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Século sangrento

O século XX converteu-se na época mais sangrenta da huma­nidade. Poucos dos seus dias não foram convertidos em guerras, quando não em golpes de Estado com imposição de ditaduras. O mundo foi palco de duas grandes guerras, envolvendo uma e outra quase todos os grandes países. Após elas, testemunhamos a tal Guerra Fria, protagonizado pelos Estados Unidos e a União Soviética, durante a qual outras nações tiveram reduzidas suas soberanias. Inclusive o Brasil.

Muitos desses conflitos foram convertidos em cenários de horríveis crimes de guerra. Quase sempre os criminosos eram membros dos países derrotados. Nunca dos vencedores. Vale a pena não lançar esses fatos horríveis ao esquecimento.

Os crimes de guerra mais famosos eram configurados por nações que atacavam alvos civis, sejam por meio de ataques mili­tares, sejam pelo assassinato em campo de concentração.

Durante a Primeira Guerra Mundial as novidades foram o lançamento de gás nas trincheiras inimigas e o uso de aviões. A história registra que o brasileiro Santos Dumont encontrou sua morte quando soube que a o avião por ele descoberto estava sen­do usado como arma de guerra e consequentemente de morte.

No final da Segunda Grande Guerra os dirigentes da Alema­nha derrotada foram julgados e executados por crime de guerra pelo Tribunal Internacional instalado na cidade de Nuremberg. Alguns se mataram, outros foram mortos.

Mas os vencedores não foram perturbados. Os Estados Unidos, único país munido da bomba atômica, (experimentada no atol denominado Bikini), lançaram dois artefatos sobre alvos civis japoneses, as cidades de Hiroshima e Nagasaqui.

Os estrategistas americanos esclareceram que alvejaram alvos civis porque as tropas russas, após derrotar os alemães, estavam atacando a Coreia, na iminência de invadir o Japão. Os admi­nistradores americanos que lançaram as bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki jamais foram reconhecidos como autores de crimes de guerra.

No Brasil os comunistas rebelaram-se contra a ditadura de Getúlio Vargas. Foram derrotados. O seu chefe, Luís Carlos Peres e sua esposa, a alemã e judia, Olga Prestes, foram presos. Prestes permaneceu preso durante cerca de quase dez anos.

A sua esposa, Olga, nascida na Alemanha, então grávida, foi expulsa do Brasil por Getúlio Vargas com a autorização dos tri­bunais nacionais e internacionais. Ela, comunista, judia e grávida foi entregue às autoridades nazistas de Hitler, tendo sido imedia­tamente levada a uma câmara de gás e morta após o parto.

Ocorreu uma grande comoção internacional, quando então a filha de Olga, a criança Leocádia Prestes, foi entregue a sua avó e salva.

No Brasil, em 1950, Getúlio Vargas voltou a candidatar-se a Presidente da República. Luiz Carlos Peres, viúvo da Olga assas­sinada, espantosamente apoiou a candidatura de Getúlio Vargas. Pouco tempo depois também espantosamente Getúlio declarou guerra aos nazistas. Grande coerência!

Os historiadores, quando afirmam que o Século XX, foi o mais sangrento de toda a história da humanidade, com certeza, até hoje não foram desmentidos seja pelos atos governamentais, como pelos políticos. O século XX, realmente foi o mais san­grento. Os seus governantes consequentemente também.

Espera-se que o Século XXI e seus governantes, com dignida­de e grandeza, consigam trilhar caminhos muitos mais dignos do que aqueles escolhidos por seus antecessores. Há sempre possi­bilidade de aprender com os passos dados pela humanidade no passado. Quase sempre não.

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