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Nelson Cavaquinho

Já escrevi muito sobre Nelson Antônio da Silva, que por não separá-lo de seu cavaquinho? tascaram-lhe o apelido unindo o nome ao pequeno instrumento, e então surgiu no pedaço Nelson Cavaquinho. Nunca é demais comentar sobre as peripécias deste saudoso compositor.

Nelson morava na Gávea, Rio de Janeiro, filho do seu Brás Antônio da Silva, músico da Banda da Polícia Militar. Seu tio Elvino tocava violino. Resumindo, ele tinha música nas veias. Ainda ado­lescente começou a frequentar rodas de choro, seu cavaquinho era bem-vindo por todo canto, tinha passagem livre em todos os morros, mas se apaixonou pela Mangueira, onde ficava o “Buraco quente”, um barracão onde sambistas se reuniam pra mostrar seus sambas.

Com 20 anos, ele se casou e teve quatro filhos. Seu pai pensan­do em lhe passar responsabilidades, mexeu os pauzinhos e Nelson virou policial, entrou na Cavalaria, e de repente lá estava ele fardado montado em seu cavalo, patrulhando as favelas cariocas, sempre com o revólver de um lado e seu cavaquinho do outro.

Naquela época, nos morros haviam pequenos comércios chamados de vendinhas e ali o samba comia solto. Nelson e seu cavalo eram bem quistos por todos os morros e quando chegava era aquele salseiro. Sacava seu cavaquinho, amarrava seu cavalo e dá-lhe samba. Nelson bebia bem e havia noites em chegava no quartel dormindo em cima de seu parceiro. Uma madrugada, quase amanhecendo, seu cavalo soltou as amarras e saiu galo­pando pro quartel, abandonando seu parceiro na boemia. Foi a gota d’água: Nelson foi desligado da Cavalaria.

Escrever sobre compositores das antigas é gratificante, eles tem histórias interessantes pra botar no papel. De Nelson sei inúmeras, canto dele três sambas que pra mim são irretocáveis: “A flor e o espinho”, dele com Guilherme de Brito, “Juízo final” e “Folhas secas”, melodias e letras marcantes.

Guilherme de Brito contou numa reportagem que, na mocidade, namorava uma moça em Niterói, e certa noite ela disse não querer mais nada com ele. Guilherme voltou pro Rio de Janeiro, naquele tempo era de balsa e no trajeto compôs a primeira parte do maravilhoso samba “A flor e o espinho”, retratando seu momento de dor de cotovelo.

Queria que Nelson fizesse a segunda parte da letra e da músi­ca. Assim que a barca ancorou, foi direto pro Café Nice, ele não estava lá, procurou-o por todos os bares que Nelson frequentava e nada. Porém, quando aconteceu o encontro, o iluminado Nel­son lapidou a pérola com música e letra.

Nelson era cheio de sambarilove, vivia aprontando com todo mundo, mas tinha um carisma admirável. Ninguém guardava mágoa, o próprio Cartola tinha um pé atrás com ele, que vivia vendendo suas músicas. Cartola evitava compor em parceria com Nelson, mas um dia aconteceu e tornaram-se parceiros, fizeram um lindo samba juntos. Certa noite no “Buraco quente”, Cartola estava presente, pois compositores estavam cantando suas músicas, de repente um sambista entrou na parada e falou: “Vou cantar meu mais novo samba”.

E mandou ver, Cartola ouviu o samba todinho e comentou com sua esposa: “Zica, este samba é meu em parceria com o Nelson e o sujeito está dizendo ser dele”. Muito revoltado, Cartola foi embora torcendo pra encontrar seu parceiro. Um belo dia deu de cara com ele e logo o enquadrou… “Pois é Nelson, fui no ‘Buraco quente’, um sujeito cantou nosso samba e todo pomposo disse ser ele o autor, foi muito aplaudido e coisa e tal. Como é que você explica isso?” O velho compositor sem perder o tom, devolveu: “Escute aqui, ô Cartola, eu estava necessitado e vendi a minha parte, agora você vai lá e cobra do cara a sua”.

Sexta conto mais.

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