Após o Taleban reassumir o controle do Afeganistão, um tumulto no aeroporto de Cabul deixou ao menos dez mortos nesta segunda-feira, 16 de agosto, quando uma multidão tentava embarcar em aviões para deixar o país. O grupo invadiu a pista de decolagem e pessoas se penduraram em aeronaves em movimento, mostram vídeos em redes sociais.
De acordo com um fonte militar ouvida pela Associated Press, os Estados Unidos e o Taleban entraram em acordo para garantir a operação de retirada americana do aeroporto de Cabul sem interferência do grupo insurgente. O acordo foi firmado em um encontro cara a cara entre o general Frank McKenzie e líderes do Taleban em Doha, no Catar, no domingo (15).
As duas partes concordaram com um “mecanismo de deconflicção”, no qual a operação de retirada pode continuar sem interferência do novo governo. Ainda segundo o militar, ouvido sob condição de anonimato pela agência americana, McKenzie teria dito aos rebeldes que não interferissem na operação e que as Forças Armadas dos EUA usariam de força para defender o aeroporto, se fosse preciso.
De acordo com um repórter do canal de notícias afegão TOLOnews, três pessoas morreram após se esconderem em uma das rodas e na asa de um avião e caírem em telhados de casas. Vídeo publicado nas redes sociais pelo jornal The New York Times mostra a correria da multidão para chegar à pista do aeroporto e o momento em que um avião que se prepara para decolar fica cercado de pessoas tentando fugir do país.
O jornal americano The Wall Street Journal afirma que três pessoas foram mortas a tiros. A agência de notícias Reuters cita relatos de testemunhas de que cinco pessoas foram mortas, sem dizer se as vítimas foram atingidas por disparos de armas de fogo ou pisoteadas durante a confusão. As pessoas estão tentando deixar o país após o Taleban tomar a capital Cabul e voltar ao poder depois de 20 anos.
O presidente fugiu do Afeganistão e o palácio presidencial foi tomado no domingo (15). Os voos comerciais foram cancelados, e apenas viagens militares ocorrem no local. “Por favor, não venha para o aeroporto”, disse uma autoridade do aeroporto. Vídeos publicados nas redes sociais mostram várias pessoas tentando entrar em aeronaves que estavam prestes a deixar o Afeganistão.
O Ministério das Relações Exteriores cobrou nesta segunda-feira, 16, o envolvimento direto das Nações Unidas e de seu Conselho de Segurança para intermediação e garantia da segurança na crise gerada pelo retorno do Taleban ao poder no Afeganistão.
“O Brasil espera o rápido engajamento das Nações Unidas para o estabelecimento de canais de diálogo e espera que o Conselho de Segurança possa atuar para assegurar a paz na região”, afirma o Itamaraty. “É essencial assegurar a atuação plena da Missão de Assistência das Nações Unidas no Afeganistão (Unama).”
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, admitiu que o colapso no Afeganistão se deu antes do que o governo americano previa. “Eu sempre prometi ser direto com a população americana. A verdade é: o colapso se desdobrou antes do que antecipávamos”, disse em coletiva à imprensa.
Biden disse ainda que a missão da tropa americana foi cumprida, uma vez que nunca foi criar uma democracia centralizada no Afeganistão. “Nosso único interesse nacional vital no Afeganistão continua sendo o que sempre foi: prevenir um ataque terrorista em terras americanas”, disse. O presidente afirmou que os EUA lutarão pela diplomacia e pelo combate ao terrorismo.
A volta do Taleban ao poder no Afeganistão já alterou o modo de vida do povo afegão, especialmente das mulheres, que sentem com mais intensidade a realidade sombria que muitas delas pouco se lembram ou nem chegaram a conhecer.
Quando o grupo fundamentalista governou o país por cinco anos, entre 1996 e 2001, ficou proibida a educação de meninas e o trabalho feminino. Para sair de casa ou viajar, elas precisavam ser acompanhadas por um parente do sexo masculino, e aquelas que eram acusadas de adultério eram apedrejadas.