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Borba Gato

Em 380 d.C, o imperador Teodósio I reconheceu o Cristia­nismo como religião oficial do Império Romano e houve uma destruição generalizada de obras, documentos e esculturas do paganismo, destruindo parte da história do Homem. Sobrevi­veram algumas estátuas com o nariz quebrado, pois os cristãos achavam que arrancando este órgão sensorial tirava-se o poder do deus ou semideus que a escultura representava. Nos anos 1930, o Partido Nazista, na sua sanha contra os judeus e os que contrariavam seus princípios, queimou em praça pública biblio­tecas e obras consideradas contrárias ao regime.

Recentemente, o Estado Islâmico destruiu importantes obras na cidade e região de Palmira, na tentativa de suprimir testemu­nhas da arte degenerada, como chamavam. No mês de julho de 2021, um bando de vândalos ateou fogo à estatua do bandeirante Borba Gato, em São Paulo, sob alegação de que o mesmo era ca­çador e perseguidor de indígenas, perpetrando assim o papel de não respeitador dos direitos humanos. Este ato trouxe ao Brasil os reflexos de movimentos ocorridos em outros continentes, que pregam a destruição de estátuas e monumentos de pessoas que no passado não primaram por respeitar o próximo.

Independente de julgarmos as atitudes dos homenageados, cabe a pergunta: é válida esta política de terra arrasada, eli­minando testemunhas de nosso passado? Temos o direito de erradicar os fatos de nossa história? Parece-me que é prática a ser combatida com todo rigor. Todos os países têm um passado, uma história que não podem ser apagados, pois foi sobre este passado e esta história que construímos nosso presente e erigire­mos nosso futuro.
Analisando a vida das nações, verificamos que há momentos de glória e momentos que gostaríamos de esque­cer, mas são momentos que já passaram e com os quais temos de conviver. Tentar destruir os símbolos deste passado me parece atitude infantil e pouco inteligente.

Todos os povos necessitam de seus heróis, sejam eles verdadeiros ou construídos. Por isto, erigem estátuas e monumentos espalhados por seus territórios, lembrando a participação do homenageado na construção de parte de sua história. São frutos da necessidade de re­lembrar feitos que marcaram determinado período da existência da nação. Precisamos respeitar a vontade dos cidadãos de cada época.

Quando, anos depois, a história é melhor estudada, os fatos são mais conhecidos pode ocorrer a constatação de que, talvez, a homenagem não deveria ter sido feita. Ocorre que este julga­mento está usando o entendimento do presente para analisar o passado. Este é um grande erro no qual não podemos incidir. O passado deve ser analisado com os olhos do momento em que ele ocorreu. É preciso reconhecer os acertos e os erros cometidos como fonte de orientação para nosso presente, pois se formos eliminar da história manifestações feitas, corremos o risco de apagar parte desta mesma história.

Os bandeirantes foram muito importantes para o estabeleci­mento de nosso território. Podemos afirmar que, sem a intrepi­dez e a valentia dos mesmos desbravando os sertões brasileiros, nosso país seria uma língua oceânica estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas.
Foram eles que, penetrando no desconhecido íntimo de nosso território, traçaram os contornos do Brasil atual. Sabemos hoje que, neste processo, cometeram violências, mas, para a realidade da época, numa colônia ora esquecida, ora pilhada pelo Reino, esta era a realidade.
Como fazer? Entendo que as estátuas e monumentos devem ser intocados, porém a história real contada a todos. Devemos olhar para elas como representantes das virtudes e dos defeitos do homenageado, sem esquecer de elas são a vontade dos cida­dãos em determinado período de nossa história.

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