O grupo instrumental ribeirão-pretano Pó de Café lança nesta sexta-feira, 18 de junho, o terceiro single de 2021, “Tantas mães”, apresentando várias surpresas. É a primeira vez em doze anos de carreira que o grupo grava uma canção com letra.
A música é uma parceria entre o trumpetista Rubinho Antunes e o poeta e produtor Eduardo Brechó, que ajudou a produzir o novo álbum da banda e cedeu a canção inédita para a gravação. E mais: os vocais ficam a cargo da cantora Maria Rita, que dispensa apresentações.
“Tantas mães” é uma balada com referências ao feminino e ao universo cultural afro, desde os ritmos e toques que a acompanham até sua letra, que enaltece o acolhimento materno da deusa das águas Iemanjá. Brechó diz que fez a música depois de tomar “uma chuva imensa” e chegar a sentir a presença de um raio.
“Ainda acredito que algo do raio me acertou. Algum tempo depois, quando fiquei sabendo da gravação do Pó de Café, corri pra terminar a letra. Fiz a referência a Abeokuta, cidade natal de Iemanjá, saudando a mãe de todos os peixes, como uma homenagem à maternidade de geral”, conta Brechó, que também divide o crédito de arranjador da música com Rubinho.
A temática de “Tantas mães” agradou a cantora Maria Rita, que também gostou do arranjo e aceitou o convite de gravá-la com o Pó de Café. “Quando o Brechó me mostrou a música, me arrebatou pela mensagem, pela poesia, pela melodia desafiadora”.
A cantora participou do processo criativo também, ouvindo a canção desde o nascimento, ao violão, a escrita da letra, até a decisão do tom e do formato da canção, já em estúdio, com a banda. “Isso gerou um carinho, de minha parte, pela música. Foi como se eu a tivesse gerado, de certa forma”, diz.
“Por isso ela é maior do que se poderia explicar racionalmente, e eu entendo que o caminho da música é esse – “Música” com “M” maiúsculo, neste caso em especial”, explica. A música já está em todas as plataformas digitais gratuitamente. Basta acessar https://tratore.ffm.to/tantasmaes e, automati-camente, ficará disponível em seu player preferido e poderá ser ouvida a partir da data do lançamento. “Tantas mães” faz parte do novo disco do grupo, “Interior”, gravado em março deste ano e que deve ser lançado completo até o final mês de junho.
Pó de Café e o novo disco
Formado por Rubinho Antunes (trumpete), Marcelo Toledo (sax), Murilo Barbosa (piano), Bruno Barbosa (baixo), Duda Lazarini (bateria) e Neto Braz (percussão), o Pó de Café gravou esse novo trabalho durante o mês de março de 2021, seguindo rígidos protocolos sanitários.
Todos usaram máscaras e mantiveram distanciamento social e com apenas duas pessoas além da formação: o técnico Thiago Monteiro, que já gravou todos os trabalhos anteriores do grupo, e o produtor musical Eduardo Brechó, novo parceiro escolhido para colaborar na direção artística.
O novo disco é mais um passo adiante na constante evolução sonora do grupo. Apesar de seguir o caminho estético já bem estabelecido desde o disco “Amérika” (2016), com a fusão de elementos brasileiros, afrocaribenhos e jazzísticos, a nova obra traz pitadas de sonoridades mais elétricas, mais bem organizadas como a soul music.
“Desde a escolha dos timbres, o tipo de captação e mixagem, até a própria estrutura das composições, mais voltadas a grooves, fomos levando as músicas para uma concepção mais direta, enxuta, ainda que carregada das linhas de baixo e levadas percussivas que sempre caracterizaram nosso som”, destaca Bruno Barbosa, baixista do grupo.
Sobre o Pó de Café
O grupo começou como um encontro informal de músicos profissionais de Ribeirão Preto que tinham a intenção de explorar a musicalidade do jazz e da música instrumental. Com sucesso do evento cultural “Jazz na Coisa”, que teve mais de 70 edições em parceria com o Espaço a Coisa entre 2010 e 2012, surtiu o impulso para gravar o primeiro disco: “Pó de Café”, em 2013, reuniu as composições de alguns dos músicos convidados que passaram pelas noites do “Jazz na Coisa”.
O show de lançamento do disco “Amérika” percorreu várias cidades do interior de São Paulo, participou do festival Sesc Jazz & Blues, fez parte da programação oficial da Semana Internacional de Música (SIM) de São Paulo, em dezembro de 2015 e recebeu convite para seu primeiro festival internacional, o Jazz à laCalle, na cidade de Mercedes (Uruguai), em janeiro de 2017.
E foi em 2017 que o grupo novamente entrou em estúdio para registrar um terceiro disco, novamente buscando um conceito sonoro que norteasse a produção e resultasse em um jazz brasileiro com uma cara diferente. Partindo da ideia de homenagear as raízes do grupo ribeirão-pretano, o grupo pesquisou a temática da música “caipira” e a traduziu numa linguagem jazzística moderna.
O resultado foi surpreendente, e o disco teve ótima repercussão no meio especializado. Da Folha de S. Paulo, o veterano Carlos Calado incluiu “Terra” entre os 50 melhores discos de 2017. Em 2019, o grupo Pó de Café fez uma espécie de retorno ao jazz tradicional – afinal, a admiração pelo jazz norte americano foi o elemento que uniu os quatro músicos originalmente – e homenageou os 60 anos do disco “Kindof blue”, do genial bandleader Miles Davis.