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Nas andanças de Boulos pelo estado, passagem por RP

FOTOS: ALFREDO RISK

Nos últimos quatro anos, Guilherme Boulos ganhou des­taque no cenário politico por seu desempenho eleitoral. Pro­fessor, bacharel em filosofia, psi­canalista, escritor e político, ele disputou a presidência da Repú­blica pelo Psol em 2018, quando ficou em décimo lugar. Já nas eleições do ano passado, surpre­endeu na disputa pela Prefeitura de São Paulo. Foi para o segun­do turno vencendo nomes con­siderados tradicionais da polí­tica. Teve 2.168.109 votos, 32% dos votos na disputa com Bruno Covas (PSDB).

Agora, Boluos já começou as articulaçoes para disputar o car­go de governador de São Paulo nas eleições e 2022. Em visita a Ribeirão Preto ele falou sobre seus planos políticos e eleitorais e analisou os governos de João Dória (PSDB) e do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

 

Tribuna Ribeirão – Qual o ob­jetivo de suas vistias ao interior neste projeto Virada Paulista?
Guilherme Boulos – A Vira­da Paulista é um giro que estamos fazendo por todas as regiões do es­tado de São Paulo para conhecer a realidade de cada cidade e de cada região. Um mecanismo para po­dermos conversar com diferentes lideranças, movimentos sociais e a sociedade civil como um todo para formularmos conjuntamente um projeto para o estado de São Paulo. Natualmente ela tem a ver sim com a perspectiva de derrotar, nas próxi­mss eleições, essa hegemonia tucana no estado de São Paulo e construir­mos um projeto progressista. A re­jeição do governador João Dória é unanimidade e o desgaste com os tucanos também. As pesquisas têm demonstrado o espaço que existe hoje para o campo progressista e um exemplo disso, é que em várias delas estamos em primeiro lugar como pré- candidato ao Governo do Estado.

Tribuna Ribeirão – O paulista é tido como conservador na hora de votar. Em sua opinião isso está mudando?
Guilherme Boulos – Acredito que, de forma geral, o eleitor pau­lista está cansado com os 25 anos sem alternância no poder estadu­al. O eleitor quer novas propostas e um projeto de desenvolvimento econômico e social para o estado. Existe um preconceito em relação à esquerda e nossa intenção e que­brar este preconceito, conversando e apresentando o nosso projeto para São Paulo. Propostas que acredita­mos interessar a sociedade como um todo. O estado está se densin­dustrializando, patinando e não tem investido na inovação tecnológica. As instituições tecnológicas públi­cas estão sucateadas e é preciso mu­dar isso.

Tribuna Ribeirão – A que o se­nhor atribui o preconceito em re­lação à esquerda?
Guilherme Boulos – Uma das razões são as fakes news que lamen­tavelmente têm predominado no debate político e eleitoral nos últi­mos anos. A ideia que a esquerda quer destruir a família e não quer o desenvolvimento econoômico são mentirosas. Vamos conseguir eliminar esse preconceito conver­sando com a sociedade. Nas elei­ções do ano passado em São Paulo conseguimos furar essa bolha. É possivel conversar com quem pensa diferente da gente. Se ficarmos nes­te clima de intolerência, que hoje marca a política, o país não avança. Se o Bolsonaro ficar lá falando com seus convertidos, inventando farsas como a do voto impresso e a esquer­da ficar falando só com os seus, não conseguiremos sair desse atoleiro.

Tribuna Ribeirão – Nos últimos anos o senhor ganhou destaque político graças a seu desempenho eleitoral. Trabalhar para sair do atoleiro é um de seus desafios?
Guilherme Boulos – O fato de aparecermos em primeiro lugar como pré-candidato em várias pes­quisas de intenção de voto para as eleições ao governo do estado do ano que vem mostra que é possí­vel furar essas bolhas e que é viável dialogar com quem pensa diferente sem abrirmos mão de nossos ideais progressistas e tendo lado. O proje­to político que defendo é o de com­bate às desigualdades, o da criação de programas sociais e, isso é plena­mente compatível com o desenvol­vimento econômico.

Tribuna Ribeirão – O Brasil vive uma polarização muito gran­de. Como o senhor analisa esses extremos?
Guilherme Boulos – O Brasil é polarizado há quinhentos anos e essa polarização tem a ver com o abismo social existente. Um país rico, que é o maior exportador de alimento do mundo e que mes­mo assim tem dezenove milhões de pessoas passando fome. Não dá para imaginar que essa polarização e desigualdade não se experse na política. O que precisamos evitar é que ela descambe para a intolerân­cia e para a incapacidade de ou­vir o outro. Que não se perpetue a ideia de que quem pensa diferente de você deve ser exterminado. Essa cultura do ódio que o bolsonarismo imprimiu no país precisa ser supe­rada. Não podemos permitir que as eleições de 2022 sejam tão tóxicas com foram as de 2018.

