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COVID-19 e a Saúde Mental (14): Regulação Emocional Cognitiva e Estresse no Equador

Devido à rápida disseminação da Covid-19, muitos governos viram-se obrigados a implementar medidas restritivas visando controlar a disseminação da mesma. Dentre as medidas mais impactantes, o distanciamen­to social posiciona-se em primeiro lugar, haja vista que o mesmo limita a habilidade de trabalho e reduz as oportunidades de interação social. Tal medida ganhou relevante significado já no início da pandemia em vários países e, particularmente, no Equador, cujo governo se viu obrigado a adotar um confinamento agressivo e total, que perdurou por vários meses. Em termos psicológicos, medidas como essa carregam, por si só, inúmeras reações psicológicas, afetivas, cognitivas, sociais, emocionais e motivacionais, além de limitar os suportes sociais que se tornam ausentes pelo fato de áreas de lazer, esporte e educacionais serem necessariamen­te fechadas para que as pessoas possam enfrentar as consequências da pandemia. Emergem, assim, ao longo da efervescência da pandemia da Covid-19 um fenômeno estritamente relacionado à regulação individu­al das emoções. De fato, regulação inadequada das emoções tem sido relacionada à presença de alterações de ânimo e humor, bem como, de desordens de ansiedade, mudança da saúde mental em geral, além de impactar o bem-estar subjetivo.

Considerando esse cenário psicológico, Jose A. Rodas e equipe (Data in Brief, 37: 2021) coletaram dados e interpretaram-nos durante o 1º lockdown ocorrido no Equador, de março a junho de 2020, numa mostra de 600 participantes, de 18 a 75 anos de idade, com o propósito de avaliar o estresse psicológico, as estratégias de regulação emocional-cognitiva, os hobbies, os suportes sociais, as buscas de informação relacionadas à Covid-19, bem como, o risco de infecção percebido, as características domésticas e demográficas dos mesmos. Quatro questionários foram aplicados aos participantes de 60 diferentes vilas e cidades equatorianas. Um questionário geral cobria informações demográficas, os hobbies durante o confinamento, história média e psiquiátrica, as características residenciais em que os habitantes residiram no período, as fontes da mídia aces­sadas para busca de informação sobre a Covid-19, tais como rádio e tv, o número de vezes que os participantes cobraram informação sobre a Covid-19, a confiança da informa­ção fornecida pelo governo, bem como, o quão apropriadas eram as medidas e o confinamento adotados pelo governo e as preocu­pações que eles tinham em relação ao período de confinamento.

O Questionário de Regulação Emocional foi avaliado usando uma versão espanhola de 27 itens do Questionário de Regulação Emocional Cognitiva que avaliava 9 diferentes estratégias de re­gulação emocional baseando-se, fundamentalmente, no compo­nente cognitivo. Os participantes foram requeridos estimar cada item numa categoria de resposta variando de 1=nunca ocorria a 5=ocorria sempre. Quanto mais elevado o escore, mais elevado era o uso de uma estratégia em particular. O Inventário de Traços de Ansiedade consistiu de duas subescalas: a Escala de Estado de Ansiedade, mensuran­do uma experiência transitória de ansiedade, e uma Escala de Traço de Ansiedade, mensurando ansiedade como uma característica mais estável da pessoa. Cada escala incluía 20 itens descrevendo diferentes sintomas de ansiedade e os participantes avaliavam como experenciavam tais sintomas numa escala de 4 pontos va­riando de 0 a 3. Altos escores representavam altos níveis de ansiedade. A Escala de Depressão consistia de 20 itens cobrindo diferentes sintomas de depressão. Nela, os participantes estimavam numa escala de 4 pontos, variando de 0 a 3, o quanto eles experenciavam cada um desses sintomas durante a semana anterior. Quanto mais alto o valor escalar, mais elevado os níveis de depressão.

Fazendo inúmeras análises, os autores foram hábeis em demonstrar que a regulação da emoção desempe­nhou um papel primordial na experiência dos sintomas de ansiedade e depressão durante os primeiros meses da pandemia quando medidas de confinamento restritivo e severo foram tomadas e as respostas públicas foram marcadas por emoções negativas. De fato, o escore médio de depressão obtido na amostra equatoriana situou-se bem acima do nível recomendado de 16, que poderia, então, indicar, casos de depressão. Na verdade, 50% dos participantes equatorianos obtiveram um escore de 17 ou mais elevado na escala indicando depres­são. Esse escore revela, em alguma extensão, o impacto emocional que o confinamento e a pandemia tiveram na população durante os primeiros meses.

Um modelo global usado pelos autores foi capaz de prever que 38% da variabilidade na depressão, e incluídas as estratégias de efeito emocio­nal e da idade, foram capazes de explicar a grande proporção de sintomas depressivos da população equatoriana. Importante destacar, também, que foram encontradas diferenças significativas no uso das estratégias de regulação emocional e na experiência de ansiedade e depressão entre homens e mulheres, com mulheres experenciando níveis mais elevados tanto de ansiedade quanto de depressão. Ao final de tal estudo e análise, os autores recomendam que os dados obtidos podem servir de base para futuras intervenções focalizando es­tratégias de enfrentamento de eventos altamente estressantes na população em geral, dando particular atenção aos cenários de confinamento mais agressivos e persistentes.

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