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Especialista demais

A luta pela vida está cada vez mais difícil. Na busca de me­canismos de sobrevivência observamos recursos curiosos e até preocupantes. É o caso das especializações dentro da medicina.

É indiscutível que, principalmente com o avassalador avanço dos conhecimentos médicos, a dedicação maior a algum ramo de atividade permite melhor formação. No entanto, os exageros já estão passando dos limites e, a qualquer momento, vamos ver a propaganda de um “especialista” nas doenças do dedo médio do pé esquerdo. No pé direito não é com ele.

Esse desvirtuamento de algo importante, a especialização, infelizmente tem mais razões de mercado do que de qualquer outra ordem e acaba colocando em risco o bom conceito do verdadeiro especialista.

Faço essas considerações sempre que me perguntam se o vídeo-cirurgião é um especialista. A resposta é um sonoro não. O vídeo-cirurgião é um profissional que, dentro de sua área de trabalho, se qualificou para saber trabalhar com uma nova forma de se intervir cirurgicamente, através da utiliza­ção de equipamentos que lhe permitem operar sem colocar as mãos diretamente nos órgãos internos, mas utilizando instrumentos especiais e acompanhando através das imagens que aparecem em um vídeo.

Esse tipo de operação que, não sei por que cargas d’água, muitos pacientes, pouco orientados, conhecem como “ci­rurgia à laser” requer, realmente, estudos e treinamentos específicos. No entanto, não é especialidade mas, sim, uma habilidade adicional que o cirurgião (do aparelho digestivo, do tórax, ginecologista, etc) pode adquirir para utilizar, em casos selecionados, em seus pacientes.

O especialista, na área médica, deve ser alguém que tenha uma boa formação geral, que permita ver o paciente como um todo, e que, adicionalmente, tenha formação específica suficientemente profunda para, dentro desse todo, saber analisar o que ocorre na área de sua especialização. Em outras palavras, não é o que cuida do dedo, mas o que cuida de pessoas que apresentam problemas no dedo. Parece pequena, mas a diferença é estratosférica. Felizmente, a maioria dos especialistas, e eu procuro me incluir entre eles, conhece e utiliza essa sutil diferença.

Pensar e agir de forma diversa acabará por justificar a de­finição jocosa que tenho usado para os exagerados: “Especia­lizar é aprender cada vez mais a respeito de cada vez menos. Mas há que se tomar cuidados com exageros, senão o limite será saber tudo a respeito de nada”.

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