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Leopoldo Lima: genialidade em obras e histórias emblemáticas

Leopoldo Lima em foto de Júlio Chiavenato

Por Fabiano Ribeiro/Especial para o Tribuna Ribeirão

“Era uma pessoa muito simples. Quem o visse andando pelas ruas, sem camisa, de chinelo e bermuda, achava que era mendigo. Não tinha ideia que ali estava um gênio”. Assim o produtor cultural Fernando Kaxassa, descreve Leopoldo Fioravante Baptis­tetti Lima, ou simplesmente Leopoldo Lima, nascido em São Simão, em 11 de dezembro de 1933, e falecido em 23 de junho de 1996.

Para muitos, um sósia de Van Gogh, na fisionomia e genialidade. Leopoldo Lima ficou conhecido por sua técnica em pirogravura. Além da genialidade, suas histórias são pro­porcionais ao seu talento.

Uma delas é contada por várias pes­soas. Pai de cinco filhos, os dois últimos não foram batizados por ele. Deixou os meninos escolherem seus nomes. “Ele chamava os garotos de oi 1 e oi 2. Eu tive contato com alguns filhos deles, e assim como o pai, são pessoas incríveis”, diz o professor Edwaldo Arantes. Fernando, um dos filhos e envolvido no enredo, confirma (ver nesta página).

Em uma das crônicas mais co­mentadas neste Tribuna, ‘Leopoldo Lima, o Artista’, o cantor e composi­tor Bueno conta outras que lhe foram reveladas em um bar, após um show, por Leopoldo Silva Lima, filho núme­ro 2 do artista.

Andando pelas ruas: Quem visse Leopoldo Lima poderia confundi-lo com um mendigo, não sabia que era um gênio desprovido de ambições materiais

“Disse que seu pai não vendia suas obras. Quando a coisa apertava, sua mãe vendia seus quadros escondido e quando o pai descobria, chorava mui­to”. Cleuza, esposa de Leopoldo Lima, confirmou que vendeu alguns, em al­gumas ocasiões.

O fato do pai não gostar de carro e mãe ter tirado carta e comprado um veículo, foi alvo de outra histó­ria contada a Bueno pelo filho. “O pai, avesso a carros, plantou uma árvore na entrada da garagem. O possante ficou de fora”.

Bueno conheceu a primeira mora­dia de Leopoldo, na rua André Rebou­ças, 729, no Ipiranga, quando o bairro era conhecido como Barracão. “Ele me convidou para entrar, seu ateliê era sim­ples como ele. As paredes da casa todas revestidas com jornais, suas crianças corriam pela casa toda, tinha uma esca­da feita por ele de galhos de árvores que levava a cumeeira”.

No local, Leopoldo fez um traba­lho em um violão de Bueno, quando o cantor tinha seus 22 anos. “Olha, garoto, eu só desenho se você pro­meter que não vai vendê-lo. No ato fiz a promessa”. O violão está com o músico até hoje.

O escritor e ex-diretor escolar Edson José de Senne era amigo de Leopoldo. Ele escreveu o livro “Os Cirandeiros da Praça XV”, que conta a história de amigos que se reuniam diariamente na referida praça, na dé­cada de 1960. Leopoldo que expunha suas obras em um varal era um deles. “A gente ficava conversando e depois íamos à Padaria Americana”.

Em um trecho, em uma crônica na Plataforma Verri, que fala um pou­co sobre a vida de Leopoldo Lima, a obra do artista é bem definida. “Sua obra retratava o sofrimento humano. O girassol, para ele símbolo do amor, sempre aparecia nos trabalhos. Ainda apresentava crianças escuras, magras, fantasmagóricas; casas labirínticas; árvores retorcidas. Seu autorretrato aparece na maioria de suas criações, em maior ou menor destaque”.

Senne confirma que Leopoldo não gostava de comercializar seus trabalhos. Ele conta que um embaixador norte­-americano em visita a Ribeirão Preto gostou das obras, mas que o artista não queria vendê-la. “Ele realmente tinha amor pelas suas criações. Não vendia”.

A obra foi para os EUA. Fernan­do, o filho, confirma. Com isso, Le­opoldo teria ganhado uma casa nos Campos Elíseos, na avenida Capitão Salomão em troca.

“Era uma figura. Um cara simples e despojado de ambição material. No dia em que ele morreu um grupo de pesso­as ligadas à cultura foi receber um prê­mio pelo trabalho de resgate do Teatro Pedro II. Ele merecia estar lá e não foi convidado. Foi um desses erros que po­líticos cometem”, finaliza Kaxassa.

Leopoldo Lima em sua casa
E Agora? O Comunismo tá falido. O Capitalismo endividado. Uma das notícias do Jornal que ele mesmo lê em um pequeno detalhe de seu maior quadro: Anos 80

729 – O Varal Biográfico Embananado

“729 – O Varal Biográfico Embananado”, escri­ta sem pontuação e que foi paga com a venda do quadro “Decadência” é uma autobiografia de Leopoldo Lima. O artista faz uma análise sobre sua vida.

Leopoldo Lima também cede o nome a uma biblioteca no Museu de Arte de Ribeirão Preto e um Museu em Bonfim Paulista.

‘Aqui na Terra não existiu quem fizesse um trabalho igual’, diz Cleusa, a esposa

A maior parte do acervo de Leopoldo Lima encontra-se com a família. A esposa Cleusa da Silva Lima, de 81 anos, relata que ficou com cerca de 40 quadros e dividiu outros entre os fi­lhos. “Depois que ele morreu não vendi e não vou vender. Quem tem alguma obra que guarde bem”.

