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Temperatura mundial vai subir 1,5ºC até 2040

ALFREDO RISK

A Terra está esquentando mais rápido do que era previsto e se prepara para atingir 1,5ºC acima do nível pré-industrial entre 2030 e 2040, pelo menos dez anos antes do que era espe­rado. Com isso, haverá eventos climáticos extremos em mais frequência, como enchentes e ondas de calor. A mensagem foi dada na segunda-feira, 9 de agosto, pelo Painel Inter­governamental sobre o Clima (IPCC) da Organização das Nações Unidas.

O que se fará agora definirá o tamanho do impacto na vida de 7,6 bilhões de pessoas no pla­neta. Certo é que os efeitos do aquecimento virão. A redução sustentada nas emissões de dió­xido de carbono (CO2) e outros gases de efeito estufa, no entan­to, ainda pode limitar as amea­ças dessas mudanças climáticas. Caso contrário, alguns dos efei­tos diretos para países como o Brasil serão secas mais frequen­tes e a queda na capacidade de produção de alimentos.

Desde 1850, já avançamos ao menos 1,1ºC na média da temperatura global. Mais 0,4ºC de aumento vai produzir núme­ro maior de secas severas, ondas de calor, chuvas torrenciais, en­chentes, tornados, incêndios flo­restais e reforçar a tendência de aumento do nível do mar. To­dos esses efeitos já ocorrem em nível superior aos do passado.

A lista, no entanto, vai além e a frequência desses eventos extremos está diretamente li­gada ao quanto nós veremos a Terra esquentar neste século. Ou seja, ainda resta uma “ja­nela de oportunidade”, cada vez menor, para tentar limitar o aquecimento abaixo de 2º C até 2100, como definido no Acordo de Paris em 2015 (pac­to assinado por quase todos os países para conter o aqueci­mento do planeta).

Mas a postura negacionista de algumas autoridades – como o presidente brasileiro Jair Bol­sonaro e o ex-líder america­no Donald Trump – tem sido apontada por especialistas como um dos principais obstáculos. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse que o documento é um “alerta vermelho” para a humanidade.

O caminho seguro é um só: limitar o gás carbônico na at­mosfera, atingindo pelo menos zero líquido de emissões (sal­do das emissões descontada a absorção do carbono), junta­mente com grandes reduções em outras emissões de gases do efeito estufa. O Acordo de Paris prevê zerar emissões lí­quidas até 2050.

O motor do aquecimento está na queima de combustí­veis fósseis, como petróleo, gás e carvão mineral, por veículos a combustão e usinas termoelé­tricas, e a consequente produção de CO2. Mas não só: o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O), resultantes de atividades agro­pecuárias, compõem a trinca do efeito estufa. Some-se a isso a produção de aerossóis.

Os 234 cientistas de 66 paí­ses reunidos pelo IPCC produ­ziram um relatório com mais de 14 mil referências citadas, com um total de 517 contri­buições de outros autores. No documento, o Painel é taxati­vo. “É um fato estabelecido que a influência humana aqueceu o sistema climático e mudan­ças climáticas generalizadas e rápidas ocorreram”, diz.

A essas evidências científi­cas somam-se catástrofes cau­sadas por eventos extremos atuais, como a onda de calor no Hemisfério Norte com tem­peraturas recordes em países como o Canadá. Na Turquia, isso chegou a um nível de 8°C superiores à média e um forte incêndio atingiu as florestas do país. Na Alemanha, enchentes devastaram cidades.

Tudo isso em meio à pior crise sanitária dos últimos cem anos causada pela pan­demia de covid-19. Embora não seja objeto do relatório, diversas pesquisas também vêm apontando a relação en­tre desmatamento e alterações do equilíbrio ecológico com o surgimento de novas doenças. Danos ambientais, portanto, podem impor novas pande­mias à humanidade.

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