Barracão de Cima foi o primeiro nome do Ipiranga. Assim como Barracão de Baixo foi o primeiro nome dos Campos Elíseos. Essas denominações se explicam pela proximidade dos dois bairros em relação à Estação do Barracão, ainda hoje existente no início da Av. Dom Pedro I. Com a ligação ferroviária até o litoral, a partir de 1883, estava aberta a porta de entrada para os europeus que acorreram em massa às fazendas do Oeste Paulista. Dessa forma, nessa estação da Cia. Mogiana de Estrada de Ferro, é que desembarcavam os imigrantes europeus que chegavam para trabalhar como colonos nos cafezais da região.
E por que deram o nome de Barracão a esta estação? Com certeza, porque existia ao lado dela um grande barracão coberto de telhas redondas de barro, com piso de terra batida. Devia se localizar onde temos hoje a Escola Municipal Alfeu Gasparini. Ali permaneciam os imigrantes e suas famílias, aguardando a chegada dos capatazes que os levariam em grandes carroções para as fazendas. Júlio Chiavenato descreve com detalhes a vida destes trabalhadores no seu livro “Coronéis e Carcamanos”. Vários autores já compararam o tratamento dado aos imigrantes ao de semi-escravos. Já existe muita literatura a respeito.
Mas como se formou o Barracão de Cima? As primeiras quadras com suas primeiras casas seguindo a Av. Dom Pedro I e ruas transversais se originaram de um Núcleo Colonial chamado Senador Antônio Prado. Ele foi criado pelo governo do Império e inaugurado em 3/6/1887, em terras que o Ministério da Fazenda confiscou do Tenente-Coronel Gabriel Garcia de Figueiredo. Este núcleo tinha 589 alqueires e incluía a área que corresponde hoje a vários bairros além do Ipiranga, como Campos Elíseos, Sumarezinho, Jardim Mosteiro, Jardim Paulista, Vila Carvalho e vários outros vizinhos.
Nesse sentido, este foi o primeiro grande projeto de expansão urbana na antiga Vila de São Sebastião do Ribeirão Preto, estudado pela arquiteta Valéria Valadão na sua dissertação de mestrado na UNESP em 1997. Valadão afirma que o núcleo tinha uma área urbana que corresponderia hoje aos quarteirões adjacentes à Avenida Dom Pedro I, com moradias e algum pequeno comércio. Seu perímetro se localizava entre as ruas General Câmara, Acre, Santa Catarina e o leito da ferrovia. Já o restante era a sua área rural, constituída de sítios e chácaras que produziam alimentos para a população local e para alguma exportação pela ferrovia.
Os lotes podiam ser adquiridos por 1.250 francos. Ao final do seu primeiro ano de existência, o núcleo contava com 111 colonos, sendo que a maioria era de imigrantes italianos. Havia 161 lotes demarcados, 78 já medidos e 23 distribuídos. No segundo ano, havia 239 lotes com 227 habitantes. Os lotes rurais mediam de 10 a 12 hectares e os urbanos mediam 2,5 hectares. Vale destacar também o importantíssimo trabalho da arquiteta Adriana Capretz Borges da Silva, “Campos Elíseos e Ipiranga, memórias do antigo Barracão”. Esta obra foi publicada em 2006 e que nos passa informações preciosas sobre a formação desses dois bairros.
Documento de grande valor são os registros de quitação daqueles lotes, feitos pela Secretaria de Estado e Negócios da Agricultura e Obras Públicas de São Paulo, a partir de 1892 e que se encontram no Arquivo Público do Estado de São Paulo. No nosso livro “Ribeirão Preto Revisitada”, a partir da pesquisa daquele documento, listamos os proprietários dos lotes da área do Ipiranga naquele ano. Podemos considerá-los os fundadores desse bairro. Muitos de seus descendentes estão entre nós, podem ser reconhecidos pelos seus sobrenomes, quase todos italianos.
A título de ilustração, damos aqui a relação dos primeiros proprietários que compraram seus lotes na Avenida Dom Pedro I. Subindo a avenida, pelo lado direito: Bertolotti Giuseppi, Antonio Poggi, José Battisteoh, Stephanelli Giacomo, Salvatore Malagali, Geraldo Luigi e Luigi Gianini. Subindo do lado esquerdo: Attílio Gianini, Collusci Giuseppi, De Bonis Vicente, Luigi Gelben, Constantino Fazzolini e Ercole Moroni. A alteração do nome Barracão para Ipiranga foi feita através de uma consulta à população no início dos anos 60, no primeiro governo Gasparini, mas essas são outras histórias que retomaremos em outra oportunidade.