Ela confirma a versão que Leopoldo era anticomercial. “É verdade. Agora quando os meus filhos eram peque­nos ele me deixava selecionar entre elas uma que eu vendia. Eu exigia que pagassem em prestação para a gente ter uma mensalidade …Vida de artista já viu, né não é fácil… até o Matarazzo comprou e pagou em prestação porque eu exigi”, lembra

Sobre as inspirações do marido, Cleuza diz que ela vinha de vários lugares. “Às vezes ele andava pelo mundo e às vezes encontrava as ideias aqui dentro de casa”. “Mas não é quadro de gente normal né. É quadro de outras esferas, porque aqui na Terra não existiu quem fizesse um trabalho igual”, acrescenta.

Cleuza também comentou sobre os di­versos amigos. “Todo mundo gostava de conversar com ele, porque real­mente ele era inteligente, ele entendia de todo o assunto desde futebol até política. Ele falava assim: -‘eu não per­di, não me perdi, e não estou perdido. Perdido está quem ficou perto de mim e não aproveitou’”.

O bom pai foi destacado pela esposa. “Ás vezes acho que ele deveria ter sido educado junto com as crianças, entendeu. Quando os meninos eram pequenos, ele fazia papagaio, fazia aviãozinho, soltava e corria na rua. Acho que se divertir mais que as crianças. Então teve muita coisa assim que pai ne­nhum fez para filho. Ele não corria atrás de dinheiro né… acontece que ele foi um pai que muitos garotos não tiveram. Muitos garotos viam o pai só no fim de semana e aqui em casa não, sempre estava junto com os filhos”.

Dificuldades

Por Leopoldo não querer vender as obras, Cleuza cita que o casal teve dificuldades. “Vida de artista não é fácil. Você vê o Paulo Camargo. Um dos melhores e creio que é um artista que passa os mesmos dramas que o Leopoldo passou”. Mas que no final deu tudo certo. “Por exemplo, quando ele morreu os filhos estavam todos no exterior, um na Inglaterra, outro em Portugal e outro na Itália”.

Obra eterna

“Muitos políticos, pessoas que eram famosas desapareceram né. Ninguém lembra que existiu. Agora o Leopoldo, a arte dele, quer queira quer não queira, vão ter que lembrar. Tem que lembrar forçosamente, porque as coisas dele ninguém vai fazer igual”, finaliza.

Osasco – 1974 – Sem Título e Crime – 1973 – 8ª Obra. Doações do comandante Raimundo Macedo e Danielle Jacqueline Gazarian Nunes

Atenção ao perfil da fumaça e ao perfil de Leopoldo Lima

Museu Leopoldo, Cleuza e filhos

Fernando Lima, filho mais novo do ca­sal Leopoldo e Cleuza, diz que a casa onde a mãe mora, na avenida Capitão Salomão, se transformará em um mu­seu que contará a história de Leopoldo Lima, Cleuza e os cinco filhos.

A casa foi adquirida pela família em uma transação com a prefeitura em uma espécie de permuta, à época, por três obras de Leopoldo. Uma das obras encontra-se em exposição permanente na Câmara de Vereado­res, outra na Prefeitura e a terceira foi para os Estados Unidos, para a cidade de San Leandro. Pressupõe que é a obra que ficou com o embai­xador norte-americano quando este veio à cidade e se encantou pelo trabalho de Leopoldo.

Veia artística

Fernando, que é fotógrafo diz que de certa maneira, a veia artística do pai influenciou a família. “Nasci dentro da arte. São várias pessoas da minha família. O irmão do meu pai, Antônio Bivar que é escritor. O meu irmão Leopoldo ele é museólogo e grande advogado e historiador. Mi­nhas irmãs Cecília e Cláudia também têm talento. Meu irmão Marcelo, o mais audacioso de todos, já expôs em todos os shoppings do Brasil”.

A escolha do nome

Outra história confirmada por Fer­nando foi sobre o pai não tê-lo regis­trado em cartório quando nasceu.

Segundo ele, quando criança, a irmã Cláudia disse que não gosta­va do nome e que que ria se chamar Érica. “Aí o meu pai ficou matu ­tando e falou então que quando ti­vesse outro filho, ele não colocaria mais o nome e que quando cres­cesse e tivesse idade o suficiente pra isso, o filho escolheria”.

Nasceram em seguida dois meninos que eram chamados por ‘oi’.

“A gente chegou pra ser matriculado na escola e eles perguntaram o nome. Não tem nome, disse o meu pai. Então vai registrar esse menino. Aí meu pai foi lá e registrou gente”, conta.

Os dois foram registrados com nome de Marcelo e Fernando. “A princípio escolhi Tarzan, mas aí houve uma censura e a galera não autorizou. Eu acabei escolhendo o Fernando mesmo. Meu pai queria que eu colocasse Ferdinando, mas Fernando tá ótimo, ele disse”.

Sobre Marcelo, também escolhido pelo menino, Leopoldo colocou um sobrenome Normanha, em home­nagem ao médico que faz o parto do garoto.

Enquanto o museu da família Lima não fica pronto, Fernando utiliza as redes sociais para homenagear o pai. Segundo ele, alguns amigos da família doaram obras para o futuro museu.

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