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COVID-19 e a Saúde Mental (15): Medo na Colômbia, Equador, El Salvador, México, Paraguai, Argentina e Uruguai

Como já é do conhecimento de todos, ao longo de 2020 e 2021, todas as pessoas no mundo vem experenciando impactos negativos em sua saúde, vida familiar, trabalho e estabilidade financeira devido à pandemia da Covid-19. Especificamente, centenas de estudos vêm revelando que tal pandemia afetou substancialmente a saúde mental das pessoas, de modo generalizado, provocando medo, ansiedade, depressão, desordem de estresse pós-traumático e estresse psicológico, bem como, exacerbando as taxas de desigualdade econômica e aumentando os casos de suicídio. No que se refere ao medo, em particular, este é uma característica emocional comumente associada a pessoas acometidas por doenças infecciosas, associado a taxas de transmissão, morbidade e mortalidade, tendo, também, impacto negativo sobre a saúde física e mental das pessoas. Como consequência, o medo em ser acometi­do pela Covid-19 pode gerar pensamento irracional, estigmatização e exclusão social dos pacientes diagnosticados com a doença, bem como, aos familiares sobreviventes dos mesmos, que também vem a sofrer a possibilidade de exacerbar outros problemas de saúde.

Neste contexto, inúmeros pesquisadores têm mensurado, através de escalas apropriadas, o medo da população em ser contaminada pela Covid-19. Dentre as escalas utilizadas para tal, uma delas, a FCV-19S (Fear of COVID-19 Scale) foi traduzida em diferentes línguas, mostrando-se psicometrica­mente adequada em termos dos indicadores de validade e fidedignidade. Constituída de sete itens, com cinco categorias de resposta, variando entre 1=discorda fortemente a 5=concorda fortemente, traz como soma de seus escores uma pontuação total que varia de 7 a 35, onde o escore mais elevado expressa maior medo da Covid-19.

Utilizando tal escala, Caycho-Rodriguez, Moreta-Herrera et al. (Cros­s-cultural measurement invariance of the fear of Covid-19 scale in seven Latin American countries; Death Studies, 2021), realizaram um estudo visando avaliar a invariança, entre culturas, da mensuração da escala de medo da Covid-19 em sete países latino-a­mericanos, a saber: Colombia, Equador, El Salvador, Mexico, Paraguai, Argentina e Uruguai. Deste estudo parti­ciparam 2944 participantes, selecionados de uma amostragem não probabilística de conveniência, onde a maioria foram mulheres. A escala foi distribuída através da plataforma Google Forms, entre 12 de junho a 14 de setembro de 2020, tomando de 15 a 20 minutos para ser respondida. Adicionalmen­te, os participantes também foram requisitados a responderem dados sócio-demográficos, incluindo idade, sexo, estado civil, nível educacional, ocupação e tempo de exposição à informação sobre a Covid-19.

A análise dos dados, de forma bem sumariada, mostrou que a escala do medo da Covid-19 pôde ser decomposta por dois fatores, um deno­minado dimensão emocional e, outro, dimensão fisiológica, gerando uma escala composta por ambos, prevalecendo como tal na maioria dos países estudados. Como esperado, as médias da dimensão das reações emocionais foram significativamente diferente entre os países. Comparações posteriores mostraram diferenças muito pequenas ou negligenciáveis entre as médias da Colômbia, Equador, El Salvador, México e Paraguai. Por sua vez, Argentina e Uruguai tiveram nota­velmente médias inferiores na dimensão reações emocionais quando comparadas com as médias dos outros países participantes. Muito notadamente, o Uruguai teve diferenças moderadas ou maiores do que as dos outros países, exceto Argentina, que teve uma média levemente maior. Resultados similares foram encontrados considerando a di­mensão reações fisiológicas. Comparações posteriores mostraram, novamente, que Colômbia, Equador, El Salvador, México e Paraguai tiveram diferenças negligenciáveis, ou pequenas, quando comparados um com o outro, enquanto as médias de Argentina e Uruguai foram substancialmente menores, sendo esta última negligenciável.

Globalmente, os achados aqui sumariados indicam que a escala de medo FCV-19S foi um instrumento auto-aplicado, válido e fidedigno para mensurar o medo da Covid-19 em amostras deste grupo de sete países latino america­nos. Os resultados sugerem que dois fatores relacionados, a saber, emocional e fisiológico, ajustam-se apropriadamente em todos os países latino-americanos estudados, suportando a hipóteses de que o medo da Covid-19 é um construto multidimensional. Em outras palavras, as análises específicas sobre a invarian­ça da mensuração comprovam que a população geral na Colômbia, Equador, El Salvador, México, Paraguai, Argentina e Uruguai conceitualiza o medo da Covid-19 na mesma estrutura bidi­mensional: dimensão emocional e dimensão fisiológica.

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