulo e disse: “Brasil!?!?! Brasil?!?!?! Sócrates!” De imediato, limpou a areia que cobria um velho baú, abriu e retirou um enorme pôster que foi desenrolando cuidadosamente até surgir a imagem do Doutor com a camisa amarela número oito da Seleção Brasileira. As professoras abismadas acharam a cena cinematográfica lá no meio do deserto.
Sócrates estava viajando, quando chegou fui lhe contar a história. Ele riu um bocado e disse uma frase que sempre usava: “Buenão, sou pouco valorizado”.
Um baita abraço, amigos, sexta conto mais.