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▶ Há um ano, minhas manhãs de domingo, não eram mais as mesmas, pois não assistia mais com frequência o Programa Record em Revista, hábito que tive por muitos anos. Acabava em torno de 10 horas e, em seguida eu ligava para a Patrícia, para brincar e darmos grandes risadas. Ela era uma apresentadora fantástica e sabia vender os produtos como ninguém. “Venha ser feliz no Magazine Luiza, Med Clin é o melhor lugar para você fazer seu exame, olha este relógio, e assim vai…”, eu imitava e ela adorava. Riamos tanto, que até engasgávamos… Sua família comentava que ela ficava esperando a minha ligação. Colocava no jornal sobre os meus telefonemas. Era uma mãe, irmã, amiga para todas as horas. Ela me prestigiou muito e (espero) vice-versa. Fomos grandes amigos. Mas amigos mesmo!

▶ Sônia Menezes Pizzo, conhecida como a colunista Patrícia, morreu por volta de 1h30 da madrugada do último sábado no Hospital Regional de Franca. No dia 13 de agosto de 2020, sofreu um AVC, e apesar de sempre ter permanecido inconsciente, seu quadro se estabilizou e, em respeito à sua vontade, expressa em documento, foi morar numa clínica.

▶ Tinha 90 anos, mais de 60 deles dedicados à comunicação, especialmente ao jornal Comércio da Franca, onde publicou sua coluna por 35 anos, à rádio Difusora AM, à rede Record de TV e ao portal GCN. Teve passagens também pelo jornal Diário da Franca, pela TV Bandeirantes e pelas rádios Hertz, Imperador e União FM.

 

▶ Nasceu em 6 de janeiro de 1931 em uma casa de fundos na Rua Thomaz Gonzaga, Centro da Franca. Na década de 50, já casada com o contador Américo Pizzo e ainda ‘apenas’ a professora Sônia, foi convidada pelo então diretor do Comércio da Franca, o jornalista Alfredo Henrique Costa, para assumir uma coluna social no jornal. Com apoio do marido, aceitou o desafio. Surgia Patrícia e, com ela, um novo jeito de fazer colunismo.

▶ O começo foi difícil, marcado por preconceitos. “Sofri amargamente. Fui muito caluniada, desprezada”, disse em uma de suas entrevistas. Duas eram as principais razões da resistência que enfrentou. A primeira, sua origem humilde, que desagradava a elite francana da época. A segunda, o fato de ser mulher, lutando para forjar seu espaço numa sociedade profundamente machista.

▶ Persistente, corajosa e muito carismática, conquistou seu lugar e gravou seu nome na história da cidade.
Ela amou como ninguém sua terra natal. Lançou tendências, revolucionou o colunismo social e ajudou a consolidar muitas marcas, como Magazine Luiza, a Francal Feiras e a Unifran. Manteve uma relação que em muito transcendia o profissional. Era íntima de seus fundadores e diretores, convivia com eles proximamente e acompanhou o crescimento das empresas – e das famílias.

▶ Concebeu, desenvolveu, produziu e realizou, por décadas, a ‘Noite (Elegantes e Personalidades)’, considerada a maior festa do interior paulista por muitos anos. O evento atraía para a cidade personalidades do mundo político, empresarial e artístico de todo o país e era um de seus grandes orgulhos. Tenho mais de 20 estatuetas que ela me homenageou. Enfeitam meu escritório.
Suas festas de aniversário reuniam mais de 400 pessoas. (A foto que estou ao seu lado foi nos 89 anos). No seu discurso disse que era o último. E, foi mesmo!
Foi uma das fundadoras da Apae (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais) em Franca. A aproximação com a causa aconteceu depois de perder seu irmão, Artur, que era excepcional e viveu por mais de duas décadas numa cadeira de rodas.
Ao longo da vida, enfrentou também dores terríveis. Viu partir o pai, a mãe, o irmão, a irmã e o marido, Américo. Os golpes mais duros viriam em 2006 e 2011, anos quando morreram seus dois filhos. O primeiro a partir foi Américo Júnior. Cinco anos depois, morria Mauro Menezes Pizzo. Na Missa de Sétimo Dia do Mauro, foi ao púlpito, olhou para o altar e disse “Em nenhum momento questionei por que Deus levou as minhas joias mais valiosas”. Confortou a igreja que estava mais que lotada.

▶ Apesar da tristeza, nunca perdeu a fé. Profundamente religiosa, era devota de Nossa Senhora Aparecida, ou, como preferia dizer, “Nossa Senhora Aparecidinha”. Orava, durante pelo menos uma hora, de joelhos, todas as manhãs, e não perdia nenhuma ação da Igreja Católica em Franca, especialmente os eventos promovidos pelo padre José Geraldo Segantin, da Paróquia Santo Antônio, que cantava nos seus aniversários a música ‘Creio em Ti’.

▶ Viúva de Américo Pizzo desde 1985, casou-se em 1997 com o agricultor Cecílio Jorge, que está internado na mesma clínica que ela morou quase um ano. Em 2011, foi lançada sua biografia, “Querida”, um delicado e cuidadoso trabalho de pesquisa da escritora Lúcia Helena Maniglia Brigagão.

▶ Deixa quatro netos, bisnetos e uma imensidão de fãs, no qual serei eternamente o presidente deste fã clube da queridíssima Patrícia.

▶ Até um dia e obrigado por tudo.

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