Tribuna Ribeirão – O presiden­te Jair Bolsonaro é considerado um governante que gosta do con­fronto. Essa postura ameaça a de­mocracia brasileira?
Guilherme Boulos – Sem a me­nor dúvida a democracia brasileira já está sendo atacada e ameaçada. Quando um presidente da Repú­blica ataca o tempo todo, todos os outros poderes, criando instabilida­de e fazendo chacota do sofrimento das famílias de vítimas da covid-19, com certeza ele ameça a democra­cia. Não tenho a menor dúvida que o Boslonaro tem uma estratégia gol­pista e que esta estratégia golpista é alimentada pelo desespero dele. Vamos colocar as coisas da forma como elas são. O Brasil é o pior país na condução da pandemia com mais de quinhentos mil mortos. Tem mais de 5 milhões de desem­pregados e voltou ao mapa mundial da fome. A situação do país é catas­trófica por causa do Governo Bolso­naro. Como ele não tem o que dizer fica criando confronto. O que o Bol­sonaro deseja é construir um dis­curso para alimentar o ódio em seus opiadores. Se ele avança neste sen­tido e a sociedade não impõe uma linha vermelha, um ponto de limite, ele vai avançando. Mas para colocar esse limite é preciso a união de toda sociedade, das instituições demo­cráticas e não apenas da equerda.

 

Tribuna Ribeirão – Caso o se­nhor seja candidato e vença as elei­ções para o Governo do Estado, o que pretende fazer para combater a crise economica e social criada pela pandemia do coronavírus?
Guilherme Boulos – A gestão de João Dória na pandemia, ao con­tráriio da propaganda e do marke­ting que ele faz, foi muito ruim. Se analisarmos os números, eles com­provam isso e a proporção de mor­tos na pandemia no estado de São Paulo em relação ao resto do país é maior. O Dória não compartilhou o negacionismo do Bolsonaro e isso foi bom, mas ele também não criou mecanismos sociais para que a po­pulação mais pobre pudesse ficar em quanrentena. No estado de São Paulo a quarentena foi privi­légio para poucos. Se o pobre ficar em casa passará fome. O governo paulista não criou nenhum com­plemento para o Auxílio Emergen­cial Federal e isso é uma vergonha, pois somos o estado mais rico do país. Tem caixa e orçamento para isso. Também não criou crédito para os micros e pequenos co­merciantes e empresários e muitos acabaram falindo. Estados mais pobres do que São Paulo fizeram isso. Se for eleito vou iniciar um plano e retomada que passa pela criação de frentes de trabalho em obras que serão feitas e também em zeladoria. Também é preciso criar formas de renda básica para tirar as pessoas da pobreza extrema. Te­mos todas as condições de criar um sistema próprio de renda básica no Estado. Também temos que investir em tecnologia e inovação nas mais diferentes regiões paulistas.

Tribuna Ribeirão – Como aca­bar com a crença de que o Psol de­fende a invasão de propriedades?
Guilherme Boulos – O Psol é a legenda que mais cresceu no Brasil este ano. Temos 25 mil novos filia­dos, segundo o Tribunal Superior Eleitoral. Fomos ao segundo tur­no na eleição para prefeito de São Paulo e temos crescido no enraiza­mento social e popular. Somos uma esquerda renovada e para quebrar­mmos estes estigmas o mais impr­tante é o diálogo pemanente com a sociedade, a populaçao. Mas é preciso deixar claro que a extrema direita brasileira sempre vai criar fake news sobre nós. Vão continu­ar dizendo que invadimos casa e outras coisas do tipo. Fizeram isso comigo nas eleições para presii­dente da República e para prefei­to de São Paulo. O que os movi­mentos sociais fazem é identificar imóveis abandonados há vinte, trinta anos e que devem impostos muitas vezes superiror ao valor do próprio imóvel. Os movimentos sociais identificam essas áreas e cobram do poder público a desti­nação deles para moradias sociais.

Tribuna Ribeirão – O senhor acredita na formação de uma fren­te de partidos de esquerda para a disputa do governo de São Paulo?
Guilherme Boulos – A nos­sa proposta é construir sim, uma frente progressista nas eleições para o governo de São Paulo. Te­mos conversado com o PDT, o PCdoB, e com o próprio PT. O PSDB está há tanto tempo no go­verno paulista porque tem uma máquina clientelista que atua no período eleitoral. O Dória não faz uma política regional. Ele não sabe o que se passa aqui em Ribei­rão Preto e nem quer saber. O que ele faz quando o prefeito Duarte Nogueira ou um deputado da re­gião vai ao Palácio dos Bandeiran­tes, é negociar recurso para fazer uma obra qualquer na região e em troca garante votos para manter a reeleição do PSDB no poder. Eles têm uma máquina clientelista na relação com as prefeituras que tem feito eles permancerem no poder por tanto tempo.

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