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Imunidade de rebanho como estratégia para o genocídio

Simplesmente estarrecedor! O que agora vem à tona sobre a tal imunidade de rebanho como estratégia para enfrentar a disseminação do coronavirus no Brasil é de deixar a todos horrorizados. As revelações, em um primeiro momento, apareceram na própria CPI da Pandemia através de vários depoimentos. Mas, na última semana, foi enviado à Comissão um estudo elaborado no âmbito da pesquisa “Mapeamento e Análise das normas jurídicas de resposta à Covid-19 no Brasil” do Centro de Estudos e Pesquisas de Direito Sanitário da Faculdade de Saúde Pública (CEPEDISA) da USP. Ao lermos este documento de 200 páginas, não chegamos a outra conclusão a não ser de que o genocídio foi planejado! Todos nós fomos tratados como gado sendo levado ao batedouro.

O conceito de “imunidade de rebanho” surgiu na literatura médica com a própria vacinação. Quando uma grande parte da população está vacinada contra um vírus, o número total de pessoas suscetíveis cai tanto que ele não consegue mais encontrar hospedeiros e a circulação da doença é interrom­pida. Quando a atual pandemia começou, no início de 2020, e não havia vacinas disponíveis, foi levantada a hipótese de que seria possível atingir essa imunidade de rebanho sem vacinas, a partir do momento em que um gran­de número de pessoas contraísse o vírus. A teoria tinha como pressuposto que, quem se contaminou uma vez, ficava imune a uma segunda contami­nação, pois já teria anticorpos contra o vírus.

Um grupo minoritário de cientistas chegou a defender essa estratégia que foi rapidamente abandonada por diversas evidências. Não se sabe até quanto tempo uma pessoa continua imune após a recuperação. Já foram comprovados vários casos de reinfecção. Não há garantia absoluta de imunidade contra novas variantes e um número enorme de infecções — e de mortes — explodiria antes dessa imunidade de rebanho ser atingida sem a vacina. É o que está exatamente acontecendo agora. Mas Bolsonaro e seu governo abraçaram essa teoria da imunidade sem vacina como verdade inabalável. Ele disse diversas vezes que “a contaminação da maioria da popu­lação era inevitável e que ajudaria a não proliferar a doença”.

A CPI escolheu justamente esta linha de investigação: se o presidente, intencionalmente, elegeu essa estratégia que levou a este verdadeiro geno­cídio que ora assistimos. O primeiro a levantar a suspeita foi o ex-ministro Mandetta, que afirmou: “A impressão que eu tenho é que era alguma coisa nesse sentido [de buscar a imunidade de rebanho], o principal convencimen­to”. O deputado Humberto Costa, médico e membro da CPI, afirmou à BBC News Brasil: “Bolsonaro adotou a ideia de que a melhor maneira de enfrentar a pandemia era permitir o contágio mais amplo e mais rápido possível, na expectativa de que isso pudesse gerar uma imunidade natural”.

As conclusões da CEPEDISA são irrefutáveis. Transcrevo-as aqui: “Em síntese, o presente estudo permite concluir, com vasto respaldo documental, que a partir de abril de 2020, o governo federal passou a promover a ‘imunidade de rebanho’ por contágio como meio de resposta à pandemia. Ou seja, optou por favorecer a livre circulação do novo coronavírus, sob o pretexto de que a infecção naturalmente induziria à imunidade dos indivíduos, e a redução da atividade econômica causaria prejuízo maior do que as mortes e sequelas causadas pela doença. Tal opção concretiza-se, para além das declarações, nos atos normativos e de governo.”

E continua: “A incitação ao contágio tem como principais pilares a disse­minação da falsa crença de que existe um tratamento precoce para a doença e o constante estímulo ao desrespeito massivo de medidas sanitárias básicas como o distanciamento físico e o uso de máscaras, agravadas pela também recorrente banalização do sofrimento e da morte, além da desqualificação dos indivíduos que, com razão, temem a doença.” Cabe à CPI se municiar de provas, testemunhos e documentos para levar os réus aos tribunais. Quase meio milhão de mortos não pode ficar impune. Trata-se de um genocídio planejado, calculado e tomado como opção de política pública. É a nossa cidadania e a nossa dignidade que gritam por justiça!

Se você quiser ter acesso ao documento completo da CEPEDISA, deixo aqui o link: https://cepedisa.org.br/wp-content/uploads/2021/06/CEPEDISA-USP-Linha-do-Tempo-Maio-2021_v2.pdf

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